Um texto muito interessante, de Richard Simonetti, que merece nossa reflexão.
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Crianças índigo - Richard Simonetti
Faz sucesso
e tem recebido apreciações elogiosas no próprio meio espírita o livro Crianças
Índigo, de Lee Carroll e Jan Tober, escritores americanos.
As crianças
índigo, ou azuis, seriam, segundo os autores, uma geração de Espíritos enviados
por Deus, com a missão de renovar as relações humanas, em novos padrões de
comportamento, sob a égide do amor.
O nome
índigo foi cunhado por Nancy Ann Tappe, que, aparentemente dotada de visão
mediúnica, observava essas crianças envolvidas por uma aura azul.
Sua primeira
experiência nesse sentido teria ocorrido na década de 70, no século passado.
Pesquisadores americanos, aderindo à idéia, identificam crianças índigo por um
padrão de comportamento.
Aí é que a
tese fica comprometida, porquanto alguns detalhes não são nada animadores nem
lisonjeiros, contrariando noções relacionadas com o que se espera de alguém
vinculado a um movimento de renovação da Humanidade.
1 – O tema
é, realmente, interessante, já que o próprio Espiritismo nos fala de um
processo de renovação da Humanidade, com a vinda de Espíritos mais evoluídos.
Por que você
acha que essas chamadas crianças índigo não têm nada a ver com essa renovação?
É fácil. Basta
observar algumas características dessas crianças, citadas no livro:
• Sentem-se
e agem como nobres.
Essa postura
está mais perto do orgulho do que da humildade que caracteriza os Espíritos que
exercem verdadeira influência para o bem da Humanidade. Conscientes da própria
pequenez, jamais se julgam mais importantes ou especiais diante do próximo.
Marcante em
seu comportamento é a disposição de servir, como destaca Jesus (Marcos, 9:35):
... Se
alguém quiser ser o primeiro, será o último e servo de todos.
• Tem
dificuldade para lidar com autoridades absolutas (sem explicação ou
possibilidade de questionamento).
A definição
para essa maneira de ser é rebeldia. Passa longe da ação missionária. Os
Espíritos superiores não desrespeitam as leis, embora possam contestá-las,
empenhando-se em reformá-las.
O respeito
às regras instituídas e aos desígnios divinos está perfeitamente caracterizado
na recomendação de Jesus (Mateus, 22:21):
… Dai a
César o que é de César, a Deus o que é de Deus.
• Parecem
não se relacionar bem com pessoa alguma que não lhes seja igual. A escola
normalmente é uma experiência difícil para eles, em termos sociais.
Sem
sociabilidade um Espírito pode pontificar nas Artes, na Filosofia, na Ciência,
mas jamais realizará algo de produtivo em se tratando de influenciar o
comportamento humano, em favor de um mundo melhor.
Jesus revela
a fórmula ideal de um relacionamento social perfeito. (Mateus, 22:39): … amarás
o teu próximo como a ti mesmo.
•
Frustram-se com sistemas ou tarefas que seguem rotinas ou situações repetitivas
em que não possam usar a criatividade.
A vida é
feita de rotinas em todos os setores da atividade humana e, sem a disciplina
necessária para observá-las, fica difícil sustentar alguma estabilidade e
contribuir para a melhoria das condições de vida na Terra.
Oportuno
lembrar que a condição essencial enfatizada por Emmanuel, o mentor espiritual
de Chico Xavier, para que a sua existência e particularmente a prática
mediúnica fossem produtivas, foi a disciplina.
A
indisciplina é própria da imaturidade humana, superada pelo crescimento
emocional e espiritual, como destaca Paulo (I Coríntios, 13:11):
Quando eu
era menino, falava como menino, pensava como menino, raciocinava como menino.
Mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
2 – Consta
que há uma entrevista de Nancy Ann Tappe, cujo conteúdo é comprometedor para as
crianças índigo. Eu diria que
tem um conteúdo estarrecedor.
Diz ela:
Todas as
crianças que mataram colegas da escola, ou os próprios pais com as quais pude
ter contato, eram índigo.
O
entrevistador parece concordar com ela.
Isso é
interessante. Todas essas crianças que matam são índigos? Isso quer dizer que
eles tinham uma visão clara de sua missão, mas algo entrou em seu caminho e
elas quiseram se livrar do que imaginavam ser o obstáculo?
Resposta de
Nancy: Trata-se de um novo conceito de sobrevivência. Todos nós possuíamos esse
tipo de pensamento macabro quando crianças, mas tínhamos medo de colocá-lo em
prática. Já os índigos não têm esse tipo de medo.
3 – É
realmente incrível! Segundo a entrevistada, você, como eu e toda gente, quando
crianças, tínhamos o impulso de matar quem se nos opusesse, e não o fizemos por
medo.
Exatamente.
E o índigo não tem medo. Por isso não se constrange em matar, sejam pais ou
colegas de escola.
É uma lástima que haja gente aceitando essa insânia.
Segundo os
autores do livro e pesquisadores citados, as crianças índigo costumam, não
raro, ser rotuladas como portadoras de um dos dois problemas abaixo:
• DDA,
Distúrbio de Deficiência de Atenção.
• TDAH,
Transtorno de Deficiência de Atenção com Hiperatividade.
Crianças com
deficiência de atenção têm dificuldade de concentração.
4 – Pelo que
se sabe Crianças com defeito de atenção e hiperatividade, não param quietas,
têm “bicho carpinteiro”, como diriam os pais. Seriam crianças problema, não
crianças missionárias.
Exatamente.
Isso dá para perceber, considerando algumas características, envolvendo esses
dois déficits.
• Tem
dificuldade em assistir uma aula, ler um livro, ouvir uma palestra. Comete
erros por falta de atenção a detalhes.
• É
desorganizado, tanto no pensamento como externamente, envolvendo horários,
arrumação de objetos de uso pessoal, cumprimento de prazos, disciplina...
• Muda com
facilidade de metas e planos. É comum ter mais de um casamento ou
relacionamento estável.
Diz Nancy:
Pelo que pude observar, 90% das crianças com menos de dez anos no mundo de hoje
pertencem à categoria índigo.
5 – Dando
crédito à sua estatística estará explicada a conturbação no Mundo, a
dificuldade de relacionamento no lar, a indisciplina, os vícios, os crimes, o
descalabro da sociedade…
E há no
livro muitos exemplos desse tipo.
Crianças índigo
que deram trabalho na infância e na adolescência e nenhum registro de alguma
que pontificou na idade adulta como pioneiro de um mundo melhor.
6 – Você
poderia citar um desses casos?
Sim. É bem
ilustrativo o caso relatado no livro por uma mãe que se diz feliz ao tomar
conhecimento das crianças índigo, porquanto seus filhos se enquadrariam nessa
condição.
Num artigo transcrito no livro, com o título "Meus queridos índigos!",
ela relata sua experiência com ambos, portadores um deles de DDA e outro de
TDAH.
Para não nos
estendermos, vamos falar apenas de Mark, perfil DDA.
O menino ia
muito mal na escola. Não se relacionava com professores e colegas.
O mesmo
problema no lar. Aos 15 anos pediu para morar na casa de um amigo.
Mark começou
a agir de forma tão irregular que foi levado para uma instituição correcional
de menores. Praticou vários delitos, dentre eles o roubo de carro do pai de um
amigo. Mesmo depois de sair da instituição manteve um comportamento conturbado.
Certa feita,
a mãe levou-lhe uma cesta de alimentos. Na casa onde Mark morava com alguns
colegas, viu uma estátua de Jesus, no alto de uma escada. Havia sido roubada de
uma igreja.
A mãe deu um prazo de 48 ao filho para que a estátua fosse
devolvida. A orientação não foi observada. Depois de vários dias insistindo,
telefonou à polícia. O menino foi conduzido à prisão. Como era menor, ficou
preso por um ano.
Algum tempo
depois Mark foi novamente preso por dirigir perigosamente, por excesso de
velocidade, por fugir após causar um acidente e por multas não pagas.
Houve
problemas semelhantes com o outro filho, Stuart.
Mas, aparentemente, após
tantos trabalhos, ambos criaram juízo. Fala deles com orgulho. São, agora, pais
de netos que fazem sua alegria.
Ela tem
certeza (como toda a avó sobre as virtudes dos netos) de que são crianças muito
especiais, índigos em sua opinião. A mesma, obviamente, dos autores do livro,
porquanto transcreveram sua experiência.
7 – Ao que
parece, analisando o assunto à luz da Doutrina Espírita, é que as crianças
índigo são Espíritos dotados de alguma intelectualidade, mas com um descompasso
entre a evolução mental e precário desenvolvimento moral.
Exatamente.
Não constituem novidade. Desde sempre tivemos no Mundo gente assim. Espíritos
que reencarnam com uma grande missão, não em relação à Humanidade, mas a si
mesmos: a missão de se renovarem, de superarem suas mazelas e imperfeições, o
que, de resto, é a finalidade precípua da existência humana.
A maior
parte do conteúdo de Crianças Índigo relaciona-se com orientações para cuidar
delas. Diga-se de passagem, são úteis no cuidado de qualquer criança.
Liberdade
vigiada, diálogo, tolerância e muito amor.
8 – Há quem
veja nas crianças índigo a nova geração a que se refere Allan Kardec, em "A
Gênese", no capítulo 18.
Isso é
lamentável. Basta evocar algumas características citadas pelo Codificador para
desfazer esse engano.
Diz Kardec:
Para que na
Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons,
encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem.
Em cada
criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que
antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem.
Cabendo-lhe
fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e
razão geralmente precoces, juntas ao sentido inato do bem e a crenças
espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de
adiantamento anterior.
9 –
Poderíamos situar essa nova geração como homens que se orientam pelo Bem,
embora não sejam puros e perfeitos?
É o mais
lógico. E Kardec nos dá algumas características de Espíritos dessa natureza, em
O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XVII.
Algumas delas:
O verdadeiro
homem de bem é o que cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade, na sua
maior pureza. Se ele interroga a consciência sobre seus próprios atos, a si
mesmo perguntará se violou essa lei, se não praticou o mal, se fez todo o bem
que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém
tem qualquer queixa dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe
fizessem.
Deposita fé
em Deus, na Sua bondade, na Sua justiça e na Sua sabedoria. Sabe que sem a Sua
permissão nada acontece e se Lhe submete à vontade em todas as coisas.
Tem fé no
futuro, razão por que coloca os bens espirituais acima dos bens temporais.
O homem de
bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de
crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.
Respeita nos
outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não
pensam.
...Estuda
suas próprias imperfeições e trabalha incessantemente em combatê-las. Todos os
esforços emprega para poder dizer, no dia seguinte, que alguma coisa traz em si
de melhor do que na véspera.
Se a ordem
social colocou sob o seu mando outros homens, trata-os com bondade e
benevolência, porque são seus iguais perante Deus; usa da sua autoridade para
lhes levantar o moral e não para esmagá-los com o seu orgulho. Evita tudo
quanto lhes possa tornar mais penosa a posição subalterna em que se encontram.
O
subordinado, de sua parte, compreende os deveres da posição que ocupa e se
empenha em cumpri-los conscienciosamente...
10 – Dá para
perceber que as crianças índigo não se enquadram nessas e em outras
características do homem de Bem.
Sem dúvida,
embora isso não constitua desdouro para elas, já que raras pessoas na Terra
comportam-se assim.
Eu diria que
as crianças índigo são Espíritos às voltas com sérios problemas relacionados
com desvios do passado. Inteligentes, cultos, trazem complexos quadros de
perturbação, a situá-los no limiar entre o Bem e o Mal, dependendo de suas
escolhas e disposições, como de resto ocorre com todos nós, em maior ou menor
intensidade.
11 – Diz
Kardec, em "A Gênese", que a nova geração não se comporá exclusivamente de
Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham
predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o
movimento de regeneração.
Isso significa que não haverá uma revoada de anjos,
estabelecendo maioria na Terra?
Sim. Seremos
nós, encarnados e desencarnados, que comporemos a nova geração, à medida em
que, conscientes de nossas responsabilidades, aprendermos a combater nossas
imperfeições, ajustando-nos às leis divinas.
É a grande
meta para todos nós, índigos ou não.
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