17 outubro 2013

Vivendo



De repente tudo ficou muito esquisito.

Eu tinha a impressão que tudo estava diferente, mas não conseguia explicar o que.

No trabalho, em casa , na escola. Ninguém mais falava comigo, apesar de parecer que estavam o tempo todo falando de mim.

Tentava aproximar-me das pessoas, mas todos simplesmente me ignoravam, como se eu estivesse invisível. Alguns até faziam uma cara estranha e pareciam chorar na minha presença.

Preocupado, ficava a pensar o que eu poderia ter feito de errado para ter tanta gente de cara virada comigo.

Meu consolo era chegar em casa e ver o Thor. Criado desde filhote com muito amor, era uma grande cão, amigo de todas as horas. Ele, pelo menos, vinha me receber como sempre, latindo muito quando eu virava a esquina e atirando-se sobre mim quando eu passava pelo portão.

Minha mãe, que no fim da tarde sempre me esperava no portão, ao invés de me abraçar, punha-se a chorar ao ver o Thor latir para mim.

Assim, como somente meu cão dava-me atenção, passava todo o meu tempo livre brincando com ele e, sempre que possível, aproximava-me das pessoas tentando a reconciliação, apesar de não lembrar ter feito nada que as magoasse.

Numa noite, quando brincava com o Thor, percebi que ele ficou um pouco agitado, fixando o olhar numa densa folhagem do jardim dos fundos da casa.

Fiquei prestando atenção quando ele correu para lá, latindo e abanando o rabo. Pude ver, de relance, a nossa cadela chamada Laika, que já há muito tempo havia morrido. Fiquei assustado e ao mesmo tempo curioso. Como aquilo era possível?

Lembrei-me então do centro espírita que minha avó costumava freqüentar e no dia seguinte fui até lá, pois sabia que faziam sessões todos os dias às dezenove horas.

Fui chegando e fiquei maravilhado ao notar como a casa estava enfeitada com luzes de todos os tipos naquela noite. Passava em frente daquela pequena casa com freqüência, e nunca a havia visto tão iluminada.

Entrei e fui recebido com muito carinho.

Sentado num banco na lateral, onde me pediram para aguardar, participei de toda a sessão, acompanhando emocionado as orações.

Ao fim dos trabalhos, uma senhora de branco que esteve atarefada durante todo o tempo aproximou-se e colocou uma das mãos sobre meus olhos, dizendo-me gentilmente:

- Que Deus abra teus olhos para a Verdade.

Estremeci. Ao abrir os olhos reconheci imediatamente minha avó naquela senhora cheia de luz.

Ela contou-me sobre minha nova condição e levou-me para um novo lar, onde eu deveria viver como espírito.

Fiquei sabendo que meu corpo deixou de funcionar após um acidente, onde fui vítima de atropelamento. Até hoje tenho curiosidade e acima de tudo gratidão a Deus, pois nada senti ou percebi em minha passagem. Apenas continuei vivendo.

E ainda hoje vou vivendo, feliz em minha condição de desencarnado trabalhador do Cristo, auxiliando no que estiver a meu alcance aos irmãos necessitados.

À Dona Marta, minha querida mãe, deixo o meu amor e a certeza que estou sempre presente, lá no quintal, brincando com o Thor, pois sempre que posso dou uma passadinha lá para fazer um carinho nele.


André 


(Psicografado por Cleber P. Campos)



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Autor: André 
Destinatário: Marta (mãe)
Psicografado por: Cleber P. Campos




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