É bom ter mãe quando se é criança, e também é bom quando se é adulto.
Quando se é adolescente a gente pensa que viveria melhor sem ela, mas é um erro de avaliação.
Mãe é bom em qualquer idade. Sem ela, ficamos órfãos de tudo, já que o mundo lá fora não é nem um pouco maternal conosco.
O mundo não se importa se estamos desagasalhados e passando fome.
Não liga se viramos a noite na rua, não dá a mínima se estamos acompanhados por maus elementos.
O mundo quer defender o seu, não o nosso.
O mundo quer que a gente torre nossa grana, que a gente compre um apartamento que vai nos deixar endividados, que a gente ande na moda, que a gente troque de carro, que a gente tenha boa aparência e estoure o cartão de crédito.
Mãe também quer que a gente tenha boa aparência, mas está mais preocupada com o nosso banho, nossos dentes, nossos ouvidos, com a nossa limpeza interna: não quer que a gente se drogue, que a gente fume, que a gente beba.
O mundo nos olha superficialmente. Não detecta nossa tristeza, nosso queixo que treme, nosso abatimento.
O mundo quer que sejamos lindos, magros e vitoriosos para enfeitar a ele próprio, como se fossemos objetos de decoração do planeta.
O mundo não tira nossa febre, não penteia nosso cabelo, não oferece um pedaço de bolo feito em casa.
O mundo quer nosso voto, mas não quer atender nossas necessidades.
O mundo, quando não concorda com a gente, nos pune, nos rotula, nos exclui.
O mundo não tem doçura, não tem paciência, não nos escuta.
O mundo pergunta quantos eletrodomésticos temos em casa e qual é o nosso grau de instrução, mas não sabe nada dos nossos medos de infância, das nossas notas no colégio, de como foi duro arranjar o primeiro emprego.
Mãe é de outro mundo.
É emocionalmente incorreta: exclusivista, parcial, metida, brigona, insistente, dramática. Sofre no lugar da gente, se preocupa com detalhes e tenta adivinhar todas as nossas vontades, enquanto que o mundo nos exige eficiência máxima, seleciona os mais bem dotados e cobra caro pelo seu tempo.
Mãe é de graça.
(Martha Medeiros)
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