Tenho sonhos doentes, que só a alma sente,
anseios pisados, que por serem meus, assim os aturo.
A medo avanço com os passos virados ao futuro.
ainda mal refeito de saudades deste presente.
E o mistério que me enfeita?
Sei lá eu de que mistérios se faz a gente.
Do que conheço de mim, uma nesga se aproveita.
O resto entrego-o ai que a vossa alma sente.
Dai-me pois o vosso olhar atento.
que nas veias do que escrevo ali está a minha afronta.
Mas se me pedirdes que minta, isso eu não intento.
pois de tristes fados já tenho mais que a minha conta.
Cismo, já farto de velar minha alma doente,
e que idéia fareis vós de quem assim se lamenta?
Talvez o mistério seja maior para quem mente,
do que pra quem nem sequer o tenta.
E quem me ajuda neste anseio que me consome o dia?
Que raio de troca é esta que não me traz vista de cura?
Eu escrevo e em vós pressinto monotonia,
e o terror do desaire,
esse, perdura!
Deixem-me os sonhos ao menos, que mais não vos pelo.
Prisioneiro desta maleita, daqui, já não escapo com vida.
E se assim tiver de ser, porque o mereço,
pois a doentes só a desgraça lhes é consentida.
(in “Que Alguém Saiba Que És Um Homem”, de
Casimiro Teixeira)
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