Numa reunião em família, lamentava-se a brevidade da vida dos
cães, que bem poderiam viver mais tempo.
O membro mais novo, um menino de seis
anos, que tudo ouvia, afirmou:
– Eu sei por que os cachorros vivem pouco...
Para surpresa de todos, explicou:
– Mamãe diz que pessoas nascem para aprender a ser boas, a
amar todo mundo. Os cães já nascem sabendo como fazer isso, portanto não
precisam viver tanto tempo...
Sábio garoto!
A capacidade de amar incondicionalmente
estabelece a diferença entre o cão e o homem.
Se você fechar por horas um
cachorro, no porta-malas de um carro, ao libertá-lo ele lhe fará festas,
amigavelmente. Se fizer o mesmo com um homem, terá um inimigo feroz.
Sem dúvida, o objetivo primordial da existência humana, como
ensina o menino, é aprendermos a exercitar aquela que é a lei maior do Universo
– o Amor, como ensinou Jesus ao proclamar que o amor a Deus sobre todas as
coisas e ao próximo como a nós mesmos é o resumo da todas as leis divinas.
O Espiritismo nos convida a refletir sobre o assunto a
partir do conceito de que amar de verdade é pensar no outro, no seu bem-estar.
Não é um favor. Trata-se de algo indispensável para que possamos sustentar
nossa integridade como filhos de Deus, habilitando-nos ao equilíbrio e à paz onde
estivermos.
Nos serviços de atendimento fraterno deparamo-nos,
frequentemente, com problemas de relacionamento no lar, principalmente entre
marido e mulher.
Na opinião dos entrevistados, a culpa é sempre do cônjuge,
sem se levar em consideração que quando um não quer dois não brigam e que se um
dos dois dispuser-se a cumprir o Evangelho, exercitando Amor, as arestas
poderão ser superadas, favorecendo um relacionamento melhor.
Oportuno, nesse particular, considerar como as pessoas
gostariam de ser amadas.
A propósito, lembro um maravilhoso poema de Elizabeth
Barrett Browning (1806-1861), famosa poetisa inglesa, dedicado ao seu marido,
Robert Browning (1812-1889), tradução de Manuel Bandeira (1886-1968):
Ama-me por Amor do Amor somente.
Não digas: “Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente
Minh’alma em comunhão constantemente
Com a sua”; Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.
Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade
De chorar, teu Amor pode ter fim!
Ama-me por Amor do Amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.
Consciente ou inconscientemente, as pessoas não querem ser
amadas apenas por suas virtudes.
Precisam ser amadas, apesar de seus defeitos.
Não querem receber o Amor como um favor. Precisam do Amor
como uma entrega.
Enfim, querem ser amadas por Amor do Amor somente, como
enfatiza Elizabeth.
É uma ideia que merece reflexão.
Cônjuges dizem que deixaram de amar porque o príncipe ou
princesa transformou-se num sapo. Talvez isso tenha ocorrido porque o trataram
como o próprio, sempre apontando mazelas e imperfeições, implicando,
contestando, exigindo, brigando...
Não amaram por amor do Amor.
Amaram como quem aprecia um doce.
Deixaram de amar porque estavam saciados ou porque, em sua
opinião, o doce azedou.
Melhor fazem os que convertem sapos em príncipes e
princesas, porque amam por amor do amor somente.
Richard Simonetti
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