Aos poucos fui
recobrando a consciência.
Sons iam e vinham, preenchendo minha
mente, parecendo penetrar por todos os lados.
Estava deitado de
bruços, com a cara enterrada numa poça de lama. Ergui-me com certa
dificuldade e a cena que vi era grotesca.
Meu avião, ou o que
restava dele, estava mais adiante, com a cauda ao vento, apontada
para o céu.
O céu, por sua vez,
estava marrom alaranjado e apesar de saber que era dia ainda não
encontrei o sol em ponto algum.
As bombas dos aviões
que permaneciam em combate continuavam a cair em todos os lugares com
seu barulho ensurdecedor e sua nuvem negra de destruição.
Fiquei
ali sentado por algum tempo, ainda desnorteado com tudo o que se
passava em minha volta sem, porém, sentir dor ou medo.
Soldados alemães iam e
vinham aos gritos e pareciam não me ver, era como se eu não
estivesse ali. Outros tantos, pareciam, como eu, perdidos ou mesmo
abobados.
Levantei-me e pus-me a caminhar, disposto a sair dali. A
esta altura já sabia não mais pertencer ao mundo material, porque
ao passar pelos restos do meu avião vi meu corpo ainda lá dentro,
metralhado e mutilado pela queda.
"Devo ter morrido
instantaneamente", pensei.
Aí é que me dei conta
da ironia da situação. Eu havia morrido de repente e estava ali
parado, indiferente a aquele inferno. Nunca mais veria ninguém a
quem amava e nem poderia avisar a meus pais e a minha noiva.
Simplesmente fui abatido e morri em pleno vôo e não tinha a mínima
consciência de como cheguei ao chão sem ver nem sentir nada.
Agradeci a Deus por isto e segui caminhando.
Tropecei em alguma
coisa na escura confusão da batalha e caí de quatro. Virei-me para
ver o que me derrubara e meus olhos fixaram-se no olhar de um jovem
soldado alemão, que jazia preso ao corpo ensangüentado.
Ele pôde
me ver claramente, embora ainda estivesse vivo e preso ao corpo, qual
casulo inútil que não mais o levaria a lugar algum.
Vi em seu olhar o pavor
e o sofrimento intenso, mas nada pude fazer por ele naquele momento e
segui meu caminho, por um momento sentindo grande satisfação pelo
meu desenlace ter sido tão diferente do daquele infeliz.
Estremeci
só de pensar quanto tempo ele ainda teria que ficar preso ao corpo
naquela situação.
Caminhei dias a fio sem
comer e sem dormir e fiquei surpreso em não sentir fome ou cansaço.
Passei por muitos homens e mulheres vivos e mortos, alguns ainda
presos ao corpo, outros relutantes em abandoná-lo, como a querer
voltar à vida física.
Acabei encontrando
ajuda depois de orar e pedir perdão por meus erros.
Assusta-me,
porém, saber que para muitos a batalha que me tirou a vida ainda não
acabou.
Basta retornar aos campos de determinadas áreas da Alemanha
e espectros de pobres soldados ainda podem ser facilmente encontrados
em combate, enclausurados num mundo plasmado por sua própria mente
doentia, aprisionados no passado.
Mesmo nós, espíritos
de luz, temos dificuldade em penetrar neste mundo surreal para
oferecer ajuda.
Tudo o que podemos fazer é entrar em cena e esperar
que nosso irmão soldado nos veja, compreenda quem somos e aceite
sinceramente o nosso auxílio.
Todos os dias
percorremos estes campos de batalha imaginários e esperamos, orando
e pedindo as bênçãos de Deus.
Como vêem pela minha
narrativa, a 2ª guerra ainda não acabou para muitos desencarnados.
É o preço de de um doutrina imposta desde a mais tenra infância,
uma crença onde impera a supremacia racial, o desprezo pelo ser
humano com aparência diferente, a ausência da caridade e dos
ensinamentos do Cristo.
Peço, pois, a todos os
que lerem esta mensagem, que, na medida do possível, incluam em suas
orações os soldados alemães perdidos.
Isto ajudará a intensificar
as nossa vibrações e acelerará o processo de resgate e de
encerramento deste doloroso e estúpido processo de guerra.
Mas,
mesmo com toda a ajuda que pudermos receber, ainda dependemos
basicamente de uma só atitude que deve partir dos soldados
infelizes: aceitar a ajuda que esta sendo oferecida.
O resto fica por nossa
conta, que, como o Cristo que nos guia, temos prazer em servir, mesmo
a aqueles que no passado tentaram roubar a nossa terra e tiraram as
nossas vidas.
Obrigado por esta
oportunidade e rezem por nós!
John M.
(Psicografado por:
Cleber P. Campos)
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