Dizia estar à procura de seu príncipe encantado.
Só que o fazia de forma errada, cultivando experiências
amorosas promíscuas, em atividade inconsequente e comprometedora.
Os familiares preocupavam-se. Sua mãe a aconselhava. O pai
aborrecia-se. Os irmãos faziam ameaças... Tudo inútil.
– Sou independente, maior de idade, dona de meu nariz –
retrucava Marta, julgando-se gente, só porque, aos 22 anos, concluíra a
Faculdade, tinha bom emprego, bela aparência, numerosos admiradores.
E petulante, contestadora:
– Considero-me uma mulher liberada, com direito de
relacionar-me afetivamente com quem desejar. Casar-me-ei um dia, terei filhos,
mas só quando encontrar meu príncipe. O modo como o procuro é problema meu! Não
me aborreçam!...
Um dia engravidou.
A primeira reação: abortar.
Chegou a procurar um médico amigo. Não conseguiu,
entretanto, consumar o ato criminoso. Estranhamente, o pequenino ser que levava
em suas entranhas a sensibilizara.
Não sabia explicar exatamente o que ocorria, mas sentia, com
todas as forças de sua Alma, que desejava aquele filho.
Na medida em que a gestação avançou, foi forçada a informar
a família.
Os pais ficaram horrorizados. Era preciso tirar a criança.
Família bem posta na sociedade, seria uma vergonha...
Marta resistiu com a desenvoltura de sempre. O filho era
seu.
Ficaria com ele. Devotava-lhe, desde o início, incontido amor.
Desejava, ardentemente, tê-lo em seus braços. Iria embora se
insistissem! Jamais renunciaria à criança!...
Os familiares, que a conheciam suficientemente, concluíram
que seria inútil tentar demovê-la e decidiram assumir a situação.
Com o passar do tempo, observaram, agradavelmente surpresos,
que, acompanhando a evolução da gestação, a jovem passava por radical
transformação.
Tornou-se mais comedida, já não saía tanto, deixou a bebida
e o cigarro, afastou-se de amizades indesejáveis, perdeu o contato com os
rapazes...
Apesar dos percalços, a criança que estava por vir atuava providencialmente
em seu benefício.
Finalmente chegou o grande dia. Experimentando as primeiras
contrações, Marta foi levada ao hospital. Atendida prontamente, em breve nascia
um belo menino, sorridente e calmo.
Toda a família logo se tomou de amores por ele,
particularmente a jovem, que, sem o saber, detinha nos braços seu “príncipe
encantado”, nobre entidade espiritual ligada a ela desde recuada época.
Viera
em seu socorro para afastá-la da inconsequência...
***
Há Espíritos que retornam à carne em experiências
sacrificiais.
Embora as abençoadas oportunidades de aprendizado, suas
existências são marcadas, sobretudo, pelo compromisso maior de auxiliar
companheiros retardatários.
Sua presença desperta neles incontidos anseios do coração,
ajudando-os a afastarem-se de perigosas ilusões.
(Richard Simonetti)
* * *
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