"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

30 setembro 2016

Não chores diante do meu túmulo - Mary Elizabeth Frye


Não chores diante do meu túmulo
Eu não estou lá
Eu não durmo
Eu sou os mil ventos que sopram
Eu sou o diamante que cintila na neve
Eu sou o sol nos grãos maduros
Eu sou a suave chuva de outono
E quando acordares no silêncio da manhã
Eu sou a prontidão inspiradora
Das aves tranquilas circulando em voo
Eu sou as estrelas que brilham suave na noite
Não chores diante do meu túmulo
Eu não estou lá
Eu não morri.


Não chore à beira do meu túmulo,
Eu não estou lá… eu não dormi.
Estou em mil ventos que sopram,
E a neve macia que cai.
Nos chuviscos suaves,
Nos campos de colheita de grãos.
Eu estou no silêncio da manhã.
Na algazarra graciosa,
De pássaros a esvoaçar em círculos.
No brilho das estrelas à noite,
Nas flores que desabrocham.
Em uma sala silenciosa.
No cantar dos pássaros,
Em cada coisa que lhe encantar.
Não chore à beira do meu túmulo desolado,
Eu não estou lá – eu não parti.

*


Mary Elizabeth Frye (1905-2004) era uma dona de casa e florista.

Nascida em Ohio, nos Estados Unidos, ela ficou conhecida graças a este poema, escrito em 1932 inspirado pela história de uma jovem judia, Margaret Schwarzkopf.

Conta-se que o poema foi escrito em uma sacola de compras de papel pardo.

Frye fez muitas cópias e distribuiu para amigos e conhecidos.

Ela nunca publicou nem recebeu qualquer direito autoral pelo poema.

Sua identidade permaneceu desconhecida até o final de 1990, quando ela revelou ser a autora.



*  *  *

Às vezes não é preciso dizer nada...só admirar...



*  *  *


A triste geração que virou escrava


E a juventude vai escoando entre os dedos.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre.
Tinha pena dos avós, que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguer, a escola e as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não falavam inglês fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia quase bilíngue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão, mandarim.
Frequentou as melhores escolas.
Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos melhores estágios.
Foram efetivados. Ficaram orgulhosos, com razão.
E veio pós, especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.

Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o que não precisava.
Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45.
Aos 30 ganhava o que os pais ganharam durante a vida toda.
Aos 35 ganhava o que os pais nunca sonharam ganhar.
Ninguém os podia deter. A experiência crescia diariamente, a carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava cada vez mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual já não se podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era ambição, o que era ganância, o que era necessário e o que era vício.

O dinheiro que estava na conta dava para muitas viagens.
Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona.
Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia.
Dava para voar bem alto.
Mas, sabe como é? Prioridades. Acabavam sempre ficando ao invés de sempre ir.
Essa geração tentava convencer-se de que podia comprar saúde em caixinhas.
Chegava a acreditar que uma hora de corrida podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo.
Aos 20: ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.
Uma estranha geração que tomava café para ficar acordada e comprimidos para dormir.
Oscilavam entre o sim e o não. Você dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim. Quer destacar-se na equipa? Sim.

Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia uma perspectiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram ao aniversário de um velho amigo porque ficaram até às 2 da manhã no escritório.
Aos 35 eles não viram o filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando saíam ele não tinha acordado.
Às vezes, choravam no carro e, descuidadamente começavam a perguntar-se se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias num hotel fazenda pudessem fazer algum sentido.
Mas não dava mais tempo.
Já eram escravos do câmbio automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa, dos olhares curiosos dos “amigos”.
Era uma vez uma geração que se achava muito livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha dinheiro.
Só não tinha controle do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando.
Só não percebia que a juventude se estava escoando entre os dedos e que os bônus do final do ano não comprariam os anos de volta.

(Texto de Mia Couto)



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17 setembro 2016

Quando não cumprimos aquilo que prometemos


“Diz a sabedoria indígena que quando não cumprimos aquilo que prometemos, o fio de nossa ação que deveria estar concluída e amarrada em algum lugar fica solto ao nosso lado.

Com o passar do tempo, os fios soltos enrolam-se em nossos pés e impedem que caminhemos livremente… ficamos amarrados às nossas próprias palavras.

Por isso os nativos tem o costume de: “por-as-palavras-a-andar”, que significa agir de acordo com o que se fala.

Isso conduz à integridade entre o pensar, o sentir e o agir no mundo e nos conduz ao Caminho da Beleza, onde há harmonia e prosperidade naturais.”


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Morte - Pedro Bial


A morte por si só, é uma piada pronta.

A morte é ridícula.

Você combinou de jantar com a namorada, está em pleno tratamento dentário.

Tem planos para semana que vem, precisa autenticar um documento em cartório...

Colocar gasolina no carro e no meio da tarde...

MORRE.

Como assim?

E os e-mails que você ainda não abriu?

O livro que ficou pela metade?

O telefonema que você prometeu dar à tardinha para um cliente?

Não sei de onde tiraram esta idéia:

MORRER...

A troco de que?

Você passou mais de 10 anos da sua vida dentro de um colégio estudando fórmulas químicas que não serviram para nada, mas se manteve lá, fez as provas, foi em frente.

Praticou muita educação física, quase perdeu o fôlego. Mas não desistiu.

Passou madrugadas sem dormir para estudar para o vestibular mesmo sem ter certeza do que gostaria de fazer da vida, cheio de dúvidas quanto à profissão escolhida...

Mas era hora de decidir, então decidiu, e mais uma vez foi em frente...

De uma hora para outra, tudo isso termina...

Numa colisão na freeway...

Numa artéria entupida...

Num disparo feito por um delinquente que gostou do seu tênis...

Qual é?

Morrer é um chiste.

Obriga você a sair no melhor da festa sem se despedir de ninguém, sem ter dançado com a garota mais linda, sem ter tido tempo de ouvir outra vez sua música preferida.

Você deixou em casa suas camisas penduradas nos cabides, sua toalha úmida no varal, e penduradas também algumas contas...

Os outros vão ser obrigados a arrumar suas tralhas, a mexer nas suas gavetas...

A apagar as pistas que você deixou durante uma vida inteira.

Logo você que dizia: das minhas coisas cuido eu.

Que pegadinha macabra: você sai sem tomar café e talvez não almoce, caminha por uma rua e talvez não chegue na próxima esquina, começa a falar e talvez não conclua o que pretende dizer.

Não faz exames médicos, fuma dois maços por dia, bebe de tudo, curte costelas gordas e mulheres magras e morre num sábado de manhã.

Se faz check-up regulares e não tem vícios, morre do mesmo jeito...

Isso é para ser levado a sério?

Tendo mais de cem anos de idade, vá lá, o sono eterno pode ser bem-vindo...

Já não há muito mesmo a fazer, o corpo não acompanha a mente, e a mente também já rateia, sem falar que há quase nada guardado nas gavetas.

Ok, hora de descansar em paz.

Mas antes de viver tudo?

Morrer cedo é uma transgressão, desfaz a ordem natural das coisas.

Morrer é um exagero.

E, como se sabe, o exagero é a matéria-prima das piadas.

Só que esta não tem graça.

Por isso viva tudo que há para viver.

Não se apegue as coisas pequenas e inúteis da vida...

Perdoe...

Sempre!!


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03 setembro 2016

Acredite, os bons são maioria.



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Estamos precisando de uma visão otimista e positiva sobre como está nosso mundo.

Aqueles que desejam ver o mundo em pânico e se alimentam de notícias ruins - pois dizem que são essas que vendem - não podem mais controlar nossos sentimentos.

Nós, como consumidores de notícias, de informações, devemos mostrar que desejamos também ver o lado bom do mundo, da vida, das pessoas.

Se analisarmos qualquer noticiário, seja local ou nacional, iremos ainda perceber a grande dominação das notícias ruins, como se o mundo estivesse vivendo o caos absoluto.

Não é bem assim. Muito de bom está sendo feito no mesmo instante em que ocorrem assassinatos, acidentes, crises políticas, etc.

O bem está sendo construído no mundo, sim, mesmo os pessimistas e terroristas de plantão dizendo que não ou mesmo se negando a ver.

O que acontece é que, muitas vezes, os bons ainda são tímidos e receosos. Isso os impede de se sobrepor aos maus bulhentos e arrojados.

Allan Kardec, em O livro dos Espíritos, questiona, no item 932:


Por que, no mundo, os maus têm geralmente maior influência sobre os bons?


Eis a resposta que obteve dos Espíritos:


É pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes últimos quiserem, dominarão.


Permaneçamos refletindo sobre esta última afirmação: Quando os bons quiserem, dominarão.

Reflitamos qual nosso papel nesta mudança. O que posso fazer para ter parte nesta dominação pacífica e definitiva do bem na face da Terra.

Permitamos que nossos gestos de amor ganhem o mundo e mostrem à sombra que seus dias de dominação estão contados.

Raia o sol de uma Nova Era. O tempo do amor finalmente chegou.

Façamos parte desta transformação de alegria que tomará conta do orbe. Amemos mais.

Participemos mais. Sorriamos mais.




 (Redação do Momento Espírita)


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Simples assim...


Um pouco de Chico Xavier...


O ódio não é senão o próprio amor que adoeceu gravemente.


(Chico Xavier)




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Uma nação pode sobreviver aos idiotas e até aos gananciosos.

Mas não pode sobreviver à traição gerada dentro de si mesma.

Um inimigo exterior não é tão perigoso, porque é conhecido e carrega suas bandeiras abertamente.

Mas o traidor se move livremente dentro do governo, seus melífluos sussurros são ouvidos entre todos e ecoam no próprio vestíbulo do Estado.

E esse traidor não parece ser um traidor; ele fala com familiaridade a suas vítimas, usa sua face e suas roupas e apela aos sentimentos que se alojam no coração de todas as pessoas.

Ele arruína as raízes da sociedade.

Ele trabalha em segredo e oculto na noite para demolir as fundações da nação.

E infecta o corpo político a tal ponto que este sucumbe.



(Discurso de Cícero, tribuno romano, em 42 a.C.)



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