Certa feita, no
ambiente profissional, naqueles intervalos produtivos, falávamos do
futuro, dos sonhos e das incertezas.
Após cada um falar de seus
desejos e planos, alguns detalhados amiúde, ouço de sagaz amigo o
seguinte adágio: ”toda vez que fazemos um plano bem elaborado,
Deus dá uma risadinha”.
Incômoda verdade nos
traz essa sentença da sabedoria popular.
Pois então, em face de
essa realidade, de nada vale planejar? Nenhuma importância têm os
sonhos? Viajamos em um tenebroso mar de incertezas diante de um Deus
sarcástico, ao estilo do Olimpo greco-romano? O medo e a falta de fé
nos assaltam nesses momentos.
O Espiritismo nos
apresenta uma visão mais coerente dessa questão.
À medida que
amadurecemos espiritualmente, Deus, como um pai amoroso, nos permite
ter mais autonomia, como um exercício de crescimento. Avançamos,
sob o amparo fraterno, de um pai amoroso.
À maneira de crianças,
não compreendemos essa dinâmica e nos debatemos.
Por vezes não temos o
que pedimos, ou o que sonhamos. Será que o desejado é o melhor para
nós?
Devemos querer,
construir, mas também saber para onde ir! Lembramos a metáfora
evangélica em Lucas:
“E qual o pai de
entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou,
também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou,
também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós,
sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais
dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”
Sonhamos coisas
egoístas, evidência, posses e planejamos nossas vidas com
pressupostos que ignoram a realidade espiritual. Seguimos na nossa
imaturidade espiritual, tutelados e procurando que o nosso potencial
floresça, a seu tempo.
Da mesma forma,
resistimos às mudanças que a vida nos impõe, esquecendo-nos de
aproveitar as coisas novas que também são boas.
Os planejamentos são
flexíveis, assim como nós também mudamos a nossa forma de ver o
mundo, os pontos de vista e os valores. Como dizia o velho ditado
estadunidense: “People change”.
Assim, diante dos
reveses da vida, cabe-nos perceber os caminhos novos a serem
trilhados, e, ainda, a pertinência desses sonhos que vemos
esfarelar.
O homem propõe e Deus
dispõe, ditado sábio que subordina a nossa vontade aos imperativos
do amor, como lei maior do nosso crescimento espiritual. E amar exige
amadurecimento!
Esse entendimento nos
mostra como a nossa vida é boa, “amando tudo o que temos”, e que
os “gramados verdes” dos vizinhos por vezes escondem perigos que
jamais ousaríamos enfrentar.
Iludidos em nossas frustrações,
olhamos a vida por lentes escuras, colecionando agruras e esquecendo
bênçãos.
O otimismo não é uma
força ilusória que nos cega para os problemas.
Ele nos traz um novo
olhar sobre eles, a luz do contexto maior. Planejamos e colhemos na
lavoura da vida, mas esquecemos dos pressupostos pelo qual analisamos
nossos frutos e que nos guiam na hora de avaliar sua qualidade. É
preciso identificar o bem!
Navegamos na vida, com
a mão firme no timão e seguindo a nossa carta náutica, mas
ignoramos as tempestades e os perigos submersos.
A confiança e o
planejamento devem conviver harmoniosamente com a humildade de
entender que não controlamos todos os processos e que a vida é mais
que uma existência.
A cada passo na jornada
da vida nós crescemos.
Avançamos quando
acertamos, mas também quando erramos, nos progressos do aprendizado.
A vida nos aponta
caminhos e seguimos, com um sentimento profundo chamado de fé, que
nos lembra de que a risadinha do Pai de todos é mais um sorriso
bondoso, a nos lembrar de nossa infância espiritual e que nossos
sonhos precisam amadurecer, sem envelhecer.
(Marcus Vinicius de
Azevedo Braga)
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