"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

07 outubro 2012

Saudade de Deus



Não sou filósofa, nem sequer estudiosa, sou só curiosa, mas sou platônica e portanto sou nostálgica.

Tenho saudade de Deus.

Existe uma idéia apaziguadora, talvez romântica, talvez mística que me explica anseios, intuições e empirismos: nos recordamos de Deus, por isso, naturalmente, nos voltamos para o Belo e Bem, num impulso atávico.

Queremos voltar para de onde saímos.

Para Platão, a alma imortal em sua vida pré terrena contemplou Deus, portanto ficou nela uma reminiscência, um conhecimento daquilo que existe desde sempre, uma afinidade originária.

Lembramos de Deus, sem saber, sem conhecer.

Lembramos de Deus porque de alguma forma estamos impregnados dele.

Não quero dar uma conotação religiosa pois o Deus do qual lembramos não mora em templos nem é filiado a religiões.

Lembramos de Deus sem rezar, sem intermediários, sem revelações.

Somos essencialmente bons.
Queremos a verdade.
Buscamos a harmonia.
Amamos.
Procuramos a felicidade.
Sonhamos com a imortalidade.

Vivemos em busca de um sentido maior para nossa existência talvez porque no fundo a gente se lembre de “uma estado ou forma de existência que deixamos de ter”.

Talvez porque um dia vislumbramos Deus e conhecemos a plenitude é que nos inclinamos na direção do Bem.

É como ter um fio condutor invisível que seguimos por intuição. É como ter uma canção cósmica que nos guia e identifica; uma memória fluida e atemporal impressa na pele da alma que nos lembra o que não sabemos que sabemos.

Pode ser um pensamento infantil, que não resista às mais básicas considerações da ciência e da teologia.
Não me importa.

Gosto de pensar que existe Deus no DNA da minha alma.

Que de todas as sensações, vivências e impressões a mais importante é a lembrança inata e indelével de tempos anteriores ao próprio Tempo.

Gosto de pensar que aqueles fugidios momentos de paz e felicidade absolutas que nos surpreendem gratuitamente, assim, do nada, acontecem porque por alguma fresta da percepção e da memória, nos lembramos do que sentimos quando contemplamos Deus.

Gosto da idéia de que podemos acionar ou acessar um conhecimento que temos desde sempre, como se soubéssemos, mesmo sem saber, o que procuramos.

Gosto de confiar no amor como método.

Gosto de acreditar que quando me sinto inundada de serenidade e harmonia, estou reavivando uma nostalgia de plenitude.

Nascemos com sede e fome desse contentamento.

Uma espécie de saudade de casa.

A Paz nos é familiar, desde sempre!
(Nós já a experimentamos...num tempo embrionário.)

Muita paz!

(Hilda Lucas)

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