De seguir os rastros de deus, o cansaço.
Desamadurecendo idéias prontas
reinventando infâncias em mim:
procurei nos pés cansados do Pai
nos olhos jovens do Filho
Esperei que o Espírito descesse à terra e
- Santo que era -
me oferecesse a mão gentil.
Busquei na mãe
- feita de carne -
santa como um sonho,
portando marcas de amor:
um mapa no ventre, um rasgo no fundo,
e lá na língua um desejo
- a dona da minha espécie.
Busquei nas más e nas boas línguas
desafinando louvores
e preces não respondidas.
No silêncio do suicida
na voz potente e infinita
da filha que eu quero ter.
Nas crianças e nas feras.
Nos homens e nas sereias.
Nas mãos vazias que pedem
- entorpecidas de medo -
uma gota de vontade.
No chão, nos ares, no rabo da estrada:
onde o homem faz a curva
e se reinventa vento.
Um deus sem nome e sem forma
- que já não é pai nem filho -
Um deus que também é fêmea
macho, mato, aroma, flor.
Não é aqui nem ali
- onde a gente pode ver -
é no farfalhar das asas
do passarinho perdido
nas marcas fluidas do corpo
de quem ao teu lado dormiu
no silêncio entre nós
no vazio aqui em mim:
o deus que segui só existe
onde não se pode estar:
não é matéria ou espírito:
deus é rastro.
(Carla Carrion)
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