É notável a dificuldade da civilização atual de pensar o
conjunto da questão planetária.
Estamos vendo em primeira mão o que ocorre quando o carma
coletivo amadurece e o prazo de validade de uma forma de organização está
vencido.
Há bem mais que uma limitação cultural.
Há uma cegueira
organizada, e ela boicota toda capacidade de enxergar.
De fato, o pior cego é aquele que não quer ver.
Mas isso vai
mudar. Já aumentam os sinais de um despertar da consciência planetária.
A civilização de hoje, como grande parte das civilizações
anteriores, é baseada na premissa de que a natureza é inimiga do homem.
A ideia primordial, ainda que implícita, é de que a natureza
deve ser substituída pelo asfalto, pela energia atômica, pelo desmatamento,
pela desertificação, pelas guerras, pela especulação imobiliária, pelo massacre
dos animais, e - claro - por uma filosofia social darwinista, segundo
a qual devem dominar “os mais aptos”.
Os mais “aptos” são, deste ponto de vista, os mais egoístas,
os mais gananciosos, os mais astutos, aqueles que são espiritualmente
destituídos de alma e de consciência ética.
E, no contexto atual, pode-se mesmo constatar que alguns dos
indivíduos “poderosos”, cuja fé está colocada na premissa darwinista têm,
literalmente, a consciência ética e filosófica de um gorila das selvas.
Só lhes falta o respeito instintivo pela vida natural e pela
lei do carma que os gorilas autênticos possuem. Os macacos tecnológicos não
sabem o que é equilíbrio.
Seria agradável se a ignorância espiritual socialmente
organizada pudesse ser eliminada com um custo histórico baixo.
Não é isso que estamos vendo, no entanto.
As notícias sobre exemplos de desorganização climática se
espalham e se tornam coisas cada dia mais corriqueiras.
Sua importância é ignorada.
Grandes catástrofes são tratadas como fato banal, enquanto a
novela de televisão, as entrevistas dos “famosos” e as últimas falsas novidades
sobre qualquer assunto fútil estão no centro das atenções da mídia dominante.
A cultura civilizatória atual ainda não adotou de modo amplo
os parâmetros filosóficos que a permitirão compreender e processar
inteligentemente o processo planetário.
Há na psicologia coletiva de hoje um medo profundo de
alterações climáticas, associadas subconscientemente a velhas imagens de “fim
de mundo” fabricadas pela teologia da idade média.
O terror supersticioso paralisa a capacidade de preparar-se
com ética e com bom senso para uma mudança climática.
Por outro lado, a teosofia ensina que a decadência da base
geológica da atual civilização está diretamente ligada à decadência das bases
mentais, intelectuais, morais e emocionais da etapa humana que está terminando.
A decadência precede, e prepara, a regeneração.
O planeta é um único processo multidimensional.
Ele tem sete níveis de consciência operando simultaneamente,
e todos esses níveis estão vivendo - entre o século 19 e o século 22 - o final
de um ciclo e o começo de outro.
O receio subconsciente de enfrentar os fatos é, pois, um
fator que não pode ser subestimado.
Grandes mudanças provocam medo, inclusive quando são
geológicas, e o filósofo espanhol Emilio Mira y López escreveu:
“Terremotos,
incêndios, inundações, raios, avalanchas, são (...) eventos não só capazes de
assustar-nos com sua presença, mas também de fazer-nos estremecer ante sua real
ou suposta iminência.
Não é apenas por
pressentir a probabilidade de um dano físico mais ou menos grave que tais
cataclismos nos aterrorizam, mas por outros motivos, entre os quais se destacam
os de sua ancestralidade, seu imenso poder e sua inevitabilidade.
Realmente, desde os
tempos mais remotos, esses fenômenos têm causado a morte das mais variadas
espécies animais. Por isso, em nosso genoplasma, estão latentes os dispositivos
de alarme e fuga ante a simples evocação de sua imagem ou lembrança.”
Isso explica grande parte da dificuldade de uma mudança de
atitude diante da questão ambiental.
No entanto, é cada dia mais fácil acelerar a ampliação do
caminho do meio entre dois extremos igualmente paralisantes.
De um lado, temos o apego à rotina consumista, que nega a
necessidade de uma mudança na relação da humanidade com o ambiente natural.
De outro lado, há o conhecido fatalismo que considera o “fim
do mundo” inevitável, e pensa que só o
deus imaginário criado pelos sacerdotes profissionais é capaz de enfrentar o
assunto.
O caminho do meio, que é o caminho do bom senso, ainda
parece estreito e difícil. Mas ele já existe e é claramente indicado pela
filosofia e pela teosofia.
Ao longo dos milênios, inúmeras civilizações cumpriram suas
missões e foram substituídas, frequentemente através de crises ambientais.
A civilização atual não é eterna e está em crise. Mas o
final de uma civilização e o começo de outra não são algo súbito. Eles devem
ser encaminhados passo a passo e gradativamente.
Nem a preguiça nem o pânico são bons conselheiros.
O momento atual é de preparação para um despertar.
O planeta Terra pode funcionar como um jardim comunitário, e
já são grandes as oportunidades para que os cidadãos ajam criativamente.
Começa a surgir uma nova consciência ética universal. O
renascer não pode ser acelerado pela propaganda, mas sim pela vivência interna
da sabedoria universal, pela prática da ajuda mútua, e pelo plantio de bom
carma no plano da Alma.
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