Tragédias como a de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que
vitimou 231 pessoas sempre suscitam a dúvida crucial: Maktub? Estava escrito?
A meu ver está escrito apenas que morreremos um dia, mas sem
definição do dia e hora, já que estes pertencem às contingências humanas,
subordinadas ao livre-arbítrio.
Raros
vivem integralmente o tempo concedido por Deus para as experiências humanas.
Multidões retornam antes do tempo à espiritualidade por cuidarem mal do corpo,
por se comprometerem no vício, no desregramento, na indisciplina, no crime…
Há quem diga que débitos cármicos, nascidos de desvios
cometidos em passadas existência teriam originado uma espécie de resgate
coletivo na funesta madrugada.
Além de logisticamente complicado juntar pessoas que queimam
e sufocam seus semelhantes para morte igual, tal resgate lembra a pena de
talião defendida por Moisés, o olho por olho, à distância do amor que cobre a
multidão dos pecados, ensinado por Jesus.
Há sempre a idéia supostamente consoladora, de que tudo vem
de Deus.
Assim pensando, seria, porventura, mais razoável imaginar que Deus
estimula a negligência, a indisciplina, os vícios, os assassinatos, as
bebedeiras, a agressividade, a maldade, a violência, as guerras, que diziam
milhões de pessoas para que as pessoas paguem suas dívidas?
Seria razoável imaginar que Deus inspirou os americanos a
soltar duas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, para que 200 mil japoneses
quitassem seus débitos?
Essas mortes são de inspiração humana, jamais divina.
O verdadeiro consolo está em considerar que o Espírito, a
individualidade pensante, não morrerá jamais.
Nascer e morrer são apenas duas faces da mesma moeda: a vida
imortal, que se estende ao infinito, no desdobrar de experiências que nos
conduzem à perfeição.
Então, como diz Jesus, não mais experimentaremos a
experiência da morte, em planos de matéria densa como a Terra. Nessa concepção
está o verdadeiro consolo.
Quanto aos nossos amados, que nos antecedem no retorno à
Espiritualidade, estão ausentes apenas aos nossos olhos.
Se pudéssemos ver saberíamos que eles nos procuram, sofrem
com nossa angústia, perturbam-se com nosso desconsolo, fortalecem-se com nossa
coragem, vibram com nossas esperanças, torcem para que sejamos firmes e fortes
no enfrentar os embates da existência a fim de que o reencontro mais tarde se
dê em bases de vitória sobre as provações humanas, ensejando-nos luminoso
porvir.
(Richard Simonetti)
* * *
Nenhum comentário:
Postar um comentário