"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

09 março 2014

Uma risadinha


Certa feita, no ambiente profissional, naqueles intervalos produtivos, falávamos do futuro, dos sonhos e das incertezas. 

Após cada um falar de seus desejos e planos, alguns detalhados amiúde, ouço de sagaz amigo o seguinte adágio: ”toda vez que fazemos um plano bem elaborado, Deus dá uma risadinha”.

Incômoda verdade nos traz essa sentença da sabedoria popular.

Pois então, em face de essa realidade, de nada vale planejar? Nenhuma importância têm os sonhos? Viajamos em um tenebroso mar de incertezas diante de um Deus sarcástico, ao estilo do Olimpo greco-romano? O medo e a falta de fé nos assaltam nesses momentos.

O Espiritismo nos apresenta uma visão mais coerente dessa questão.

À medida que amadurecemos espiritualmente, Deus, como um pai amoroso, nos permite ter mais autonomia, como um exercício de crescimento. Avançamos, sob o amparo fraterno, de um pai amoroso.

À maneira de crianças, não compreendemos essa dinâmica e nos debatemos.

Por vezes não temos o que pedimos, ou o que sonhamos. Será que o desejado é o melhor para nós?

Devemos querer, construir, mas também saber para onde ir! Lembramos a metáfora evangélica em Lucas:

E qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente? Ou, também, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, sendo maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais dará o Pai celestial o Espírito Santo àqueles que lho pedirem?”

Sonhamos coisas egoístas, evidência, posses e planejamos nossas vidas com pressupostos que ignoram a realidade espiritual. Seguimos na nossa imaturidade espiritual, tutelados e procurando que o nosso potencial floresça, a seu tempo.

Da mesma forma, resistimos às mudanças que a vida nos impõe, esquecendo-nos de aproveitar as coisas novas que também são boas.

Os planejamentos são flexíveis, assim como nós também mudamos a nossa forma de ver o mundo, os pontos de vista e os valores. Como dizia o velho ditado estadunidense: “People change”.

Assim, diante dos reveses da vida, cabe-nos perceber os caminhos novos a serem trilhados, e, ainda, a pertinência desses sonhos que vemos esfarelar.

O homem propõe e Deus dispõe, ditado sábio que subordina a nossa vontade aos imperativos do amor, como lei maior do nosso crescimento espiritual. E amar exige amadurecimento!

Esse entendimento nos mostra como a nossa vida é boa, “amando tudo o que temos”, e que os “gramados verdes” dos vizinhos por vezes escondem perigos que jamais ousaríamos enfrentar. 

Iludidos em nossas frustrações, olhamos a vida por lentes escuras, colecionando agruras e esquecendo bênçãos.

O otimismo não é uma força ilusória que nos cega para os problemas.

Ele nos traz um novo olhar sobre eles, a luz do contexto maior. Planejamos e colhemos na lavoura da vida, mas esquecemos dos pressupostos pelo qual analisamos nossos frutos e que nos guiam na hora de avaliar sua qualidade. É preciso identificar o bem!

Navegamos na vida, com a mão firme no timão e seguindo a nossa carta náutica, mas ignoramos as tempestades e os perigos submersos. 

A confiança e o planejamento devem conviver harmoniosamente com a humildade de entender que não controlamos todos os processos e que a vida é mais que uma existência.

A cada passo na jornada da vida nós crescemos.

Avançamos quando acertamos, mas também quando erramos, nos progressos do aprendizado.

A vida nos aponta caminhos e seguimos, com um sentimento profundo chamado de fé, que nos lembra de que a risadinha do Pai de todos é mais um sorriso bondoso, a nos lembrar de nossa infância espiritual e que nossos sonhos precisam amadurecer, sem envelhecer.


(Marcus Vinicius de Azevedo Braga)






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