"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

18 julho 2014

A Revolução da Bondade


Acho que a grande revolução, e o livro «Ensaio sobre a Cegueira» fala disso, seria a revolução da bondade.

Se nós, de um dia para o outro, nos descobríssemos bons, os problemas do mundo estariam resolvidos.

Claro que isso nem é uma utopia, é um disparate.

Mas a consciência de que isso não acontecerá, não nos deve impedir, cada um consigo mesmo, de fazer tudo o que pode para reger-se por princípios éticos.

Pelo menos a sua passagem pelo este mundo não terá sido inútil e, mesmo que não seja extremamente útil, não terá sido perniciosa.

Quando nós olhamos para o estado em que o mundo se encontra, damo-nos conta de que há milhares e milhares de seres humanos que fizeram da sua vida uma sistemática ação perniciosa contra o resto da humanidade.

Nem é preciso dar-lhes nomes.


(José Saramago, in " Folha de S. Paulo, Outubro 1995")


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Um pouco de Rubem Alves...


16 julho 2014

A noiva da cidade - Francis Hime



A prece não é um pedido, é um anseio da alma. 
É admitir diariamente as suas fraquezas. 
É melhor possuir um coração sem palavras em meio à prece, do que palavras sem coração.

(Mahatma Gandhi)


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Um pouco de Hermann Hesse...


Quanto mais envelhecia, quanto mais insípidas me pareciam as pequenas satisfações que a vida me dava, tanto mais claramente compreendia onde eu deveria procurar a fonte das alegrias da vida. 

Aprendi que ser amado não é nada, enquanto amar é tudo (...).

O dinheiro não era nada, o poder não era nada. Vi tanta gente que tinha dinheiro e poder, e mesmo assim era infeliz. 

A beleza não era nada. Vi homens e mulheres belos, infelizes, apesar de sua beleza. 

Também a saúde não contava tanto assim. Cada um tem a saúde que sente. Havia doentes cheios de vontade de viver e havia sadios que definhavam angustiados pelo medo de sofrer. 

A felicidade é amor, só isto. Feliz é quem sabe amar. Feliz é quem pode amar muito. Mas amar e desejar não é a mesma coisa. 

O amor é o desejo que atingiu a sabedoria. 
O amor não quer possuir. 
O amor quer somente amar.


(Hermann Hesse)


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14 julho 2014

Uma carta de amor


Extraída do excelente livro "Cartas do Front", de Andrew Carroll.

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Para ex-prisioneiros de guerra que estão prestes a se reencontrar com suas esposas ou noivas, saber que suas amadas permaneceram fieis a eles, às vezes por anos a fio, apenas aumentava o sentimento de felicidade.

Era justamente a perspectiva desses reencontros que dava a muitos prisioneiros a força necessária para suportar a provação física e mental, à qual muitas vezes parecia impossível sobreviver.

Homer James Colman, um soldado norte-americano de Salt Lake City, Utah, servindo no 57º Regimento de Infantaria, passou quase três anos como prisioneiro de guerra depois que as tropas norte-americanas entregaram as Filipinas aos japoneses em maio de 1942.

Depois de cinco meses de combate brutal, Colman e 10 mil outros prisioneiros aliados foram obrigados a participar da infame Marcha da Morte de Bataan, uma caminhada de 100 quilômetros sob o calor tropical, sem comida, água ou remédios, o que se provou fatal para muitos soldados já doentes e famintos.

Antes de embarcar para o Pacífico, em maio de 1941, Colman ficara noivo de Mary Parkman, uma jovem de Columbus, Geórgia.

Eles só voltaram a se ver na primavera de 1945.

A salvo e de volta aos EUA, Colman, que convalescia no Hospital Militar Walter Reed em Bethesda, Maryland (ele perdera quase metade de seu peso enquanto estivera prisioneiro), enviou à sua noiva a seguinte carta reafirmando a ela seu amor e sua devoção:

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Minha querida Mary,


Levarei mais ou menos um dia para terminar esta carta que te escrevo.

Provavelmente, será a última carta que escreverei a Mary Parkman. Embora ela jamais deixe de ser minha namorada, a próxima vez que eu escrever, a destinatária será Mary Colman, minha mulher.

Adeus, Mary Parkman. Foste a mais fiel e adorável namorada, que, ao longo de tanto tempo, esperou sozinha, por horas, semanas e anos de incerteza por um soldado que a deixou com lágrimas nos olhos.

Foste uma das milhares de bravas mulheres que fizeram o mesmo nestes últimos quatro terríveis anos e que, a menos que a população mundial mude sua natureza da noite para o dia, continuarão vendo seus homens partirem para lutar uns contra os outros.

Mas eu tive sorte e tinha tuas preces para me trazer de volta para casa.

Eu poderia passar o resto de minha vida a dizer-te o quanto significavas para mim, durante aquelas longas noites de espera, e, no entanto, jamais seria capaz de descrever esse quadro com exatidão; as noites e os dias em que tu eras minha única razão para viver e por quem voltar, e o preciso momento em que percebi, em São Francisco, que poderia voltar a falar contigo de verdade.

Então veio a percepção que eu a veria em breve, não em um ou dois anos, mas em poucas e curtas semanas, quando te teria em meus braços e te beijaria, e sentiria o perfume de teus cabelos, e tudo o que és estaria ali.
Esses sentimentos que antes foram meus sonhos mais agradáveis agora são realidade.

E meu coração esta repleto de gratidão, não por ter regressado, mas por ter, ao voltar, te encontrado à minha espera. Só isso compensa milhares de vezes tudo o que por ventura te ofereci.

Pois todo o meu coração e todo o meu amor são teus, foram e continuarão a ser enquanto nós dois vivermos. Deus me dê a força e o poder para te fazer feliz.

E seu eu for capaz de te trazer a paz e a felicidade que quero que tenhas, então também serei feliz, pois não mais seremos apenas Mary Parkman e Jim Colman – duas pessoas distintas. Pois tu serás eu, e eu serei tu, e haverá apenas um onde antes haviam dois.

Então, nesta última carta à minha noiva, como estará em toda e qualquer carta à minha esposa, veja e encontre todo o amor que há aqui para ti. E talvez possas ver em alguma parte a vida a dois que será a tua e a minha e a de nossos filhos.

Uma vida que será cheia de ternura, compreensão e amor, e desse particular pedaço de felicidade pelo qual nós dois lutamos tanto tempo para possuir.

Boa noite, querida.

Para sempre, teu

Jim



Uma semana depois os dois se casaram na capela do hospital Walter Reed.



(in Cartas do Front, Andrew Carroll. Ed. Zahar)


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Fonte: 

12 julho 2014

Sobre a influência espiritual


Nós, almas do outro lado da vida, não temos o direito de interferir no livre-arbítrio dos encarnados.

Somos sim orientadores, podemos aconselhar e inspirar, transmitindo idéias salutares e voltadas à prática do bem e da evolução.

Espíritos de diversas ordens povoam o orbe terreno e estão a nos influenciar todos os instantes, em maior ou menor grau.

Os mais sensíveis percebem claramente as intenções e conseguem separar o que é luz e o que é treva. Mas a maior parte da população nem imagina o que os envolve, em atitudes, pensamentos e tomada de decisões.

Importante manter o padrão vibratório elevado para que a sintonia psíquica individual busque as frequências mais benéficas. 

Ao contrário, somos envoltos por pensamentos de angústia, depressão, vícios e revolta, que nada contribuem para nossa ascensão e bem viver.

Atentem para as ideias que brotam em nossa mente. Muitas delas são fruto do descuido e da invigilância, portas abertas para más companhias espirituais.

Os mentores não determinam nossas tarefas, muito menos nos ordenam a cumprir determinada atividade. O Alto respeita nossas escolhas, que são consequência de quem somos verdadeiramente. 

Ao trilharmos caminho turvo, os guias nos mostram as possibilidades, aconselham de maneira aberta e clara. Cabe a cada um definir qual estrada irá seguir.

Que a elevação da alma se inicie nos pensamentos, irradiando em nossas palavras e atitudes cotidianas.


(Orientação EspiritualPai Josefino de Aruanda,13/08/2013.)

(Mensagem psicografada pela médium Julia Jenska)


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Dica de livro: “Vozes Esquecidas da Primeira Guerra Mundial” - Max Arthur


Uma nova história contada por homens e mulheres que vivenciaram o primeiro grande conflito do século XX A Primeira Guerra Mundial é um dos episódios mais marcantes na história da Humanidade.

Imagine esse conflito narrado não por um estudioso, mas pelas pessoas que o vivenciaram e sofreram durante muitos anos.

Tais relatos estão contidos em Vozes Esquecidas da Primeira Guerra Mundial, de Max Arthur, em associação com o Museu Imperial de Guerra britânico.

A idéia do livro surgiu em 1972, quando acadêmicos e arquivistas do museu começaram a procurar homens e mulheres que tinham sobrevivido à Primeira Guerra Mundial.

Vozes Esquecidas traz depoimentos dessas pessoas e de veteranos que lutaram por seus países.

O livro, com introdução de Sir Martin Gilbert, apresenta depoimentos de todos os tipos de cidadãos: soldados, costureiras, estudantes, políticos, dentre outros, e muitas fotos. Os capítulos estão divididos pelos anos da guerra (1914-1918).

É curioso e angustiante notar a diferença dos relatos do começo e do fim do livro: antes, esperança e certeza de um conflito rápido; depois, medo e incerteza quanto à sua duração.

Ed. Bertrand Brasil.


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Eis alguns trechos do livro:


Os ratos costumavam roer nossa ração à noite. Furavam qualquer coisa em que a acondicionássemos, a menos que fosse em um recipiente de metal. Mas os ataques de gás acabaram com eles. Certa vez, vimos dúzias e dúzias se arrastando de barriga pelo chão. Enfiávamos a ponta do pé embaixo deles e os jogávamos para dentro da vala. Apesar do gás, dois cisnes viviam na vala e subiram no parapeito sem aparentar nenhuma seqüela.

(artilheiro Leonard Ounsworth, 124ª. Bateria de Campanha Pesada)

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Os franceses tiravam as camisetas à noite e passavam a bainha perto da chama da vela que tínhamos nos abrigos, o que produzia uma série de estalidos. Matavam os piolhos assim e os tiravam da camisa. Achamos muito divertido vê-los fazer isso; estávamos livres de pragas a essa altura e não sabíamos o que eram piolhos. Na manhã seguinte, porém, estávamos cheios deles. Ficamos infestados de piolhos e passamos a ter a mesma distração dos franceses em seu problema com essa praga.

(soldado Murray, da 2ª. Divisão americana)


Estávamos recebendo novos recrutas de Londres, e certo dia nos enviaram dois jovens, entre 16 e 17 anos. Fazia apenas duas semanas que estavam conosco quando, de repente, tivemos de fazer um ataque.

Os dois jovens, quando souberam que faríamos esse ataque, caíram literalmente em choro convulsivo. (...) Quando nos lançamos ao ataque, nós os perdemos de vista, mas o fato é que eles já haviam debandado e foram pegos pela polícia militar a cerca de 4 ou 5 quilômetros de onde os combates estavam sendo travados.

Os dois jovens foram trazidos e postos bem no fim da formação, perto do oficial. Seus quepes foram tirados, e todas as insígnias do regimento foram arrancadas. (...)

Como os dois jovens haviam sido do meu pelotão, decidimos fazer um sorteio. Aqueles que fossem sorteados –quatro deles—sabiam o que teriam de fazer às 8h da manhã seguinte.

Na manhã seguinte, os dois jovens foram levados para um pátio vendados. Cada um dos quatro homens do meu pelotão que iriam fuzilá-los recebeu suas balas. Divididos em dois pares, disseram-lhes que cada qual deveria atirar em um dos rapazes. Um teria de atirar na cabeça, outro no coração. Portanto, tudo indicava que seriam mortos instantaneamente, como de fato foram.

(soldado William Holmes, 12º. Batalhão, Regimento de Londres)



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