A vida de Eilidh Lawson
está passando por uma séria crise.
Após anos de tratamentos
fracassados para engravidar, da traição de seu marido e de lidar
com sua família egoísta, Eilidh entra em uma depressão profunda e
fica sem chão.
Desesperada e sem
forças, ela busca amparo e conforto em uma pequena vila ao Norte da
Escócia, onde reencontra pessoas queridas e uma vida que havia ficado para trás.
Quando tudo parece
perdido, Eilidh redescobre o amor pelo ser humano e por si própria
e, então, coisas estranhas e forças sobrenaturais começam a
aparecer.
Com a ajuda de uma alma
amiga, alguém que se foi, mas que mesmo assim quer ajudá-la a lutar
contra os egos e os medos, Eilidh encontra seu verdadeiro amor.
Editora Magnitudde.
*
A seguir um pequeno trecho do livro.
Boa leitura!...
O dia mais estranho
e mais maravilhoso da minha vida, o dia que mudou minha percepção
sobre a vida e a morte, começou como qualquer outro. Acordei no
mundo que sempre conheci e fui dormir envolta em um mistério.
Durante toda a vida
nos mantemos ocupados, tentando ignorar o fato de que a escuridão,
um dia muito em breve, vai chegar para nos pegar. A finitude, como
ela é, não cabe em nossa vida, pois é assustadora demais,
imponente.
Precisamos diminuir
seu tamanho, percebendo todos os milhões de pequenas coisas diárias
que definem as fronteiras de nossa realidade — usando os cinco
sentidos do modo como devem ser utilizados para tocar e ver as
coisas, coisas reais e presentes, parte desse lado da existência, o
lado dos seres vivos.
Conferimos ao
mistério um rosto humano; damos forma a algo disforme.
Inventamos rituais
para definir as passagens, para transformar a vida e a morte em
cerimônias, tornando-as mundanas e de alguma maneira mais fáceis de
controlar, de compreender. Quando nasce um bebê, não nos debruçamos
no motivo pelo qual aquela pequena alma está aqui, onde esteve
antes, o que sabe… A nova mãe volta de sua excursão ao
desconhecido, guiando o bebê da
escuridão à luz, e
ambos são limpos, vestidos e preparados para parecerem como se nunca
estivessem ido além… como se ela não tivesse ido ao subterrâneo,
na escuridão, onde a vida e a morte se tocam e se misturam.
E, quando alguém
morre, a família, com misericórdia, ocupa sua mente com todas as
pequenas coisas desoladoras que precisamos fazer quando tudo termina
— as flores, a comida, o que precisa ser guardado, o que precisa
ser doado —, enquanto as lágrimas caem nos objetos deixados para
trás: um par de chinelos, uma caneca, um roupão. Confortamo-nos,
agarrando-nos em um braço
sólido, segurando
em uma mão calorosa em que o sangue flui forte; sentimos o sangue
sob a pele e ele grita tão alto, tão claro, que afasta a morte.
Como poderíamos,
mesmo por um segundo, encarar o que realmente aconteceu — alguém
estava lá e de repente não está mais, partiu para sempre, partiu
em uma não existência — sem cair de joelhos e gritar de terror,
pensando que isso um dia vai acontecer conosco, que vamos fechar os
olhos e nunca mais abri-los? Como podemos ser corajosos no que diz
respeito a contemplar a escuridão profunda e sem sentido que nos
espera e ainda assim continuar vivendo?
"Se" a
escuridão é o que nos espera.
Agora eu sei que não
é.
O dia que começou
como qualquer outro foi o dia em que todos os adereços supérfluos
foram retirados da minha frente e pude olhar diretamente para o
mistério. Vi uma pessoa que pensei que tivesse partido, e ela estava
lá, parada na minha frente. Vi uma alma sem corpo e ela sorriu.
Talvez eu seja
ingênua, talvez tenha diante de mim um monte de provas, a ciência e
pensamentos dizendo que estou errada, mas acredito no que minha avó
me contou anos atrás — o amor nunca morre, o que nos espera é o
amor que sentimos quando estávamos vivos. Além do medo e da dor, o
amor está lá para nos amparar quando caímos.
Foi isso que aprendi
em uma noite de primavera nos bosques, e desde então não tenho mais
medo.
* * *
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