Glória ao Pai pelo dia
de hoje. Bendito sejas Senhor Jesus, por permitir minha humilde comunicação.
Em épocas passadas,
sofri amargas desilusões quando caminhei pela Terra.
Somente desejei as conquistas
guerreiras pelo mundo, mas sucessivos bloqueios fizeram-se presentes contra meus intentos.
Guerreiro de espírito mordaz, eu era a personificação do deus
Marte.
Amava a batalha e o
espírito belicoso estava sempre pronto para dar vazão a sentimentos hostis.
Quando enverguei um
alto posto de chefia de um grande exército na Antiga Grécia, almejávamos,
primeiramente, conquistar cidades próximas a minha Esparta.
Dominamos populações de menor
vigor, mas de grande cultura.
Estas populações, não vergando-se totalmente sob a força
da espada, trataram de influenciar-nos pela cultura. Assim, os
domínios conquistados logo
passaram da submissão completa à colaboração para a manutenção
do império. Era apenas
ilusão querer subjugar, completamente, espíritos que eram livres
por
natureza.
Um dia, encontramo-nos
com tribos de origem persa. Estes homens, com outro tipo de índole, eram
adversários mais difíceis de combater.
Davam-me prazer as batalhas
travadas com eles. Porém, fui
ferido mortalmente em determinada oportunidade. Por conseqüência,
encontrei-me com a
morte, a suprema realidade.
Desnudado em meus receios e fraquezas, caminhei necessitando
de ajuda para meus ferimentos que não cessavam de sangrar.
Hordas de soldados
enlouquecidos exigiam-me ordens e conduta de comando, como chefe
militar que era. Reaprumei-me como
pude e arrebanhei, a muito custo, homens em estado não tão ruim.
Planejava um período
de breve recuperação, para organizar um contra-ataque aos persas,
que haviam vencido a última
batalha. Não entendia que a morte havia me atingido.
Permanecemos longos
anos desta forma, digladiando contra os nossos inimigos, também
desencarnados e semi-enlouquecidos como nós. Lutávamos até a
exaustão para, depois, retornarmos à carga contra os adversários,
num círculo vicioso terrível.
Após longo tempo,
cansado demais, resolvi buscar o diálogo com o chefe inimigo. Ele, para minha surpresa,
havia tido a mesma idéia.
Acordo feito, buscamos todos retornarmos para as nossas
respectivas terras.
Qual não foi o meu
espanto quando, atingindo Atenas e outras cidades gregas, bem como a
minha adorada Esparta, ninguém nos reconhecia ou parecia enxergar.
Onde as honras militares? Onde o respeito das cidades gregas menores?
Pensei que havia
perdido a razão. Então, um luminar de nosso país, de repente
apareceu à frente de meu exército
combalido e discursou.
Belas palavras tocaram nosso íntimo e entendemos que não
mais estávamos entre os vivos.
Mudos pela surpresa, recapitulamos vários momentos de
nossa vida terrena. Em seguida, entramos em forte torpor que nos
tirou a
consciência.
Reencarnamos todos,
como um grupo que éramos, em terras banhadas pelo sol do deserto. Dura vida se
nos descortinou. O ambiente hostil favoreceu-nos a índole guerreira
e novamente vivemos uma
vida baseada na espada.
Nômades, caminhamos a
esmo em busca de conquistas e riquezas.
Algo em mim, porém, bradava
interiormente.
Onde eu chegaria? Não haveria um oásis onde pudesse
descansar? Água fresca para dessedentar o espírito? Sim, eu
necessitava de algo mais que aquela vida sem rumo e sem finalidade.
Assim, atingi a
maturidade e novamente conheci o vale das sombras, vitimado por uma
moléstia devida à insalubridade.
Cheguei ao outro lado da vida e,
amargurado, continuei à busca de um oásis.
Minha alma era um
deserto. Nada havia senão sangue e dor. Não desejava mais tão dura
forma de vida e queria paz. O Senhor, dono dos destinos humanos,
atendendo aos meus anseios, concedeu-me nova oportunidade na Terra.
Renasci sob papel
diverso daquele que tinha representado no passado. Era, agora, um
pobre enjeitado que se fez mendigo.
O valente guerreiro
estava sendo obrigado a humilhar-se para sobreviver.
Nasci com as
mãos tortas para não mais empunhar a espada. Estas mãos, agora
frágeis e sem bom movimento, só podiam aceitar esmolas.
Dura vida tive
novamente, porém não mais manchada com o sangue do próximo.
Desencarnei em idade avançada, após difíceis provações e sob o
guante de doença perniciosa, que me fez ser rejeitado pela
sociedade.
Morri só, mas, ao
despertar do outro lado, minhas mãos estavam perfeitas e meu corpo
não apresentava as manchas e deformidades típicas da lepra.
Fui recebido por
luminoso espírito, que deu-me a mensagem de que estava mais
purificado. Eu poderia, após estágio de descanso e aprendizado,
retornar à Terra com a missão do sacerdócio.
Pela primeira vez,
desde tenra idade no mundo material, receberia instrução religiosa
adequada.
Rejubilei-me com a
chance e desejei ardentemente absorver a idéia de Deus em mim.
A busca interior
delineava-se, agora, com maior clareza. O que antes era indefinível,
naquele momento tomava corpo e conteúdo.
Voltei ao plano terreno
em localidade cristã, onde, abandonado pelos pais, fui recolhido a
mosteiro afastado da área urbana. Na vida agreste e dura, mas
saudável, aprendi a orar e a olhar para o céu com a esperança do
paraíso celeste.
A vida à minha volta
era simples e o céu era o meu estímulo e objetivo maior.
Almejei à
santificação, mas, nos dias que iam, a guerra ainda era irmã do
homem. E ela bateu à porta da minha vida, exigindo-me o corpo de
carne. Morri pela espada e não acordei no céu. Contudo, fui
amparado por um seu enviado.
Com ele recapitulei
vidas passadas e, assim, adquiri compreensão maior sobre a vida, a
morte e o caminho evolutivo
da alma para Deus.
Recebi nova
oportunidade, renascendo novamente num meio que propiciou-me o sacerdócio.
Desta feita, pude
concluir minha tarefa integralmente, tendo êxito, apesar das
limitações do pensamento reinante na época, podendo realizar um
vôo maior em direção ao Pai.
Hoje, regenerado e em
busca de nova oportunidade de experiências edificantes na Terra,
rogo a Deus que a Sua Luz uma vez mais possa me inspirar.
Que as duras provas do
passado não mais sejam necessárias para o burilamento do meu
espírito.
Espero, agora, com
novas convicções na alma, viver uma encarnação plena e
consciente.
Otávio
* * *
Fonte: "Depoimentos do Além", de Pablo de Salamanca (médium)
* * *
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