"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

13 abril 2016

O planeta Terra pode funcionar como um jardim comunitário



  
É notável a dificuldade da civilização atual de pensar o conjunto da questão planetária.

Estamos vendo em primeira mão o que ocorre quando o carma coletivo amadurece e o prazo de validade de uma forma de organização está vencido.

Há bem mais que uma limitação cultural. 

Há uma cegueira organizada, e ela boicota toda capacidade de enxergar.

De fato, o pior cego é aquele que não quer ver. 

Mas isso vai mudar. Já aumentam os sinais de um despertar da consciência planetária.

A civilização de hoje, como grande parte das civilizações anteriores, é baseada na premissa de que a natureza é inimiga do homem.

A ideia primordial, ainda que implícita, é de que a natureza deve ser substituída pelo asfalto, pela energia atômica, pelo desmatamento, pela desertificação, pelas guerras, pela especulação imobiliária, pelo massacre dos animais, e -  claro -  por uma filosofia social darwinista, segundo a qual devem dominar “os mais aptos”.

Os mais “aptos” são, deste ponto de vista, os mais egoístas, os mais gananciosos, os mais astutos, aqueles que são espiritualmente destituídos de alma e de consciência ética. 

E, no contexto atual, pode-se mesmo constatar que alguns dos indivíduos “poderosos”, cuja fé está colocada na premissa darwinista têm, literalmente, a consciência ética e filosófica de um gorila das selvas. 

Só lhes falta o respeito instintivo pela vida natural e pela lei do carma que os gorilas autênticos possuem. Os macacos tecnológicos não sabem o que é equilíbrio.

Seria agradável se a ignorância espiritual socialmente organizada pudesse ser eliminada com um custo histórico baixo.

Não é isso que estamos vendo, no entanto.

As notícias sobre exemplos de desorganização climática se espalham e se tornam coisas cada dia mais corriqueiras.

Sua importância é ignorada.

Grandes catástrofes são tratadas como fato banal, enquanto a novela de televisão, as entrevistas dos “famosos” e as últimas falsas novidades sobre qualquer assunto fútil estão no centro das atenções da mídia dominante.

A cultura civilizatória atual ainda não adotou de modo amplo os parâmetros filosóficos que a permitirão compreender e processar inteligentemente o processo planetário.

Há na psicologia coletiva de hoje um medo profundo de alterações climáticas, associadas subconscientemente a velhas imagens de “fim de mundo” fabricadas pela teologia da idade média.

O terror supersticioso paralisa a capacidade de preparar-se com ética e com bom senso para uma mudança climática.

Por outro lado, a teosofia ensina que a decadência da base geológica da atual civilização está diretamente ligada à decadência das bases mentais, intelectuais, morais e emocionais da etapa humana que está terminando.

A decadência precede, e prepara, a regeneração.

O planeta é um único processo multidimensional.

Ele tem sete níveis de consciência operando simultaneamente, e todos esses níveis estão vivendo - entre o século 19 e o século 22 - o final de um ciclo e o começo de outro.

O receio subconsciente de enfrentar os fatos é, pois, um fator que não pode ser subestimado.
Grandes mudanças provocam medo, inclusive quando são geológicas, e o filósofo espanhol Emilio Mira y López escreveu:


“Terremotos, incêndios, inundações, raios, avalanchas, são (...) eventos não só capazes de assustar-nos com sua presença, mas também de fazer-nos estremecer ante sua real ou suposta iminência.
Não é apenas por pressentir a probabilidade de um dano físico mais ou menos grave que tais cataclismos nos aterrorizam, mas por outros motivos, entre os quais se destacam os de sua ancestralidade, seu imenso poder e sua inevitabilidade.
Realmente, desde os tempos mais remotos, esses fenômenos têm causado a morte das mais variadas espécies animais. Por isso, em nosso genoplasma, estão latentes os dispositivos de alarme e fuga ante a simples evocação de sua imagem ou lembrança.”


Isso explica grande parte da dificuldade de uma mudança de atitude diante da questão ambiental.

No entanto, é cada dia mais fácil acelerar a ampliação do caminho do meio entre dois extremos igualmente paralisantes.

De um lado, temos o apego à rotina consumista, que nega a necessidade de uma mudança na relação da humanidade com o ambiente natural.

De outro lado, há o conhecido fatalismo que considera o “fim do mundo” inevitável,  e pensa que só o deus imaginário criado pelos sacerdotes profissionais é capaz de enfrentar o assunto.

O caminho do meio, que é o caminho do bom senso, ainda parece estreito e difícil. Mas ele já existe e é claramente indicado pela filosofia e pela teosofia.

Ao longo dos milênios, inúmeras civilizações cumpriram suas missões e foram substituídas, frequentemente através de crises ambientais.

A civilização atual não é eterna e está em crise. Mas o final de uma civilização e o começo de outra não são algo súbito. Eles devem ser encaminhados passo a passo e gradativamente.

Nem a preguiça nem o pânico são bons conselheiros.

O momento atual é de preparação para um despertar.

O planeta Terra pode funcionar como um jardim comunitário, e já são grandes as oportunidades para que os cidadãos ajam criativamente.

Começa a surgir uma nova consciência ética universal. O renascer não pode ser acelerado pela propaganda, mas sim pela vivência interna da sabedoria universal, pela prática da ajuda mútua, e pelo plantio de bom carma no plano da Alma.






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