A cama dos pais tem um ímã e cá para mim (ninguém me
convence do contrário) tem uma magia soporífera, um misterioso pó de amor
impregnado nas almofadas, que faz com que os filhos adormeçam imediatamente e
que o pior dos pesadelos, o mais trepidante terror noturno, fuja a sete pés.
Na cama dos pais, o último refúgio dos medos, a paz é
absoluta e total.
Ali chegam, levados por pais extenuados e vencidos, ou pelo
seu próprio pé, transpirados e assustados, passarinhos a voar de noite aos
encontrões pelos corredores da casa, até chegarem ao lugar dos lugares.
Dois colos com lençóis macios e o cheiro dos progenitores.
Caem que nem tordos a dormir, apaziguados.
Os pais fingem que se importam, na manhã seguinte: «Lá foste
tu para a nossa cama! Quando é que aprendes a ultrapassar os medos e a dormir
sozinho? Tens de crescer!», mas nem olham muito nos olhos dos filhos quando
dizem estas coisas, com medo de que eles descubram que naquele breve regresso
ao ninho, ao berço inicial, os pais se enchem de amor e ternura e também eles
se confortam nas suas inquietações.
Um pescoço morno. Uma mãozinha gorducha no nosso cabelo. Um
pé de regresso à costela da mãe. A respiração tranquila na fronha partilhada.
O desejo secreto de que o ninho fique assim para sempre. E
que a manhã demore muito a chegar.
Que o misterioso pó de amor das almofadas preserve para
sempre estas excursões noturnas de mimo que não são mais do que um inteligente
prenúncio, de uma saudade imensa, dos melhores dias desta vida.
(Autor desconhecido)
* * *
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