Pensei em correr, mas
não dava mais tempo.
Só pude parar e ficar
olhando, estarrecido, a onda enorme que se aproximava.
Em segundos uma imensa
massa de água desabou na praia e sobre mim. Era estranho, mas não
me senti jogado de um lado a outro como era de se imaginar. Eu
parecia estar ali, ainda imóvel, em pé.
Mas o ruído da água
em meus ouvidos era ensurdecedor.
Até que senti um
tranco, como uma rajada de vento forte e curta, que acabou com o
ruído, mas pareceu me jogar longe, embora eu ainda me sentia em pé
e estático.
Sons, imagens e
movimentos pareciam dançar em minha mente, diante de meus olhos.
Passei a reviver em ritmo acelerado, momentos da minha vida e até de
vidas pregressas, que eu estranhamente tinha a certeza de ser eu.
Sensações de alegria,
tristeza, raiva assaltavam meu peito, exatamente da mesma forma que
ocorreram na realidade.
De repente tudo sumiu.
Eu estava lá, em pé olhando o mar. O sol ainda brilhava forte, a
praia tranquila, varrida pelas águas.
A meu lado, um homem
alto, de roupas brancas me puxou pela mão e me conduziu a minha nova
casa.
Horas depois vim a
saber que centenas de ilhéus tinham, como eu, sucumbido a força da
natureza.
Muitos ainda a vagar
pela ilha, desesperados por não mais serem reconhecidos pelos que
sobreviveram ou por se darem conta que não mais pertenciam ao
planeta.
Dei Graças a Deus pelo
privilégio de ter desencarnado de forma tranquila e de poder ter a
lucidez de rever e recontar meus passos.
Dias depois compreendi
que o privilégio da boa morte se deu porque eu sempre pratiquei a
caridade em minha existência e mantive longe de mim a maledicência
e a discórdia.
Orai e vigiai.
Kiriati.
*
Autor: Kiriati
Psicografado por:
Cleber P. Campos
Referência: Carma
coletivo
* * *
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