"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

29 agosto 2011

Salvo pela gentileza




Conta-se a história de um empregado em um frigorifico da Noruega.

Certo dia ao término do trabalho, foi inspecionar a câmara frigorífica. Inexplicavelmente, a porta se fechou e ele ficou preso dentro da câmara.

Bateu na porta com força, gritou por socorro mas ninguém o ouviu, todos já haviam saído para suas casas e era impossível que alguém pudesse escutá-lo.

Já estava há quase cinco horas preso e debilitado com a temperatura insuportável. De repente a porta se abriu e o vigia entrou na câmara e o resgatou com vida.

Depois de salvar a vida do homem, perguntaram ao vigia: - "Por que foi abrir a porta da câmara se isto não fazia parte da sua rotina de trabalho? "

Ele explicou: 
- "Trabalho nesta empresa há 35 anos. Centenas de empregados entram e saem aqui todos os dias e ele é o único que me cumprimenta ao chegar pela manhã e se despede de mim ao sair. 

Hoje pela manhã disse “Bom dia” quando chegou. Entretanto não se despediu de mim na hora da saída.

Imaginei que poderia ter-lhe acontecido algo. Por isto procurei e o encontrei..."


* * *

Pergunta: Será que você seria salvo?


(Desconheço a autoria)





Fonte: grupo espiritismoonline  




28 agosto 2011

Amor e Ódio: duas faces de uma só realidade



Suponhamos que a esposa nos traia, que o filho nos rejeite, que o dinheiro ou o poder nos sejam arrebatados.

Passamos imediatamente a odiar os que nos privaram da posse daquilo que amamos ou valorizamos.

Com isto, percebemos que amor e ódio são duas faces de uma só realidade, luz e sombra, que em determinado ponto absorveram-se uma na outra, criando uma opressiva atmosfera de penumbra, na qual perdemos a visão dos caminhos e o senso de direção.

Para desfazer esse clima de crepúsculo, que agoniza e desorienta o Espírito, é preciso ajudá-lo a identificar bem seus sentimentos, a fim de separá-los.

Estejamos certos, para isso, de uma realidade indisputável, ainda que pouco percebida: o amor, como dizia Paulo aos Corintios, não acaba nunca.

Mesmo envolvido, soterrado no rancor e na vingança, ele subsiste, sobrevive, renasce, está ali.

O ódio não o exclui; ao contrário, fixa-o ainda mais, porque em termos de relacionamentos homem/mulher, o ódio é, muitas vezes, o amor frustrado.

Odiamos aquela criatura exatamente porque parece que ela não quer o nosso amor, porque nos recusa, nos traiu, nos desprezou, porque a amamos...

No momento, em que conseguirmos convencer o companheiro desencarnado, em crise, que ele odeia porque ainda ama, ele começa a recuperar-se, compreendendo que essa é uma verdade com a qual ele ainda não havia atinado.

Por mais estranho que pareça, o rancor contra a amada, ou o amado, que traiu ou abandonou, é que mantém acesa a chamazinha da esperança.

Aquele que deixou de amar é porque não amou bastante e, com menor dificuldade, desliga-se do objeto de sua dor.

Cedo compreende que não vale a pena perder seu tempo, e angustiar-se no doloroso processo de vingar-se, dado que – e isto também pode parecer contraditório – não podemos ignorar o fato de que a vingança impõe, também, ao vingador, penosas vibrações de sofrimento.

(Rubens Santini)







A cura da obsessão



Você é um ser humano adulto e consciente, responsável pelo seu comportamento.

Controle as suas idéias, rejeite os pensamentos inferiores e perturbadores, estimule as suas tendências boas e rejeite as más.

Tome conta de si mesmo.

Deus concedeu a jurisdição de si mesmo, é você quem manda em você nos caminhos da vida. Não se faça de criança mimada.

Aprenda a se controlar em todos os instantes e em todas as circunstâncias. Experimente o seu poder e verá que ele é maior do que você pensa.

A cura da obsessão é uma auto-cura. Ninguém pode livrar você da obsessão se você não quiser livrar-se dela.

Comece a livrar-se agora, dizendo a você mesmo: sou uma criatura normal, dotada do poder e do dever de dirigir a mim mesmo. Conheço os meus deveres e posso cumpri-los. Deus me ampara.

Repita isso sempre que se sentir perturbado.

Repita e faça o que disse.

Tome a decisão de se portar como uma criatura normal que realmente é, confiante em Deus e no poder das forças naturais que estão no seu corpo e no seu espírito, à espera do seu comando.

Dirija o seu barco. 

Reformule o seu conceito de si mesmo. Você não é um pobrezinho abandonado no mundo. Os próprios vermes são protegidos pelas leis naturais. Por que motivo só você não teria proteção?

Tire da mente a idéia de pecado e castigo. O que chamam de pecado é o erro, e o erro pode e deve ser corrigido. 

Corrija-se. Estabeleça pouco a pouco o controle de si mesmo, com paciência e confiança em si mesmo.

Você não depende dos outros, depende da sua mente. Mantenha a mente arejada, abra suas janelas ao mundo, respire com segurança e ande com firmeza.

Lembre-se dos cegos, dos mudos e dos surdos, dos aleijados e deficientes que se recuperam confiando em si mesmos. Desenvolva a sua fé.

Fé é confiança. Existe a Fé Divina, que é a confiança em Deus e no Seu Poder que controla o Universo. Você, racionalmente, pode duvidar disso?

Existe a Fé Humana, que é a confiança da criatura em si mesma. Você não confia na sua inteligência, no seu bom senso, na sua capacidade de ação?

Você se julga um incapaz e se entrega às circunstâncias deixando-se levar por idéias degradantes a seu respeito? Mude esse modo de pensar, que é falso.

Quando vier às reuniões de desobsessão, venha confiante. Os que o esperam estão dispostos a auxiliá-lo. Seja grato a essas criaturas que se interessam por você e ajude-as com sua boa vontade.

Se você fizer isso, a sua obsessão já começou a ser vencida. Não se acovarde, seja corajoso.


(Texto extraído do livro “Obsessão, Passe e Doutrinação” - J. Herculano Pires)




O que é Indução Hipnótica?



Nos trabalhos de desobsessão, é comum a presença de Irmãos Espirituais que trazem os sintomas de doenças que foram do seu corpo físico, ou das dores de um acidente que originou o seu desencarne, ou algo parecido. 

Neste momento específico não adianta o doutrinador colocar postulados do Espiritismo, falar mil palavras bonitas a respeito dos ensinamentos de Jesus, que não é isto o que esses Irmãos estão necessitando.

Eles, literalmente, precisam de um “médico”.

Muitas vezes, dependendo do estado em que se encontram, eles não conseguem visualizar os Mentores Espirituais, nem escutá-los, por mais que estes reduzam o seu teor vibratório. 

Daí, a necessidade dos trabalhos mediúnicos, com os encarnados!

O doutrinador tem que fazer o papel do médico à Entidade doente. 

Nada de explanações doutrinárias. O doente deseja um remédio que alivie as suas dores. Devemos usar a indução hipnótica, ou seja, o poder da sugestão. 

Muitas vezes, quando estamos induzindo a Entidade a tomar, por exemplo, um analgésico para eliminar a sua dor de cabeça, com certeza o Plano Maior estará fazendo algo parecido!

Vamos citar alguns exemplos práticos, para esclarecer o que estamos tentando descrever:

Caso 1 : A Entidade chegou com muita sede e fortes dores na região do tórax. Tossia muito e reclamava de falta de ar. 

O doutrinador forneceu-lhe, através da indução hipnótica, um copo de água e fez um gesto de levar este copo até a sua boca, para que pudesse matar a sua sede. 

No tratamento para a falta de ar, novamente utilizando o poder da sugestão, o doutrinador falou que os médicos estavam colocando uma máscara de oxigênio e pediu para que respirasse pausadamente, e sentisse o aroma de eucalipto entrar pelas narinas, levando o ar até os pulmões.

- “Agora, os médicos estão passando uma pomada verde, de ervas medicinais, para aliviar estas dores do tórax. Sinta que os pulmões estão aquecidos, e a corrente sangüíneas flui normalmente nesta região. 

Estamos vendo os enfermeiros colocarem uma sonda no seu braço esquerdo, onde um líquido amarelo irá percorrer pelo seu corpo, aliviando todas as dores, eliminando as infecções. 

Você irá sentir o seu corpo relaxado, e uma leve sonolência irá tomando conta de você. 

Procure relaxar, porque neste exato momento você estará sendo encaminhado para uma ambulância e dentro em breve estará no hospital. 

Durma um pouco. E que Jesus o proteja e alivie as suas dores. Vá em Paz!”

Como vocês podem ver, o desencarnado precisa sentir que está recebendo o socorro. Temos que dar-lhe a tranqüilidade de que os médicos estão ali ao seu lado dando-lhe o medicamento para as suas dores.


Caso 2 : Muitas vezes, recebemos a visita de Irmãos que foram resgatados das regiões mais baixas do Umbral. Alguns deles chegam com membros, ora atrofiados, ou que foram “decapitados”, devido ao processo de escravidão ao qual foram submetidas neste período umbralístico. 

E vem até nós para que possamos recuperar e reconstituir este membro que ficou inválido. 

Neste exemplo, uma Entidade chegou até nós, reclamando que as suas mãos estavam atrofiadas, por ele ter ficado muito tempo acorrentado. 

O doutrinador pediu que estendesse o seu braço. E usando a indução hipnótica, continuou:

- “Neste momento, está na sua frente, um médico cirurgião que irá reconstituir a sua mão. Ele está aplicando uma injeção nos seus braços, para que a corrente sangüínea possa fluir até as extremidades. 

Vá sentindo que um calor surge nos seus braços. 

Ele está reconstituindo dedo a dedo. Primeiro o polegar, agora o indicador, o dedo médio, o anular e o minguinho. Preste atenção, a sua mão direita está inteira! 

Agora, vamos reconstruir a sua mão esquerda. Olhe, todos os dedos vão surgindo, a mão está pronta. Tente mexer bem devagar, feche e abra lentamente as duas mãos. Viu como tudo é possível com a ajuda dos mensageiros de Jesus. 

E é a Ele que devemos agradecer, ao nosso Mestre Maior! 

Você ainda se lembra de como se reza? Então vamos fazer uma prece para agradecer a Jesus e ao Nosso Pai Celestial por esta benção recebida...”


Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/geae/enquanto-vivem-06.html


 




Dica de livro: "Gabriel, esperança além da vida" - Nilton Cesar Stuqui - Espírito Gabriel Martins



Emocionante e reconfortante. 

Assim é o relato de Gabriel, um jovem que desencarnou aos 20 anos, vítima de um acidente automobilístico. 

Nesta obra, ele conta sua "História de Vida após a Vida", descrevendo minuciosamente sua passagem pelo coma, a preparação para a doação de órgãos, sua chegada à Colônia Espiritual e o encontro com pessoas queridas, como sua avó e amigos espirituais, assim como todo o processo de adaptação no Plano Espiritual e os ensinamentos que recebeu para poder enviar “mensagens psicografadas à Terra”. 

Este livro mostra ainda como o pensamento de familiares e amigos podem influenciar aquele que está partindo. 

Com estes relatos, Gabriel traz conforto e esperança às famílias que passaram ou estão passando pela dor da separação e nos dá a certeza do reencontro, pois Deus jamais separa aqueles que se amam.





27 agosto 2011

Quais Punhais pelas Costas




Alfinetam-te pelas costas, e sangras, porque são tantas, tão frequentes e por tão longo tempo aplicadas tais minúsculas alfinetadas, que acabam por te ferirem profundamente o coração dadivoso, generoso e sensível, fazendo-te sangrar a alma.

Como, quase nestas palavras, reza “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, de autoria e organização do ínclito Allan Kardec, no artigo sobre a paciência, subscrito, mediunicamente, por “Um Espírito Amigo”. *

Revê teu ponto de vista, porém, e não te sintas cercado e marcado pela tragédia, mas apenas inserido n’uma melindrosa condição de, digamos, “estrangeirismo vibratório”, pouco cômoda para ambas as partes; e, naturalmente, bem pior para ti, que és o diferente, ‘inda mais o marginal da “banda de Cima”.

É natural que teus antagonistas se portem assim.

Eles não são de onde vens, muito embora muitos se sintam pessoas muito especiais, ironicamente, mesmo no campo espiritual e moral. 

Como disse Jesus a Seus discípulos sinceros: “eles são do mundo e vós não sois do mundo”.

Logo, não há como esperar interações muito harmônicas, sobremaneira no que concerne ao campo psíquico, que eles presumem que não notas, e percebes claramente: ou seja, os pensamentos e sentimentos ocultos que guardam sobre ti, e que te magoam o espírito.

Não te compreendem os intentos, alcunham-te de tudo que pretendem, conforme a projeção de suas neuroses, paixões e pretensões de superioridade, chegando, inclusive, ao disparate de duvidar de teu caráter.

Apieda-te deles, pois – como orou o Mestre, do Alto da Cruz, na intenção de Seus Crucificadores: “Pai, perdoa-os, porque não sabem o que fazem…”

Cumpres um Mandato do Céu, em pleno domínio da matéria…

Eles vivem vidas vazias, imersos exatamente no âmbito horizontal dos interesses sociais, econômicos, políticos, etc, desta contingência tão fugaz que é a situação que circunda e é relacionada ao corpo material, tão efêmero!

Os corpos físicos de todos lentamente se consomem, na direção do túmulo, após o que todos darão contas do que fizeram da quota de tempo que lhes foi concedida, generosamente, pelo Criador.

Agora mesmo, entretanto, já te colocas a serviço do Alto, enquanto eles se põem a serviço de interesses mesquinhos do próprio ego, tratando de assuntos passageiros, posses, posições e negócios, que ficarão para trás, logo mais, quando a morte os vier buscar, para a verdadeira vida… a qualquer hora… e não tão longe, na linha fatal do tempo, como eles preferem imaginar… é claro!

Tem compaixão deles, e ora.

Sentir-te-ás melhor, quando notares que, no fundo, é isso que sentes: profunda tristeza por vê-los tomarem rotas tão infelizes para si próprios, e não mágoa pelo que pensam ou dizem de ti – não é verdade?

Porque sabes que em nada alteram ou poderiam modificar em tua rota ou na dimensão e qualidade de tuas realizações, para Deus, porque ninguém pode contra o Criador… e sabes estar a serviço d’Ele.

Quanto a eles… que cobertura têm?

Relaxa e pacifica tua alma.

Está tudo bem.

Perdoa, como sempre fazes, e prossegue em tua tarefa do Bem.



(Benjamin de Aguiar, pelo Espírito Gustavo Henrique)

(Texto recebido em 13 de junho de 2010.)



* Item 7, capítulo IX de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec.




Dica de livro: “A Imensidão dos Sentidos - Aprendendo a lidar com a sua Mediunidade” - de Francisco do Espírito Santo Neto - Espírito Hammed.



O médium autêntico não copia ninguém.

Não se limita a seguir caminhos já percorridos; tem a habilidade de ver as coisas com olhos novos, fazer associações que transcendem o comum.

(...) O médium é um ser integral, ele não é somente a alma. O corpo faz parte do seu eu total, quer dizer, acima de tudo é uma individualidade, e não um ser dividido.

A nossa percepção pode vir acompanhada por um conjunto de impressões com qualidades diferentes, como: os sentimentais (amor, alegria, tristeza, angústia), as emocionais (raiva, libido, medo, surpresa), as cinestésicas (tato, olfato, gustação).

Para conseguirmos uma comunicação plena com a própria intimidade e com os outros, seja nas relações sociais, profissionais, afetivas ou mediúnicas, é necessário que o corpo e a alma estejam em perfeita sintonia.

(Espírito Hammed)

* * *

Trechos extraídos do livro “A Imensidão dos Sentidos - Aprendendo a lidar com a sua Mediunidade” - de Francisco do Espírito Santo Neto - Espírito Hammed.

Como “olhar” além do óbvio e do que nossos cinco sentidos podem oferecer? Como adentrar no vasto campo da sabedoria espiritual de forma natural e espontânea?

Recomendo!



Deixem a entidade espiritual falar



É preciso deixá-los falar, pois, do contrário, não poderemos ajudá-los. 

É necessário conhecer a sua história, suas motivações e sua razões. 

(...) Não esperemos, jamais, uma expressão inicial sensata e equilibrada, amorosa e tranqüila, da parte daqueles que se acham desarmonizados. 

Se assim fosse, não precisariam de nós: já teriam encontrado seus próprios caminhos. Esperemos, isto sim, uma eloqüente manifestação de revolta, rancor, desespero, aflição, desencanto, ou perplexidade, segundo a natureza dos problemas que os abrasam. 

(...) O longo trato com eles, nos ensina que têm o hábito de “pensar alto”. Isto se deve a um mecanismo psicológico irresistível, do qual muitas vezes eles nem tomam conhecimento, e no qual, mesmo os mais hábeis e ardilosos deixam-se envolver. 

É que o médium lhes capta o pensamento, e não a palavra falada. 

Se o médium se limitasse a transmitir-lhes a palavra, mesmo assim, eles acabariam por revelar as suas verdadeiras posições, embora pudessem sonegar a verdade por maior espaço de tempo, mas é do próprio dispositivo mediúnico converter em palavras e gestos, aquilo que o Espírito elabora na sua mente. 

Eles não conseguirão por muito tempo, ocultar as verdadeiras causas da sua dor e a razão da sua presença, pois é isso, precisamente, que os traz a nós. 

(...) Insistimos, pois em afirmar que o médium traduz em palavras o que ele sente no Espírito manifestante: suas emoções, seu temperamento, seus problemas, suas desarmonias, ao mesmo tempo em que lhe reproduz os gestos, e a voz alteia-se ou sussurra, reflete ódio ou desprezo, ironia ou amargor, perplexidade ou aflição. 

Se assim não fosse, teríamos que falar com cada Espírito na sua própria língua, ou seja, na língua que ele falou por último, na sua mais recente encarnação, e todo médium precisaria ser xenoglóssico.

(...) Pouco a pouco, o diálogo vai se desenvolvendo, a partir de uma espécie de monólogo, pois, no princípio, como vimos, é necessário deixar o Espírito falar, para que informe sobre si mesmo, o que acaba acontecendo. 

Muitos o fazem logo de início, dizendo prontamente a que vieram e o que pretendem. 

Mesmo a estes, porém, é preciso deixar falar, a fim de nos aproximarmos do âmago de seus problemas. 

Outros são bem mais artificiosos. Usam da ironia, fogem às perguntas, respondendo-nos com outras perguntas ou com sutis evasivas, que nada dizem. (...)

Deixemo-lo falar, mas não tudo quanto queira, senão ficará andando em círculo, à volta de sua idéia central. 

Neste caso, continuará a repetir incessantemente a mesma cantilena trágica: a vingança, o ódio, a impossibilidade do perdão, o desejo de fazer a vítima arrastar-se no chão, como um louco varrido, e coisas semelhantes. 

O doutrinador precisa ter bastante habilidade para mudar o rumo de seu pensamento. 

Terá que fazê-lo, não obstante, com muita sutileza, arriscando, aqui e ali, uma pergunta mais pessoal, falando-lhe de uma passagem evangélica que se aplique particularmente ao seu caso. 

(...) No entanto, é preciso ajudá-lo a quebrar o terrível círculo vicioso em que se debate. Veja bem: ajudá-lo a quebrar, não quebrar, arrancá-lo à força. Ele tem que sair com seu próprio esforço. 

Por outro lado, a fixação é, às vezes, tão pronunciada e tão absorvente, que o Espírito não tem condições sequer de ouvir o doutrinador, ou pelo menos, não reage de maneira inteligível ao que este lhe diz. 

Isto não significa que o doutrinador deve calar-se; continue a falar-lhe, que as palavras irão insensivelmente se depositando nele, e mesmo que ele pareça não ouvir – e isso ocorre mesmo em certos casos – seu próprio Espírito sente as vibrações fraternas que sustentam as palavras. 

Se é que o doutrinador realmente sente o que fala, ou melhor ainda, fala o que de fato sente.

Aguarde-se, pois, o momento de ajudá-lo a sair um pouco de si mesmo. 

Tem que haver na sua memória outras lembranças, outros sentimentos e até mesmo outras angústias, além daquela que constitui o núcleo da sua problemática. 

Coloque, de vez em quando, uma pergunta diferente, procurando atraí-lo para outras áreas da sua memória. Como por exemplo: teve filhos? Que fazia para viver? Crê em Deus? Onde viveu? Quando aconteceu o drama? Tem notícias de amigos e parentes daquela época?

É claro, porém, que essas perguntas não devem ser desfechadas numa espécie de bombardeio ou de interrogatório. 

Ninguém gosta de submeter-se a devassas íntimas. 

Com freqüência, os manifestantes reagem perguntando se estão sendo forçados a processos inquisitoriais. Ou, simplesmente, se recusam a responder. Ou dão respostas evasivas. Ou...respondem.


(Rubens Santini de Oliveira)







Todo azul do mar


25 agosto 2011

Passaporte para renascer




Os preparativos

Nas vizinhanças da capital mineira existe uma colônia na
espiritualidade onde se abriga um grupo de candidatos ao renascimento. 

Já se vão 3 exaustivos anos de cursos, terapia comportamental,
revisão de vidas passadas, opções de datas, escolha de familiares sintonizados com o projeto de cada interessado. É preciso ajustar a possibilidade de doenças inesperadas, acidentes imprevistos e recursos financeiros.

De uma forma ou de outra, o períspirito de cada um deles traz as sequelas de abusos de encarnações mal aproveitadas e tudo isso é conta no passivo que vai exigir reajuste.

O trabalho psicológico é intenso. Para todos, é necessário dominar os medos, lutar para vencer os sentimentos de culpa, repetir lições para não caírem nos mesmos desatinos e se firmarem o mais cedo possível nas orientações de Jesus.

Praticamente todos terão, de um jeito ou de outro, a oportunidade de conhecerem a Doutrina Espirita.


A pré-seleção

Saulo Lins, Espírito nobre, esboçando extrema serenidade, irá entrevistar a cada um deles, ouvindo pedidos e promessas


Os candidatos:

Terezinha Aguiar

Foi bailarina em casa noturna, sofrendo humilhações e abusos. Agora pede para nascer na pobreza do interior da Bahia, onde implora a possibilidade de ser uma simples lavadeira, daquelas que se ajoelham na barranca dos rios lavando a roupa da família

Agenor Mariano

Foi farmacêutico humilde na periferia da cidade e, agora, terá a oportunidade de ser sanitarista na capital mineira. Expõe a Saulo os seus temores, seus medos, sua insegurança e pede ao dirigente um pouco mais de prazo para se preparar melhor. Voltar a Terra enfrentando seus desafios é sempre uma temeridade mesmo para os que reprogramam cautelosamente sua reencarnação.

Consuelo Linhares

Está aflitíssima, reclama que não suportará de novo aquele monte de filhos. Afinal, foram eles que não permitiram que ela tivesse uma vida melhor na capital mineira. Sempre a condenaram por tê-los deixado com as avós e, não suportaria cuidar de crianças outra vez

Marta Constantino de Jesus

Exige pressa - afinal o esposo já reencarnou e ele não vive sem ela - sempre quem cuidou de tudo foi ela – exige uma definição mais clara de quem será sua família – não suportaria a pobreza

Jovina Cortez

Também tem pressa – as dores no peito incomodam, as pernas que não obedecem, a cabeça sempre atordoada, acorda em sobressaltos – quem sabe um novo corpo a livra de tanta doença. Não sabe como vai se virar sem escravos e pagar empregados sem garantia de recursos financeiros é praticamente impossível.

Cláudio José Lobo

Foi sacerdote na ultima encarnação envolvendo-se gravemente em ligações amorosas. Hoje pede para ser encaminhado à instituição onde possa aprender com a orfandade a valorizar a família.

José Barroso Coelho

Comprometido com o alcoolismo solicita a oportunidade de resgate numa enfermaria onde desde criança padeça atrás de um transplante de fígado

Manoel Francoso

Sem controle, embriagado, fez várias vítimas num atropelamento, vindo a falecer entre as ferragens do caminhão que dirigia. Implora para nascer cego com a possibilidade de trabalhar como fisioterapeuta entre paralíticos


Lição de casa

Anotando o pedido de cada um, Saulo, ergue-se e pronuncia a palavras do Mestre:

“Quem quiser vir até a Mim, tome de tua cruz e siga-Me”

(Nubor Orlando Facure)






O Amor, o Ódio e a Reencarnação




As almas em processo de reencarnação são em geral, atraídas para o mesmo ambiente e convívio das pessoas às quais já estiveram ligadas por laços afetivos ou situações de ódio.

A reencarnação na primeira hipótese, é um premio as criaturas unidas por sentimentos de amor. Na segunda hipótese, é um recurso para eliminação de antagonismos (incompatibilidades) que existiram em encarnações anteriores.

Durante o planejamento reencarnatório no astral, pais, filhos, familiares, amigos, tiveram conhecimentos das dificuldades que iriam enfrentar na vida material, e aceitaram as provas futuras.

Por isso, é necessário, para que não se perca o período de uma encarnação, tratar bem os familiares e os amigos, com todo amor possível, e esquecer as divergências, os ódios.

Da mesma forma que nós sabemos que iremos morrer um dia, o Espírito sabe que irar reencarnar.

Sabe ele que isso é uma necessidade, assim como morrer é uma necessidade da matéria.

Dependendo do grau de evolução dos espíritos, a reencarnação pode ser uma benção ou uma punição. Alguns Espíritos apressam a reencarnação enquanto outros querem retardá-la por medo das provas que terão que enfrentar, Espíritos também são covardes e inseguros.

Porém por mais que retardem a volta, um dia terão que retornar, pois a reencarnação é a melhor forma de progredir.

O Espírito pode, dependendo da sua evolução, escolher a prova, ou seja, o seu destino na Terra.

A este Espírito pode ser dada à escolha do corpo que irá ter na Terra e também as imperfeições que certamente lhe auxiliarão no seu progresso, e vencer os obstáculos faz parte de sua evolução.

Essa escolha nem sempre lhe é dada, tudo depende do grau evolutivo dos Espíritos, pois às vezes ele não está apto para escolher o melhor caminho. O corpo que o Espírito recebe tem que estar coerente com as provas que este terá que enfrentar.

Às vezes mais de um Espírito desejam encarnar em um mesmo corpo, mas será escolhido o que for mais capaz de cumprir a missão que se destina essa criança, ou seja, o que se encaixe dentro desta proposta de vida.

(O Espírito é designado bem antes do momento de unir-se a criança)

No momento de encarnar o Espírito sofre grande perturbação, maior e mais longa do que as do desencarne.

Essa agonia se deve à incerteza se conseguirá suportar as provas a ele destinadas. Pela morte o Espírito sai da escravidão, pelo nascimento entra para ela.

Podemos comparar a encarnação a um viajante que embarca para uma travessia perigosa e sabe a que perigo se lança, porém não sabe se naufragará.

Dependendo do grau de evolução do espírito, alguns amigos espirituais o acompanham até o momento do nascimento e às vezes o seguem durante sua vida. Dizem que alguns espíritos de rostos desconhecidos que vemos em sonhos são por vezes esses amigos de outras jornadas.

A união da alma com o corpo começa na concepção, mas só se completa por ocasião do nascimento.

Desde o momento da concepção o Espírito designado para habitar certo corpo a este se liga por um laço fluídico, que cada vez mais vai se apertando até ao instante que a criança vê a luz. O grito que a criança emite, anuncia que ela se encontra no mundo dos vivos.

Esta união com o corpo no momento da concepção é definitiva, porém como os laços que o prendem ainda são muito fracos, facilmente se rompem, às vezes por vontade do Espírito, se este recua diante da prova que escolheu. Nesse caso a criança não vinga e morre.

Fora a vontade do espírito candidato, pode ocorrer motivos diversos que acabam impedindo que a criança nasça e neste caso o espírito escolherá outro corpo que melhor se adapte ao carma escolhido por ele.

Por vezes um bebê nasce e em poucos dias ou meses morre, na maioria dos casos é um aprendizado mais para os pais do que para o Espírito, pois este ainda não tem consciência plena de sua existência. 

Quando ocorre uma falha qualquer na encarnação de um Espírito, nem sempre esta encarnação é substituída de imediato por outra, é dado aos Espíritos um tempo para que se faça outra escolha.

Quando um Espírito se arrepende da escolha que fez, por não suportar o peso de seu carma, tornam-se melancólicos, queixosos, infelizes e acabam tentando contra sua própria vida, utilizando drogas lícitas ou até ilícitas.

Temos que pensar que a encarnação é uma oportunidade dada para nossa evolução, devemos encarar com seriedade essa chance e não desperdiçá-la com lamentações. Alguns acabam achando tão ruim a escolha feita que terminam com sua própria vida. (suicídio)

A união da alma com o novo corpo físico começa com a concepção, mas só se completa com o nascimento com vida. O espírito reencarnante somente se liga ao feto através de um conduto, um fio fluídico extremamente tênue, que se fortalece no instante do nascimento.

Antes de reencarnar o espírito está sempre próximo do embrião que irá constituir o seu futuro corpo físico.

É a razão por que os médiuns videntes vêem uma criança, perto das senhoras grávidas.

No astral, após ter sido estabelecida a próxima reencarnação, antes mesmo da concepção, o perispírito do reencarnante inicia um processo de redução da sua estrutura orgânica para se adaptar ao futuro corpo.

Aos três meses as estruturas anatômicas do feto e do perispírito se tornam exatamente iguais, e evoluem paralelamente até o dia do nascimento.

Durante o processo de redução do perispírito, a lembrança dos acontecimentos das vidas anteriores fica inteiramente encerrada nos arcanos da alma, no inconsciente profundo, e só começa a ressurgir, gradativamente, durante a infância.


(Dinkel Dias da Cunha)









24 agosto 2011

Vocabulário espírita para nossos netos



Este é parte de um texto extraído do livro “O homem que veio da sombra” de Luiz Gonzaga Pinheiro.

Mesmo que nossas crenças sejam diferentes, a beleza do significado é universal.

"A maturidade me permite olhar com menos ilusões, aceitar com menos sofrimento,entender com mais tranquilidade, querer com mais doçura"...

* * *

Adeus: É quando o coração que parte deixa a metade com quem fica.
Amigo: É alguém que fica para ajudar quando todo mundo se afasta.
Amor ao próximo: É quando o estranho passa a ser o amigo que ainda não abraçamos.
Caridade: É quando a gente está com fome, só tem uma bolacha e reparte.

Carinho: É quando a gente não encontra nenhuma palavra para expressar o que sente e fala com as mãos, colocando o afago em cada dedo
Ciúme: É quando o coração fica apertado porque não confia em si mesmo.
Cordialidade: É quando amamos muito uma pessoa e tratamos todo mundo da maneira que a tratamos.
Doutrinação: É quando a gente conversa com o Espírito colocando o coração em cada palavra.

Entendimento: É quando um velhinho caminha devagar na nossa frente e a gente estando apressado não reclama.
Evangelho: É um livro que só se lê bem com o coração.
Evolução: É quando a gente está lá na frente e sente vontade de buscar quem ficou para trás.
Fé: É quando a gente diz que vai escalar um Everest e o coração já o considera feito.

Filhos: É quando Deus entrega uma jóia em nossa mão e recomenda cuidá-la
Fome: É quando o estômago manda um pedido para a boca e ela silencia.
Inimizade: É quando a gente empurra a linha do afeto para bem distante.
Inveja: É quando a gente ainda não descobriu que pode ser mais e melhor do que o outro.

Lágrima: É quando o coração pede aos olhos que falem por ele.
Lealdade: É quando a gente prefere morrer que trair a quem ama.
Mágoa: É um espinho que a gente coloca no coração e se esquece de retirar.
Maldade: É quando arrancamos as asas do anjo que deveríamos ser.

Mediunidade com Jesus: É quando a gente serve de instrumento em uma comunicação mediúnica e a música tocada parece um noturno de Chopin.
Morte: Quer dizer viagem, transferência ou qualquer coisa com cheiro de eternidade.
Netos: É quando Deus tem pena dos avós e manda anjos para alegrá-los.
Obsessor: É quando o Espírito adoece,manda embora a compaixão e convida a vingança para morar com ele.

Ódio: É quando plantamos trigo o ano todo e estando os pendões maduros a gente queima tudo em um dia.
Orgulho: É quando a gente é uma formiga e quer convencer os outros de que é um elefante.
Paz: É o prêmio de quem cumpre honestamente o dever.
Perdão: É uma alegria que a gente se dá e que pensava que jamais a teria.

Perfume: É quando mesmo de olhos fechados a gente reconhece quem nos faz feliz.
Pessimismo: É quando a gente perde a capacidade de ver em cores.
Preguiça: É quando entra vírus na coragem e ela adoece.
Raiva: É quando colocamos uma muralha no caminho da paz.

Reencarnação: É quando a gente volta para o corpo, esquecido do que fez, para se lembrar do que ainda não fez.
Saudade: É estando longe, sentir vontade de voar, e estando perto, querer parar o tempo.
Sexo: É quando a gente ama tanto que tem vontade de morar dentro do outro.
Simplicidade: É o comportamento de quem começa a ser sábio.

Sinceridade: É quando nos expressamos como se o outro estivesse do outro lado do espelho.
Solidão: É quando estamos cercado por pessoas, mas o coração não vê ninguém por perto.
Supérfluo: É quando a nossa sede precisa de um gole de água e a gente pede um rio inteiro.
Ternura: É quando alguém nos olha e os olhos brilham como duas estrelas.
Vaidade: É quando a gente abdica da nossa essência por outra, geralmente pior.




Mãe Desnecessária



A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.

Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha.

Até agora.

Agora, quando minha filha de quase 18 anos começa a dar vôos-solo.

Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso.

Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.

Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.

Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.

Ser 'desnecessária' é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos,
confiantes e independentes.

Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.

A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.

A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.

Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.

Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.

O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado ou o conforto nas horas difíceis.

Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.

Esse é o maior desafio e a principal missão.

Ao aprendermos a ser 'desnecessários', nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

(Márcia Neder)





23 agosto 2011

Nas Sombras



Belizário imaginava viver um pesadelo.

Transitava por região de denso nevoeiro, lúgubre, vegetação rasteira, ouvindo gritos e clamores de gente agoniada.

Vozes impiedosas vociferavam contra ele.

— Hipócrita! Mau-caráter! Bandido! Explorador dos fracos! Mentiroso contumaz!

Em que abismo insondável fora segregado?

De onde vinham aquelas acusações?!

Que inimigos desconhecidos estavam unidos no propósito de atormentá-lo?!

Que era feito de sua família, Suzana, a esposa, Júnior, Maurício e Carmem, os filhos amados?

Tinha sede e fome.

Fugia sempre, cambaleante, inquieto, apavorado, a derramar lágrimas ardentes, sentindo-se ameaçado por forças tenebrosas.
Filho de pais espíritas, desde cedo fizera sua iniciação.

Frequentara os cursos para a infância e juventude; estava ligado a um Centro Espírita.

Conhecia o bê-á-bá da Espiritualidade, revelado pela Doutrina, o que lhe permitiu identificar sem delongas onde estagiava compulsoriamente.

Certamente era o umbral!
Sim, o umbral! O terrível purgatório do qual tomara conhecimento lendo Nosso Lar, a monumental obra do Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier.

Quando lhe ocorreu essa idéia, desesperou-se.
— Meu Deus! Morri!

Mais ardentes se tornaram suas lágrimas.
Não era possível! Tinha apenas cinquenta e cinco anos! Família a cuidar, a indústria, os negócios e compromissos!

Não! Deus não podia fazer isso com ele!
Orou como nunca o fizera, ajoelhado, mãos postas, implorando à Misericórdia Divina que tudo aquilo fosse apenas um pesadelo terrível!

Queria acordar, livrar-se daquela paisagem sinistra, superar os tormentos que assolavam sua alma, encontrar um lenitivo!
Que sortilégio o conduzira até ali?!

Sempre entendera que sua ligação com o Espiritismo seria um passaporte garantido para paragens mais amenas, em contato com benfeitores e o reencontro maravilhoso com amigos e familiares desencarnados.

Jamais imaginara que a morte lhe reservasse semelhante surpresa!

Nunca se dera ao trabalho de ponderar que muito será pedido a quem muito se ofereceu, segundo as sábias palavras de Jesus.

Embora inteligente e culto, nunca atentara à responsabilidade de ser espírita, nem percebera um ponto fundamental: O conhecimento da verdade implica compromisso com ela!

A visão de realidade espiritual, proporcionada pela Doutrina Espírita, impõe retificações na conduta que jamais se dispusera a efetuar.

Ficara sempre em águas de superficialidade, sem realizar o mínimo esforço no sentido de ajustar-se aos valores do Evangelho, conforme sinalizam os princípios codificados por Allan Kardec.

***

Não saberia dizer por quanto tempo esteve assim, a chorar, suplicando ajuda à Misericórdia Divina.
Somente quando cessou o questionamento egoístico, favorecendo um toque de humildade; quando caiu em si, conforme a Parábola do Filho Pródigo (Lucas, 15:11-32), reconhecendo sua própria pequenez diante de Deus, modificou-se o panorama de suas amarguras.

Pelo véu espesso das lágrimas, viu surgir alguém.
— Então, meu caro Belizário, está gostando deste SPA da alma?

Nosso herói identificou de pronto o velho Ferreira, espírita sempre bem-humorado e dedicado às lides doutrinárias.

Desencarnara há alguns anos, após uma existência plena de realizações no campo do Bem.

Ergueu-se e o abraçou, a chorar copiosamente.
— Ah! Ferreira, meu caro Ferreira! Sua presença confirma minhas suspeitas de que retornei à Espiritualidade, mas, por favor, meu amigo, não brinque! Sinto-me nas profundezas de tenebroso inferno, sofrendo torturas intraduzíveis!

O socorrista, a sorrir, confirmou:
— Nada disso, meu caro. Aqui é, realmente, um SPA para queima de gorduras espirituais adquiridas nos excessos da romagem humana.
— Por que eu? Não fui má pessoa...
— Pois saiba que está exatamente no lugar compatível com suas necessidades espirituais.
— Não entendo...
— Nossas ações, nossa maneira de ser, nossas iniciativas, determinam o peso específico de nossa alma e a região para onde a morte nos transportará. Sua densidade espiritual o remeteu para estas paragens inóspitas, onde estagiam os que não cultuaram a dignidade da vida, nem respeitaram os desígnios do Senhor.
— Mas, Ferreira, não fui um criminoso, um irresponsável! Você me conhece! Sempre procurei agir de acordo com minha consciência!
— Como ocorre com todos os homens desligados dos valores espirituais, você faz uma apreciação lisonjeira de si mesmo, mas a realidade é diferente. Faltou-lhe encarar com seriedade as responsabilidades da jornada humana.

Sua existência sempre foi orientada pelos interesses pessoais, sob a inspiração do egoísmo, mesmo no círculo familiar, onde somos convidados a mudar a conjugação do verbo de nossas ações, da primeira pessoa do singular — eu, para a primeira do plural — nós.

Natural que agora se veja onde está, um purgatório compatível com o tipo de vida que levou.


* * *

Eis um trecho do livro “Mudança de Rumo” - Richard Simonetti 


Nele, vemos a comovente história de um homem que reavaliou e modificou sua existência a partir de uma excursão por regiões tenebrosas do além, em dramática e inesquecível EQM, a experiência de quase-morte.

Recomendadíssimo!