"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

04 junho 2013

O amor de verdade



Numa reunião em família, lamentava-se a brevidade da vida dos cães, que bem poderiam viver mais tempo. 

O membro mais novo, um menino de seis anos, que tudo ouvia, afirmou:
– Eu sei por que os cachorros vivem pouco...

Para surpresa de todos, explicou:
– Mamãe diz que pessoas nascem para aprender a ser boas, a amar todo mundo. Os cães já nascem sabendo como fazer isso, portanto não precisam viver tanto tempo...

Sábio garoto! 

A capacidade de amar incondicionalmente estabelece a diferença entre o cão e o homem. 

Se você fechar por horas um cachorro, no porta-malas de um carro, ao libertá-lo ele lhe fará festas, amigavelmente. Se fizer o mesmo com um homem, terá um inimigo feroz.

Sem dúvida, o objetivo primordial da existência humana, como ensina o menino, é aprendermos a exercitar aquela que é a lei maior do Universo – o Amor, como ensinou Jesus ao proclamar que o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos é o resumo da todas as leis divinas.

O Espiritismo nos convida a refletir sobre o assunto a partir do conceito de que amar de verdade é pensar no outro, no seu bem-estar. Não é um favor. Trata-se de algo indispensável para que possamos sustentar nossa integridade como filhos de Deus, habilitando-nos ao equilíbrio e à paz onde estivermos.

Nos serviços de atendimento fraterno deparamo-nos, frequentemente, com problemas de relacionamento no lar, principalmente entre marido e mulher.

Na opinião dos entrevistados, a culpa é sempre do cônjuge, sem se levar em consideração que quando um não quer dois não brigam e que se um dos dois dispuser-se a cumprir o Evangelho, exercitando Amor, as arestas poderão ser superadas, favorecendo um relacionamento melhor.

Oportuno, nesse particular, considerar como as pessoas gostariam de ser amadas. 

A propósito, lembro um maravilhoso poema de Elizabeth Barrett Browning (1806-1861), famosa poetisa inglesa, dedicado ao seu marido, Robert Browning (1812-1889), tradução de Manuel Bandeira (1886-1968):

Ama-me por Amor do Amor somente.
Não digas: “Amo-a pelo seu olhar,
O seu sorriso, o modo de falar
Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh’alma em comunhão constantemente
Com a sua”; Porque pode mudar
Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar
Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade
De tuas mãos enxuga, pois se em mim
Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu Amor pode ter fim!
Ama-me por Amor do Amor, e assim
Me hás de querer por toda a eternidade.

Consciente ou inconscientemente, as pessoas não querem ser amadas apenas por suas virtudes. 

Precisam ser amadas, apesar de seus defeitos.

Não querem receber o Amor como um favor. Precisam do Amor como uma entrega.

Enfim, querem ser amadas por Amor do Amor somente, como enfatiza Elizabeth.

É uma ideia que merece reflexão.

Cônjuges dizem que deixaram de amar porque o príncipe ou princesa transformou-se num sapo. Talvez isso tenha ocorrido porque o trataram como o próprio, sempre apontando mazelas e imperfeições, implicando, contestando, exigindo, brigando...

Não amaram por amor do Amor.

Amaram como quem aprecia um doce.

Deixaram de amar porque estavam saciados ou porque, em sua opinião, o doce azedou.

Melhor fazem os que convertem sapos em príncipes e princesas, porque amam por amor do amor somente.



Richard Simonetti


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