"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"
(Teillard de Chardin)
11 abril 2012
10 abril 2012
Hora de se tornar um Espírito de Luz
Mamãe,
Eu estava na margem do grande rio pescando do jeito que você mandou.
Quando ouvi o rugido da grande onda saí correndo o mais depressa que pude, assim como os outros meninos que ali estavam.
Quando olhei para trás e vi a grande onda fiquei aterrorizado. Ela era realmente grande, a maior que já vi.
Mesmo assim continuei correndo até que ela me alcançou e me arrastou.
Tentei me agarrar às copas da árvores, que a esta altura já estavam quase cobertas pela correnteza.
Muitos garotos também tentavam ficar em cima da água e todos gritavam e lutavam bastante.
Fui assim, nadando, afundando, tentando me agarrar, até que vi uma árvore tão alta que estava acima da água e parecia tocar o céu; agarrei-me nela e lá encontrei muitos dos meus amigos.
Esperamos.
A água acalmou-se, mas nada de baixar.
Continuamos esperando.
Aí apareceram umas pessoas vestidas de luz, que vieram caminhando sobre as águas.
Vieram até nós e nos explicaram que a represa tinha se rompido outra vez e que deveríamos ir com eles.
Foi então que entendi que meu corpo tinha ido embora com a correnteza e que nunca mais seria encontrado. Eu agora era um Espírito de Luz como eles.
Sei, mamãe, que hoje você está lendo esta história por cima do meu ombro. Sei também que você dedicou sua vida a me encontrar; então pode parar de procurar, pois estou aqui.
Se você se esforçar um pouco vai entender que tudo isto já aconteceu há tanto tempo que você também já deixou seu corpo para trás e se tornou um espírito.
A vocês que nos trouxeram aqui, obrigado.
E você, mamãe, é hora de se tornar um espírito de luz também.
Venha comigo. Temos muito o que conversar.
Venha comigo. Temos muito o que conversar.
Graças a Deus.
Autor: Anônimo*
Destinatário: Mãe
Psicografado por: Cleber P. Campos
*Um Espírito que não quis ou não pôde identificar-se.
Tenhamos paciência...
O serviço do ideal libertador, abraçando a caridade, seria de esperar-se por menos dores e incompreensões, por melhor colheita de frutos de alegria.
Isso, no entanto, seria um engodo proporcionado pela vida.
O missionário sempre enfrenta os piores desafios.
Quem abre estradas defronta maiores obstáculos.
Aquele que recupera solos áridos sofre dificuldades mais expressivas.
Quando alguém se põe a drenar pântanos e águas putrefatas não se pode furtar à presença dos odores nefastos, nem da lama pestilenta.
Todo aquele que se dispõe a alterar a paisagem moral da sociedade, é sempre considerado excêntrico, quando não se torna vítima de contínuas agressões e combates.
É natural que assim ocorra, porquanto o processo de alteração dos conceitos morais e da conduta pessoal, faz-se, normalmente, penoso.
Qualquer mudança no organismo social para melhor, ocorre de maneira dolorosa, e os seus promotores são perseguidos com acrimônia e perversidade.
Não estranhes a imensa colheita de amarguras do momento.
Todo apóstolo do progresso, da beleza e da fé experimenta a imolação, afim de modificar o grupo no qual se movimenta.
O mesmo ocorre contigo.
Não te deixes desgastar emocionalmente com as ocorrências infelizes que têm lugar a tua volta.
Mantém o ânimo e avança em paz.
Não fosses idealista, e não te encontrasses na ação cristã, sofrerias outras circunstâncias perturbadoras.
Observa aqueles que parecem triunfadores e felizes, aplaudidos e bajulados, quando passarem os seus dias de aparente triunfo, e vê-los-ás abandonados, vencidos, atormentados...
A Terra é planeta de provas, portanto, a luta é labor incessante.
*
Quando estejas cansado, renova-te pela prece.
Quando te sintas aturdido pelas ocorrências desagradáveis, recorre à meditação.
Quando te descobrires com estresse e mau humor, recupera-te pensando em Jesus e buscando-O.
Não estás a sós. Seres amados te envolvem nas dúlcidas vibrações que te sustentam as energias, te preservam a saúde e te vitalizam a disposição para continuares servindo.
Já te imaginaste em ociosidade dourada, ou em festas ruidosas, ou em recreações contínuas?
Renasceste para o serviço, pois que aceitaste a tarefa como terapia salvadora.
Provéns de comportamentos anteriores que te alienaram, que te comprometeram.
Hoje é o teu dia de servir.
Não te arrependas da opção elegida.
Dia virá em que as circunstâncias se alterarão e será então a época própria para colher a luz que espalhas e o amor que incutes em outras vidas.
*
Ninguém até hoje se revelou maior servidor do que Jesus.
Seu exemplo rutila através dos tempos, iluminando vidas incontáveis.
Ele nunca se queixou, porque sabia que as criaturas humanas ainda se encontram na infância espiritual.
Toma-O como teu modelo e segue adiante.
Quanto mais extenuantes as refregas, mais expressivas se fazem as vitórias.
O servidor está sempre a postos, jovial e bom, ensinando com o exemplo e cantando o hino da alegria de que se sente possuído.
Serve, sem cessar, e prossegue sem enfado e sem desencanto.
És construtor do futuro, no qual Jesus te aguarda para o memorável encontro.
(“Servidor”- extraído de “Fonte de Luz”, de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Joanna de Ângelis).
Doentes?
Ando meio doente...
Doente do corpo, doente da alma, doente da mente, enfim doente de nem sei mais o quê.
Creio eu que a doença é o mal deste mundo, e assim todos que vivemos nele, somos doentes intrínsecos.
Por mais que o indivíduo se considere saudável, sempre tem um quê de doente nele em algum aspecto.
Se observarmos bem de perto nada é totalmente saudável nesta vida. Sempre há um tipo de doença invadindo o ambiente, as pessoas, os relacionamentos, os momentos...
Segundo o dicionário: "Doente é aquele que tem a saúde alterada; enfermo. Que sofre que padece. Débil, fraco, de saúde frágil, sujeito a enfermidades, doentio."
Hum... Realmente não conheço ninguém totalmente saudável.
Estar neste mundo é pelo menos sofrer de alguma coisa, nem que seja sofrer da vida. Acho que daí surge toda esta inquietação que nos cerca, aflige. Estamos à procura da cura.
Como nunca vi um indivíduo totalmente saudável, é difícil encontrar parâmetros para estabelecer o que seria isto. Em que se baseia a saúde? Será que só seremos saudáveis quando deixarmos de ser matéria? Se assim for, quão angustiante será essa jornada em busca da cura.
Eis aí um exemplo de mais um tipo de doença comum entre nós terrenos, a angústia.
Sofro de diversos males, assim como meus amigos humanos.
Busco incessantemente a cura da vida.
Estranho... Falando assim parece que a cura seria o fim dela.
Não acho que seja totalmente verdade isso. Acho que a sabedoria está na convivência pacífica com os males que sofremos, e não no fim completo deles.
Como disse alguém algum dia: “A felicidade está no caminho e não na chegada”.
Acredito eu, que a saúde também esteja aí... no desenrolar da caminhada.
(Luz)
04 abril 2012
Dica de livro: " “O Casaco de Marx” - de Peter Stallybrass
Nossas roupas estão impregnadas de memória.
Um grande exemplo do valor simbólico que as peças de roupa possuem é no momento da morte de um ente querido.
Para muitas pessoas, encarar o guarda-roupa de alguém que morreu é algo difícil e doloroso.
Cada um tem a sua forma de lidar com a dor.
Naquele momento, a roupa traz em si a imagem e o cheiro do seu antigo dono, levando muitas vezes seus parentes próximos ou não quererem entrar em contato com aquelas peças ou, por outro lado, não terem coragem de se desfazê-las.
No interessante livro “O Casaco de Marx - Roupas, memória, dor”, de autoria de Peter Stallybrass, a memória que o casaco carrega e a relação do seu dono com o mesmo acabaram por gerar reflexões sobre consumo, valor dos bens de consumo e a relação deles com as pessoas.
Nele acompanha-se a trajetória que o casaco de Karl Marx descreve, indo e vindo do corpo de seu dono à loja de penhores e é refletida na obra “O Capital”.
Segue um trecho do livro para reflexão...
Recomendo a leitura.
* * *
A vida social das coisas: roupas, memória, dor
Durante os dois últimos anos estive escrevendo sobre roupas.
Na verdade, estive fazendo isso sem mesmo sabê-lo.
Eu não tinha nenhuma idéia de que estava escrevendo sobre roupas a não ser como produto secundário de meu interesse na sexualidade, no colonialismo e na história do estado-nação.
Então, aconteceu algo que mudou minha idéia sobre aquilo que eu estava fazendo.
Eu estava apresentando um trabalho sobre o conceito de indivíduo quando fui literalmente tomado.
Não pude continuar lendo.
Seguiu-se um constrangedor silêncio e comecei a chorar.
Havia um amigo muito próximo sentado perto de mim e ele simplesmente pegou o trabalho de minhas mãos e continuou lendo.
Mais tarde, quando tentei entender o que tinha acontecido, dei-me conta de que, pela primeira vez
desde sua morte, Allon White tinha voltado para mim.
Allon e eu éramos amigos. Nós tínhamos partilhado uma casa e escrito um livro juntos.
Após sua morte, de leucemia, em 1986, sua viúva, Jen, e eu tínhamos, ambos, cada um à sua maneira, tentado lembrar Allon, mas com muito pouco êxito.
Para outros havia memórias ativas, dores ativas.
Para mim havia simplesmente um vazio, uma ausência e algo como uma raiva por causa de minha própria incapacidade de sentir dor e tristeza.
As memórias que eu tinha pareciam sentimentais e pouco reais, bastante desproporcionais
relativamente à eloqüência estridente, amorosa, que tinha sido a eloqüência de Allon.
A única coisa que parecia real para mim era a série de longas conversas que eu tivera com Jen sobre o que fazer com as coisas de Allon que ainda restavam: com o chapéu que ainda estava pousado na estante de seu escritório, um chapéu que ele tinha comprado para esconder a calvície que tinha chegado muito tempo antes das humilhações físicas da quimioterapia; com os seus óculos que estavam ao lado da cama e ainda olhavam para nós.
Para Jen a questão era saber como reordenar a casa, o que fazer com os livros de Allon e com todas as formas pelas quais ele tinha ocupado espaço.
Talvez, pensava ela, a única forma de resolver este problema fosse mudar-se, deixando a casa de uma vez por todas.
Mas, nesse meio tempo, ela doou alguns de seus livros e algumas de suas roupas.
Allon e eu tínhamos sempre trocado roupas, tendo por dois anos partilhado uma casa na qual tudo
era considerado comum, exceto nossa sujeira; só essa, paradoxalmente, parecia irremediavelmente individual e objeto do nojo do outro.
Quando Allon morreu, Jen me deu sua jaqueta de beisebol, coisa que parecia bastante apropriada, uma vez que naquela altura eu tinha me mudado permanentemente para os Estados Unidos.
Mas ela também me deu a jaqueta de Allon que eu mais havia cobiçado.
Ele a tinha comprado numa loja de objetos usados, perto da estação de trem de Brighton e seu mistério era, e é, bastante fácil de descrever.
Ela é feita de um tecido de poliéster com algodão preto e brilhoso e a parte exterior ainda está em bom estado. Mas, interiormente, grande parte do forro está rasgado como se tivesse sido
atacado por gatos raivosos. No interior, a única coisa que resta de sua antiga glória é o rótulo: “Fabricado expressamente para Turndof. Por Di Rossi. Costurado a mão”.
Com muita freqüência, tenho me perguntado se foi a marca que atraiu Allon, na medida em que ele adorava a moda italiana desde sua infância, mas, muito mais provavelmente, foi simplesmente o corte da jaqueta.
De qualquer forma, essa era a jaqueta que eu estava vestindo quando apresentava o meu trabalho sobre o indivíduo, um trabalho que, sob muitos aspectos, era uma tentativa de relembrar Allon.
Mas, em nenhum momento da escrita desse trabalho, a minha invocação foi respondida.
Tal como o trabalho, Allon estava morto. Então, à medida em que comecei a ler, fui habitado por sua presença, fui tomado por ela.
Se eu vestia a jaqueta, Allon me vestia.
Ele estava lá nos puimentos do cotovelo, puimentos que no jargão técnico da costura são chamados de “memória”.
Ele estava lá nas manchas que estavam na parte inferior da jaqueta; ele estava lá no cheiro das
axilas.
Acima de tudo, ele estava lá no cheiro.
Foi assim que comecei a pensar sobre roupas.
Eu lia sobre roupas e falava aos amigos sobre roupas.
Comecei a acreditar que a mágica da roupa está no fato de que ela nos recebe: recebe nosso cheiro, nosso suor; recebe até mesmo nossa forma.
E quando nossos pais, os nossos amigos e os nossos amantes morrem, as roupas ainda ficam lá, penduradas em seus armários, sustentando seus gestos ao mesmo tempo confortadores e aterradores, tocando os vivos com os mortos.
Mas para mim, elas são mais confortadoras que aterradoras, embora eu tivesse sentido ambas as
emoções, pois eu sempre quis ser tocado pelos mortos, eu sempre quis que eles me assombrassem.
Eu tenho até mesmo a esperança de que eles se levantem e me habitem: e eles literalmente nos habitam através dos hábitos que nos legam.
Eu vesti a jaqueta de Allon. Não importa quão gasta estivesse, ela sobreviveu àqueles que a vestiram e, espero, sobreviverá a mim.
Ao pensar nas roupas como modas passageiras, nós expressamos apenas uma meia-verdade.
Os corpos vêm e vão: as roupas que receberam esses corpos sobrevivem. Elas circulam através de lojas de roupas usadas, de brechós e de bazares de caridade.
Ou são passadas de pai para filho, de irmã para irmã, de irmão para irmão, de amante para amante, de amigo para amigo.
As roupas recebem a marca humana.
As jóias duram mais que as roupas e também podem nos comover.
Mas embora elas tenham uma história, elas resistem à história de nossos corpos. Duradouras, elas
ridicularizam nossa mortalidade, imitando-a apenas no arranhão ocasional.
Por outro lado, a comida que, como as jóias, é uma dádiva que nos liga uns aos outros, rapidamente torna-se nós e desaparece.
Tal como a comida, a roupa pode ser moldada por nosso toque; tal como as jóias, ela dura além do momento imediato do consumo. Ela dura, mas é mortal.
Como diz Lear, de forma desaprovadora, a respeito de sua própria mão: “ela cheira à mortalidade”.
É um cheiro que eu adoro.
É o cheiro pelo qual uma criança se apega a seu cobertor, uma peça de roupa, um ursinho de pelúcia, seja lá o que for. Roupa que pode ser colocada na boca, mastigada, qualquer coisa, menos lavada.
Roupa que carrega as marcas do dente, do encardimento, da presença corporal da criança. Roupa que se deteriora: um braço do ursinho que se parte, a bainha que se torna puída.
Roupa que dura e conforta, roupa que, como qualquer criança sabe, é particular.
Certa vez,quando eu estava tomando conta de Anna, a filha de uma amiga, tentei substituir seu cobertor perdido por uma peça de roupa que se parecia exatamente igual àquele cobertor.
Ela, naturalmente, soube imediatamente que se tratava de uma fraude.
E ainda lembro sua cara de desconfiança e desgosto por causa de minha traição.
O cobertor, não importa o quanto ele seja um substituto para ausências e perdas, permanece irrevogavelmente ele mesmo, inclusive quando é transformado pelo toque e pelos lábios e pelos dentes.
(Extraído do livro “O Casaco de Marx” - Peter Stallybrass - Ed. Autêntica)
Por que matamos Jesus?
Estamos na Semana Santa e eis que me fiz essa pergunta...
A resposta?
Reflitamos todos, através deste interessante texto .
* * *
Por que matamos Jesus?
Durante um encontro de catequese familiar que fizemos lá na Vargem Grande, uma criança perguntou:
“Por que mataram Jesus?”.
Algumas pessoas riram da pergunta (que parecia infantil) e várias respostas prontas já surgiram:
"Jesus morreu pelo perdão dos nossos pecados”,“Jesus morreu para que Deus mostrasse a sua glória”.
Mas a pergunta da menina tinha uma profundidade interessante: ela não havia perguntado “por que Jesus morreu?” e sim “por que mataram Jesus?”.
A questão é profunda porque nos leva a pensar no motivo que teriam para matar alguém que só fazia o bem, alguém que curava os doentes, alguém que falava de paz e de amor, alguém que só dizia a verdade…
E a resposta para a questão começa pela Verdade.
A Verdade de Jesus abalava a estrutura de poder da época.
Ele falava de um mundo no qual os pobres eram bem
aventurados, anunciava um Reino no qual os excluídos da época (prostitutas, doentes, cobradores de impostos) precederiam os escribas e fariseus.
Tinha a ousadia de chamar Deus de Pai, e dizer que era “Pai nosso”, o que transformava todos em irmãos.
Isso era demais para uma sociedade que sustentava que os poderosos eram escolhidos por Deus.
Uma sociedade que dizia que os pobres e doentes viviam esta condição por castigo divino,devido aos seus pecados.
Aceitar o Deus de Jesus implicaria em alterar o modelo de poder, implicaria em abrir mão de conforto, em rever atitudes.
Era mais fácil matar Jesus e deixar “tudo como estava”.
Após chegarmos a esta resposta para a pergunta “por que mataram Jesus?”, dei um salto no tempo e cheguei aos dias de hoje.
Lembrei da palestra que o padre Daniel deu em nossa Escola Bíblico-catequética sobre os perigos da leitura fundamentalista da Bíblia, na qual interpretamos a Escritura “ao pé da letra” usando só a parte que nos interessa.
E fazendo isso, lembrei de tantas vezes que, como Igreja, nos comportamos como os escribas e fariseus, matando Jesus novamente.
Quando agimos assim?
Simplesmente quando esquecemos da opção de Jesus pelos pobres.
Quando lembramos das curas de Cristo, mas esquecemos que ele acolhia e perdoava os pecadores.
Quando lembramos da missão dos apóstolos, mas esquecemos que eles eram pescadores, cobradores de impostos, pessoas do povo.
Quando exaltamos o exemplo de Maria, mas omitimos a revolução social presente nas palavras que ela falou para Isabel.
Quando buscamos o Cristo dos milagres, mas negamos o Cristo que abraçava os mais humildes.
Quando queremos compartilhar a glória do Cristo elevado aos céus, mas não aceitamos passar pelo sofrimento da cruz.
Matamos Jesus quando negamos o Deus que Ele é e criamos um deus à imagem e semelhança dos nossos preconceitos. Um deus distante, incapaz de fazer a opção pelos excluídos.
É mais fácil tentar matar este Jesus e deixar “tudo como está”.
Mas, assim como ocorreu há dois mil anos, é um grande engano achar que tudo ficará como está.
Jesus segue se apresentando a nós, na figura do mendigo, do drogado, do morador de rua e de todos os excluídos.
E a semente do Evangelho está sempre brotando nas comunidades, disposta a ressuscitar um modelo de sociedade na qual não haja a morte de Jesus,mas sim a vida…
E vida em abundância!
Gerson (comunidade de Vargem Grande)
02 abril 2012
Serena Resignação
Pai, quando me destes nova existência na Terra, aceitei-a confiante e, disposto a recomeçar e a reconstruir, brindei-a com sorrisos de inocência e meus braços estendidos, eram desejo e boa vontade em refazer laços para desfazer algemas...
O tempo passou e tão pouco foi possível realizar!
Meu sorriso hoje, Senhor, é tímido e não mais inocente; e meus braços... já não os estendo, com medo de vê-los retornando vazios!
A vida é escola dura para com nossos sonhos, e o tempo é mestre exigente que cobra as lições com rigor, a fim de melhor conferir nosso aproveitamento!...
Trouxe comigo grandes ideais, eu o sei, mas hoje eis-me aqui de coração entristecido, consciente de que foi possível fazer muito pouco, de conquistar quase nada...
No entanto, meu Pai, peço-lhe não deixe que a melancolia e a mágoa entorpeçam meu entendimento, impedindo-me de perceber que, se hoje o fracasso permeia os meus melhores projetos, adiando esperanças e realizações, mais tarde ou em nova existência me darás outras oportunidades, tão mais felizes e valiosas quanto mais eu souber manter em minha alma serena resignação perante o que eu não posso mais modificar...
Se hoje é tempo de chorar e baixar os olhos, amanhã será tempo de sorrir confiante, porque Tua Sábia Justiça, Senhor, ordena que se dê àquele que já tem e se retire tudo do que parece até mesmo mais nada possuir!
Quero, através da resignação, conquistar a paz, a compreensão e o entendimento!
Desejo, através da serenidade, adquirir sabedoria, madureza de espírito, capacidade de ver para melhor discernir!...
Não me deixe, Senhor, partir do mundo empobrecido, derrotado pela minha desilusão!
Pelo contrário, mostra-me que, se hoje colho derrotas e decepções, se me vejo impedido de crescer e realizar, se não tenho para quem sorrir ou a quem abraçar, amanhã, em novo tempo ao meu espírito, Tu farás suscitar pessoas e oportunidades que me trarão de volta ao coração a alegria e a fé, e que secarão, com ternura, as sofridas lágrimas que verto hoje.
Assim seja!
(Psicografada em reunião do Instituto André Luiz, em 01.02.2003)
A Lição que Precisava
Não se deve mais olhar para trás quando decidimos por nos espiritualizarmos.
O passado de cada um pode dificultar a caminhada do presente como também pode ajudá-lo na consolidação de promessas feitas.
Sejamos sóbrios.
Sejamos honestos com as propostas que a cada instante os benfeitores espirituais estão nos oferecendo.
Corre o tempo em que as apurações são necessárias. Nosso planeta tão pródigo, tão benigno, merece uma posição melhor no cômputo cósmico. Nosso Mestre Jesus vem há milhares de anos ofertando a todos as bênçãos da Sua presença iluminada, sábia e amorosa.
Não se pode precisar o início histórico de cada morador desta casa, pode-se, contudo, avaliar o que cada qual fez e faz do tempo que aqui está a partir das suas posturas e decisões.
O planeta necessita de nossas ações positivas para que ele avance na escala dos mundos, atingindo outro estágio que o aproxime da categoria de mundos felizes.
Noutro dia encontrei alguém muito feliz.
Ela caminhava com desenvoltura por uma avenida entulhada de gente, carroças de pipocas, bancas de jornal e inúmeros camelôs divulgando em voz alta seus produtos, numa confusão generalizada.
Segui-a com os olhos já que estava distante, na sacada do prédio onde funciona a lavanderia na qual trabalho. Era o meu horário de almoço.
E aquela pessoa sorria para todos, distribuindo formosas bênçãos.
Pensei ser uma religiosa, uma distribuidora de produtos para o comércio dali, uma milionária, talvez relembrando seus tempos de pobreza ou ainda um agênere materializado entre os vivos trazendo-lhes os recados da espiritualidade além.
Fiquei intrigado com tamanha felicidade.
Donde vinha ela? Onde se abastecia de tanta festa interior?
Passei assim a observá-la diariamente. E ela não falhava. Vinha todos os dias, distribuindo os mesmos benefícios da sua aura em festa.
Fiz um acordo com o patrão. Trabalharia durante uma semana até as 22 horas para que ele me desse um dia de folga durante a semana. Eu precisava descer da sacada, encontrar-me com ela.
Assim, numa bela terça-feira, dia da minha reunião mediúnica, aprontei-me com uma roupa melhor, barbeei, peguei algum dinheiro para almoçar num restaurante e lá fui eu encontrar-me com a doadora de alegrias.
Cuidei para que meu patrão não me visse andando pela rua, próximo à lavanderia. Sempre se tem um servicinho que é nossa especialidade e aí, pronto: – Olha, que bom que está por aqui. Estou precisando de você. Suba!
Caminhei então por entre aquele ambiente calorento e confuso durante trinta minutos para sentir o que sentia aquela pessoa que transitava com desenvoltura por entre tudo e todos.
Ela não aparecia.
Caminhei mais um pouco, nada! Um pouquinho mais e não a encontrava.
Passei pelos mesmos locais que ela costumava passar e na hora de sempre. E ela não aparecia. Duas horas depois estava extenuado. Quase não tinha mais fôlego. A roupa grudava em meu corpo suado.
De tanto levar empurrões e pisões, tinha pré-hematomas por todos os lados do corpo. Até xinguei uma criança que corria esbaforida procurando um algodão doce que havia escapado de suas mãos.
Uma mulher obesa, besuntada de maquiagem e trajando enorme vestido vermelho com bolas e fitas brancas, vinda das partes mais exóticas do planeta, pediu-me moedas e companhia. Nem dei atenção a ela, pelo contrário, empurrei-a com força.
Um velho capenga mal se firmava nos pés e, absurdo, queria transitar naquele lugar. Ia ao médico. Por que não arranjava um médico na periferia da cidade? Será que não percebia que seu andar lento e manquitola atrapalhava a passagem de todos?
Um camelô que vendia azeitonas baratas, infestado daquele cheiro, quase me empurrou goela abaixo uma daquelas sementes verdes: – Prova! Vai perceber que é a melhor da cidade!
Depois veio uma cigana pegando minhas mãos e dizendo que eu iria encontrar bela moça para casar. Ora, já era casado há tanto tempo! Disse a ela que procurasse seu lugar! Tudo aquilo me deixava superestressado.
Um grupo de desocupados discutia futebol, numa roda, impedindo a passagem. Ditei-lhes algumas palavras impróprias e falei mal do futebol, dizendo que enquanto eu ganhava três salários mínimos, há jogadores que ganham mais de oitocentos salários mínimos! Depois até pensei no que eu tinha a ver com isto. Mas já havia dado minha infeliz opinião.
E fui assim, trombando aqui, ali, levando pisões e arranhões, ditando impropérios tirados de uma imensa rede de variedades, que perambulei por duas horas e duas a mais do tempo que via aquela pessoa feliz passar e sorrir para todos.
E, por falar nela, nada! A divina criatura tirou folga justo naquele dia.
Chegou a noite e fui para a reunião mediúnica.
Estava cansado demais. Com certeza não produziria nada. Arrependi-me por não ter trabalhado normalmente. O meu trabalho era uma preparação para minhas conversas com Espíritos necessitados.
O diretor da reunião deu início à mesma.
Silêncio, leitura do Evangelho, prece e aguardos.
Uma médium foi logo acionada por um irmão, depois outra e mais outra. Não conseguia tabular boa conversação. Houve um momento que o diretor teve que interferir. Eu não estava bem. Estava muito cansado e aborrecido por não ter encontrado a pessoa feliz.
Já no final, antes da prece de encerramento, dona Justina, médium mais antiga no Centro Espírita que eu frequentava, tomou minhas mãos e olhou-me com carinho: – Está aqui uma entidade que deseja falar com você. Escute bem o que ela tem a dizer.
Dito isto, foi logo acionada por uma entidade calma e feliz:
– Olá, amigo. Bom te ver aqui. Estou feliz por isto. Meu nome é Xênia e venho de muito longe.
Minhas marcas estão arquivadas em sua memória. Faz algum tempo e fomos amigos numa jornada venturosa.
Você me encantou pela disposição, alegria e bom humor perante as situações mais difíceis que enfrentava.
Eu era apenas uma aprendiz das suas posturas sãs e benevolentes.
O tempo passou e você renasceu.
Eu permaneci. Consegui descobri-lo trabalhando na lavanderia. Marquei bem o seu horário de folga e passava pela avenida, mostrando a você minhas melhoras no campo do bom humor e do entendimento de como lidar com situações e pessoas difíceis.
Hoje não me foi possível passar pela avenida porque tive a autorização de vir a esta reunião para conversarmos.
Assim, gostaria de saber o que achou de mim.
Melhorei um pouco?
Abaixei a cabeça envergonhado.
Jesus havia permitido que eu visse um Espírito desencarnado. Coisa que mais queria.
E não era uma visão apenas para meu deleite.
Era para que eu, em vendo o Espírito desencarnado, olhasse para dentro de mim.
Eu estava desaprendendo tudo. Se fui mesmo o que ela disse, havia despencado de algum cume.
Percebi o quanto necessitava melhorar.
Quem sabe lá no passado fui impulsionado para os alvores da alegria como um estímulo e agora havia retornado para os processos da consolidação?
Olhei para Xênia e a vi novamente. Dona Justina desapareceu e ali aquela pessoa de beleza jovial sorria-me, estendendo as mãos: – Você me recebe como filha?
Quase desfaleci. Eu e minha esposa estávamos nos preparando para nos colocar à disposição de Deus para que nos enviasse um de Seus filhos. – Renascerei em paz e feliz e, mais ainda, por ser amparada por você que me ensinou a caminhar com bravura pelas avenidas tormentosas do mundo.
Chorei copiosamente. Ninguém ali entendeu. Xênia seria minha filha.
E agora, como recebê-la? Que mudanças necessitaria realizar? O que precisava domar em mim das minhas intempestividades, das minhas ranzinzas, das minhas respostas prontas para aquilo que me perturbava?
Ontem ela renasceu. Tomei-a nos braços e prometi: – Caminharei com você nas avenidas tortuosas do mundo, mostrando-lhe que tudo é de Deus e que estamos no lugar certo, com as necessidades de que mais precisamos.
Por Guaraci Lima Silveira
01 abril 2012
Flor de ir embora - Fátima Guedes
"Flor de ir embora é uma flor que se alimenta do que a gente chora..."
Filhos adotivos
O casal aguarda ansiosamente um filho.
Todavia, embora os médicos garantam que não há nenhum problema físico, o desejo não se concretiza.
Sucedem-se alguns meses...
Finalmente, admitindo que o filho não virá, marido e mulher resolvem adotar uma criança.
Consumada a adoção, semanas mais tarde a esposa constata, feliz e surpresa, que está grávida.
Em breve o lar é enriquecido com mais um filho.
Afirmam os médicos que este fenômeno é freqüente; a incapacidade do casal em gerar filhos é motivada pela tensão desenvolvida em vista do desejo extremado de alcançar a paternidade, o que inibe o mecanismo biológico da reprodução.
Ao adotar a criança, os cônjuges relaxam a tensão, sucedendo-se, normalmente, a concepção.
Ao adotar a criança, os cônjuges relaxam a tensão, sucedendo-se, normalmente, a concepção.
Sob o ponto de vista espírita, não há aqui a mera influência de fatores; determinados casais assumem perante a Espiritualidade o compromisso de cuidar de um filho adotivo, além dos nascidos de sua união.
Se estes surgem primeiro, haverá a tendência para o casal sentir-se realizado nos seus ideais de paternidade, deixando de cumprir o planejamento feito.
Então, mentores espirituais retardam por algum tempo os processos reencarnatórios marcados para aquele lar, até que se dê a adoção.
Há Espíritos que reencarnam para serem filhos adotivos.
Esta situação faz parte de suas provações, geralmente porque no passado comportaram-se de forma indigna em relação aos deveres familiares.
Voltam ao convívio dos companheiros do pretérito sem laços de consangüinidade, o que para os Espíritos de mediana evolução representa sempre uma provação difícil, destinada a ensiná-los a valorizar a vida familiar.
Harmoniza-se, assim, a situação de um grupo reunido no lar para serviços de resgate e reajuste, competindo aos pais o máximo de cuidado em favor daquele familiar que ressurge na condição de filho adotivo.
Este, mais do que os outros, é alguém necessitado de muita compreensão e carinho, a fim de que, superando o trauma que fatalmente experimentará ao ter conhecimento de sua condição, aproveite integralmente os benefícios da experiência, sem marcas negativas em sua personalidade.
A incapacidade de gerar filhos pode ter outras motivações.
O casal, por exemplo, que em existências anteriores furtou-se às emoções de reter junto ao coração um rebento de sua carne, por não desejar problemas, orientando suas ações em termos de egoísmo a dois, preocupado apenas com prazeres e sensações, segurança e conforto, poderá experimentar a angústia da esterilidade.
Em tais circunstâncias, os valores da abnegação e do amor podem ensejar perspectivas mais felizes.
Seria o caso do casal sem filhos que se dedicasse de coração aos órfãos, quer trazendo-os carinhosamente ao convívio do próprio lar, quer participando de instituições destinadas a dar-lhes amparo e assistência.
Por terem abraçado filhos de lares alheios, ambos acabariam compensados com a alegria de abraçar seus próprios filhos.
Não pretendemos sugerir que todo casal sem filhos os terá, desde que parta para a adoção, seja porque deve receber primeiro o adotivo, seja porque o adotivo lhe dará méritos necessários.
Cada caso tem suas particularidades e ninguém pode avaliar a extensão dos compromissos assumidos por aqueles que experimentam a frustração de seus anseios de paternidade.
O que se pode afirmar é que o filho adotivo constitui sempre um treino dos mais nobres no campo da fraternidade.
Nada mais meritório aos olhos de Deus, e talvez raros serviços na Terra sejam tão compensadores em termos de Vida Eterna.
Quando os homens compreenderem isso, não teremos mais orfanatos, porque toda criança sem pais encontrará corações generosos dispostos a dar-lhe carinho e amparo no próprio lar, semeando Amor para um mudo melhor.
(Richard Simonetti)
(Brasil Espírita, Fevereiro de 1972)
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