"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

10 março 2013

Os nossos Eus




Esses eus de que somos feitos, sobrepostos como pratos empilhados nas mãos de um empregado de mesa, têm outros vínculos, outras simpatias, pequenas constituições e direitos próprios - chamem-lhes o que quiserem (e muitas destas coisas nem sequer têm nome) - de modo que um deles só comparece se chover, outro só numa sala de cortinados verdes, outro se Mrs. Jones não estiver presente, outro ainda se lhe prometer um copo de vinho - e assim por diante.
Pois cada indivíduo poderá multiplicar, a partir da sua experiência pessoal, os diversos compromissos que os seus diversos eus estabelecerem consigo - e alguns são demasiado absurdos e ridículos para figurarem numa obra impressa.

(Virginia Woolf - in  “O Livro das Reflexões e Pensamentos”)

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06 março 2013

O Retiro da Alma



Há quem procure lugares de retiro no campo, na praia, na montanha; e acontece-te também desejar estas coisas em grau elevado.

Mas tudo isto revela uma grande simplicidade de espírito, porque podemos, sempre que assim o quisermos, encontrar retiro em nós mesmos.

Em parte alguma se encontra lugar mais tranquilo, mais isento de arruídos, que na alma, sobretudo quando se tem dentro dela aqueles bens sobre que basta inclinar-se para que logo se recobre toda a liberdade de espírito, e por liberdade de espírito, outra coisa não quero dizer que o estado de uma alma bem ordenada.

Assegura-te constantemente um tal retiro e renova-te nele. 

Nele encontrarás essas máximas concisas e essenciais; uma vez encontradas dissolverão o tédio e logo te hão de restituir curado de irritações ao ambiente a que regressas.

(Marco Aurélio - Imperador Romano, in "Pensamentos")

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Um pouco de Khalil Gibran...



Aprendi silêncio com os falantes, tolerância com os intolerantes e gentileza com os rudes. 
Ainda, estranho, sou ingrato a esses professores.

(Khalil Gibran)

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05 março 2013

Zé tirano



Zé tirano
Era a alcunha
Onde podia
Metia a unha.

Esperto, capaz
Tudo queria
Aqui e acolá
Fazia razia.

Rico, poderoso,
Todos manipulava
Sem se importar
Se errado estava.

De tal modo
Era o seu agir
Que “tirano” ficou
Para o porvir.

Todos o receavam
Com ódio ou medo
Ele, o tirano
Caía no degredo...

No degredo espiritual
Apesar da opulência
Ganhando inimigos
Com a sua vivência

Zé, o tirano
Voltou agora
Pobre, enfesado,
Filho do Zé da nora.

Trabalha no campo
De sol a sol
Fraco de corpo
A alma num redol.

Diz quem vê
Que sofre pesadelos
Coitado do jovem
Amigos? Nem vê-los

Porque será
Tanto sofrer?
O Zé da nora
Pergunta à mulher.

São coisas de Deus
Vá-se lá saber
Ele lá sabe
Porquê o sofrer

Mas nosso filho
Que mal realizou
Para nascer assim
Porque Deus o marcou?

Só a reencarnação
Explica tal
Que ninguém espere o bem
Se praticou o mal.

Zé tirano sonha
Com opulência, grandeza,
Mas nesta vida
Só terá a pobreza.

Assim aprenderá
O preço da fraternidade
A ser simples, humilde
E útil à humanidade.

Reencarnação, imortalidade,
Ensina o espiritismo
E a imortal comunicabilidade
Revivendo o cristianismo.

A Doutrina Espírita
Kardec codificou
Observando, pesquisando,
Essas leis nos deixou.

Se queres conhecer
O mundo espiritual
Estuda Kardec
É esse o manual.

Poeta alegre
(Psicografia recebida em Caldas da Rainha, Portugal, em 18 de Janeiro de 2004)

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Primavera em Paris


Dizem que havia um cego sentado na calçada em Paris, com um boné a seus pés e um pedaço de madeira.

No boné, estava escrito com giz branco:

"Por favor, ajude-me, sou cego".

Um publicitário, da área de criação, que passava em frente a ele, parou e viu umas poucas moedas no boné.

Sem pedir licença, pegou o cartaz, virou-o, pegou o giz e escreveu outro anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira aos pés do cego e foi embora.

Pela tarde o publicitário voltou a passar em frente ao cego que pedia esmola. Agora, o seu boné estava cheio de notas e moedas.

O cego reconheceu as pisadas e lhe perguntou se havia sido ele quem reescreveu seu cartaz, sobretudo querendo saber o que havia escrito ali.

O publicitário respondeu: "Nada que não esteja de acordo com o seu anúncio, mas com outras palavras".

Sorriu e continuou seu caminho.

O cego nunca soube, mas seu novo cartaz dizia:

"Hoje é primavera em Paris, e eu não posso vê-la”.

Mudar a estratégia quando nada nos acontece pode trazer novas perspectivas.


(Autor desconhecido)

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04 março 2013

Dica de livro: “Por Favor Cuide da Mamãe”, de Kyung-Sook-Shin




Park So-nyo, 69 anos, mãe de cinco filhos, desapareceu.

Ao chegar a Seul para visitá-los, saindo de sua aldeia com o marido, com quem é casada há mais de 50 anos, ela é deixada para trás em meio à multidão em uma plataforma da estação de metrô.

Como fez a vida toda, ele simplesmente supôs que a esposa o seguia.

Essa é a última vez em que Park é vista.

Começa então a procura, liderada pelos filhos e o marido, que se transforma em uma exploração emocional repleta de remorso e marcada pela triste descoberta de uma mulher que ninguém nunca conheceu.

Narrado pelas vozes de uma filha, de um filho, do marido e da própria mulher desaparecida, "Por favor, cuide da Mamãe" é, ao mesmo tempo, um retrato da Coréia do Sul contemporânea e uma história universal sobre família e amor.

Editora Intrínseca.


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O título do livro nos comove e chama a atenção, e logo no início da leitura somos tocados pelos diálogos familiares, que nos tornam quase que mais um participante daquela família em busca da mãe que desapareceu.

No livro, o desaparecimento da mãe, Park So-Nyo, quase não notada pela família, um membro quase invisível no dia a dia,  provoca sentimentos diversos como remorso, culpa, tristeza e saudade.

Somos levados a refletir sobre nossa própria postura frente a nossa família, nossas vidas, nossas prioridades.

Inevitavelmente fazemos um paralelo com a nossa própria trajetória.

Como estamos tratando nossa mãe, nosso pai, nossos irmãos?

Emoção da primeira à última página.  

E nós precisamos disso.

Pensar nisso é o que faz desse livro tão especial.

Recomendadíssimo.


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Abaixo um pequeno trecho inicial.


Faz uma semana que Mamãe sumiu.

Reunida na casa do seu irmão mais velho, Hyong-chol, a família troca idéias.

Você decide preparar panfletos e distribuí-los onde Mamãe foi vista pela última vez.

primeira coisa a fazer, todos concordam, é rascunhar o panfleto.

Obviamente, um panfleto é um recurso antiquado para a situação, mas não há muito que a família da pessoa desaparecida possa fazer, e a pessoa desaparecida é ninguém menos que
sua mãe. 

Tudo o que você pode fazer é registrar o desaparecimento, vasculhar a área e perguntar ao maior número possível de pessoas se uma senhora parecida com ela foi vista.

Seu irmão mais novo, dono de uma loja on-line de roupas, diz que postou na internet que a mãe sumiu, descreveu o local onde ela foi vista pela última vez, adicionou sua foto e pediu para que as pessoas entrassem em contato com a família, caso a vissem.

Você quer procurá-la onde acredita que ela possa estar, mas sabe que ela não conseguiria chegar sozinha a nenhum lugar nessa cidade.

Hyong-chol diz que é você quem deve redigir o panfleto, já que seu trabalho é escrever.

Você  fica vermelha, como se tivesse sido pega fazendo algo que não devia.

Não tem certeza se suas palavras ajudariam a encontrar Mamãe.

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03 março 2013

Tudo passa...



Tudo passa...

Todas as coisas na Terra passam.
Os dias de dificuldade passarão...
Passarão, também, os dias de amargura e solidão.

As dores e as lágrimas passarão.
As frustrações que nos fazem chorar... Um dia passarão.

A saudade do ser querido que está longe, passará.

Os dias de tristeza...
Dias de felicidade...
São lições necessárias que, na Terra, passam, deixando no espírito imortal 
as experiências acumuladas.

Se, hoje, para nós, é um desses dias,
repleto de amargura, paremos um instante.
Elevemos o pensamento ao Alto
e busquemos a voz suave da Mãe amorosa,
a nos dizer carinhosamente: 'isto também passará'

E guardemos a certeza pelas próprias dificuldades já superadas que não há mal que dure para sempre,
semelhante a enorme embarcação que, às vezes, parece que vai soçobrar diante das turbulências de gigantescas ondas.

Mas isso também passará porque Jesus está no leme dessa Nau
e segue com o olhar sereno de quem guarda a certeza de que a
agitação faz parte do roteiro evolutivo da Humanidade
e que um dia também passará.

Ele sabe que a Terra chegará a porto seguro
porque essa é a sua destinação.

Assim, façamos a nossa parte o melhor que pudermos,
sem esmorecimento e confiemos em Deus,
aproveitando cada segundo, cada minuto que, por certo, também passará.

Tudo passa...
exceto Deus.

Deus é o suficiente!

(Chico Xavier)

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Meu marfim - Simone


Súplica



Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

(Miguel Torga)

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Acalma o meu passo, Senhor



Acalma o meu passo, Senhor
Desacelera as batidas do meu coração, acalmando minha mente.
Diminua meu ritmo apressado com uma visão de eternidade do tempo.
Em meio às confusões do dia, dá-me a tranquilidade das montanhas.
Retira a tensão dos meus músculos e nervos com a música tranquilizante dos rios de águas constantes que vivem em minhas lembranças.
Ajuda-me a conhecer o poder mágico e reparador do sono.
Ensina-me a arte de tirar pequenas férias, reduzir meu ritmo para contemplar uma flor, papear com um amigo, afagar uma criança, ler um poema, ouvir minha música preferida.
Acalma meu passo, Senhor...para que eu possa perceber no meio do incessante labor cotidiano dos ruídos, lutas, alegrias, cansaços ou desalentos, a Tua presença constante no meu coração.
Acalma meu passo, Senhor...para que eu possa entoar o cântico da esperança, sorrir para o meu próximo e calar-me para escutar Tua voz.
Acalma meu passo, Senhor...e inspira-me a enterrar minhas raízes no solo dos valores duradouros da vida, para que eu possa crescer até as estrelas do meu destino maior.
Obrigado, Senhor, pelo dia de hoje, pela família que me destes, pelo meu trabalho, pelos meus amigos e, sobretudo, pela Tua presença em minha vida.

(Desconheço a Autoria)

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