19 janeiro 2013

Discurso de Victor Hugo para materialistas e ateus


  
Depois de um jantar oferecido por Victor Hugo a seus amigos, foi ele convidado a expor seus pensamentos.

Entre os comensais encontravam-se ateus, agnósticos e materialistas, mas, apesar disto o poeta derramou o perfume poético e filosófico de suas idéias espirituais.

Como sempre, suas asas de águia se abriram por cima de todos e de sua boca brotaram os mais excelsos conceitos, que foram reconhecidos pelo ilustre poeta Arsenio Houssaye.

O autor de Os Miseráveis respondeu assim ao convite:

"Quem pode dizer-nos que eu não volte a encontrar-me nos séculos futuros?

“Shakespeare escreveu: «A vida é um conto de fada que se lê pela segunda vez». Poderia ter dito pela milésima vez. Porque não há século pelo qual eu não veja passar minha sombra."

"Vós não acreditais nas personalidades moventes, quer dizer, nas reencarnações, com o pretexto de que não recordais nada de vossas existências passadas, mas como as lembranças dos séculos desvanecidos poderiam estar impressas em vós quando não vos recordais nada das mil e uma cenas de vossa vida presente?

“Desde 1802 hei de ter tido em mim dez Victor Hugo! Credes vós que me lembro de todas as ações e de todos os seus pensamentos?

"Quando houver atravessado o túmulo para voltar a encontrar outra luz, todos esses Victor Hugo me serão um pouco estranhos, mas esta será sempre a mesma alma!

"Sinto em mim toda uma vida nova, toda uma vida futura; sou como a selva que muitas vezes foi derrubada; os jovens rebentos são cada vez mais fortes e vivazes.

“Eu subo, subo, subo até o infinito. Tudo é radiante à minha frente, a terra me dá sua seiva generosa, mas o céu me ilumina com o reflexo dos mundos entrevistos.

"Dizeis vós que a alma é a expressão das forças corporais: por que então minha alma é mais luminosa quando as forças corporais irão já me abandonar? O inverno está sobre minha cabeça, à primavera está em minha alma; aspiro aqui nesta hora às lilases e às rosas como se tivesse vinte anos.

“ À medida em que me aproximo da velhice, melhor escuto ao meu redor as imortais sinfonias dos mundos que me chamam. É um conto de fadas, mas é uma história.

"Faz meio século que escrevo meu pensamento em prosa e verso, história e filosofia, drama, novela, legendas, sátira, ode, canção; de tudo tenho tratado, mas sinto que não disse mais que a milionésima parte do que é meu. Quando estiver no túmulo poderei dizer, como tantos outros: ‘terminei minha jornada’ e não ‘terminei minha vida’. Minha jornada recomeçará no outro dia, de manhã. O túmulo não é um labirinto sem saída; é uma avenida, que se fecha no crepúsculo e volta a abrir na aurora.

"Se eu não perco um minuto é porque amo este mundo como a uma pátria, porque a verdade me atormenta, como atormentou Voltaire, esse deus humano. Minha obra não é mais do que um começo; meu monumento apenas saiu da terra; quisera eu vê-lo subir ainda, subir sempre. A sede do infinito prova o infinito. Que dizeis vós, senhores ateus?

"Escuta-me. O homem não é mais do que um exemplar de Deus infinitamente pequeno, a edição em 32 do infólio gigantesco, mas o mesmo livro. Glória inaudita para o homem! Eu sou o homem, eu, uma partícula invisível, uma gota no oceano, um grão de areia na praia. Contudo, pequeno que sou, sinto-me deus porque também desenvolvo o caos que está em mim. Eu faço livros - quer dizer, sonhos - que são os mundos.

“Oh! falo sem orgulho porque já não tenho mais vaidade que a formiga que edificou a Babilônia, nem vaidade como o menor dos pássaros, que canta no coro universal.

"Eu não sou nada. Jaz aqui Victor Hugo, um abismo, um eco que passa, uma nuvem que foi, uma onda que morre na praia. Eu não sou nada, mas deixa-me continuar minha obra começada; deixa-me subir de século em século em todas as rochas, todos os perigos, todos os amores, todas as paixões, todas as angústias.

“Quem vos disse que um dia, depois de milhares de ascensões, não haveria eu, como todos os homens de boa vontade, conquistado um posto de ministro no supremo conselho desse adorável tirano que se chama Deus".

( extraído do livro "Victor Hugo Espírita", de Humberto Mariotti, ed. EME) 

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Victor Hugo e os Espíritos

[...] num documentário sobre o livro "Os Miseráveis" chamou-me a atenção para o lado espírita de Victor Hugo. 
Nele, um dos estudiosos da obra de Hugo afirma que os espíritos o incentivaram a concluir e publicar o livro que se tornaria um marco na literatura mundial, por dar voz e luz a uma população geralmente esquecida, diminuída ou marginalizada pelos autores anteriores à sua época.

(Jáder Sampaio)



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