"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

09 julho 2012

Mãe, estou aqui!




A senhora X havia perdido, há alguns meses, sua filha única, de catorze anos de idade, objeto de toda a sua ternura, e muito digna de seus lamentos pelas qualidades que prometiam fazer, dela, uma mulher perfeita. 

Essa jovem pessoa havia sucumbido a uma longa e dolorosa doença. 

A mãe, inconsolável com essa perda, via, dia a dia, sua saúde
alterar-se, e repetia, sem cessar, que iria logo juntar-se com sua filha. 

Instruída quanto à possibilidade de se comunicar com os seres de além-túmulo, a senhora X resolveu procurar, em uma conversa com a sua criança, um alívio para sua pena. 

Uma dama de seu conhecimento era médium, mas, pouco experimentadas, uma e outra, para semelhantes evocações,
sobretudo, em uma circunstância tão solene, me convida para assistir. 

Não éramos senão três: A mãe, a médium e eu. Eis o resultado dessa primeira sessão.

A mãe:  - Em nome de Deus Todo-Poderoso, Espírito de Julie X, minha filha querida, eu te peço vir se Deus o permite.

Julie:  - Mãe! Eu estou aqui.

A mãe:  -  É mesmo tu, minha criança, quem me responde? Como posso saber que és tu?

Julie:  - Lili. 
(Era um pequeno nome familiar dado à jovem, em sua infância; não era conhecido nem pelo médium nem por mim, já que, desde vários anos, não a chamava senão pelo seu nome de Julie. A esse sinal, a identidade era evidente; a mãe, não podendo dominar sua emoção, explode em soluços).

Julie:  - Mãe! Por que se afligir? Sou feliz; bem feliz; não sofro mais e te vejo sempre.

A mãe:  - Mas eu não te vejo. Onde estás?

Julie:  - Aí; ao lado de ti, minha mão sobre a senhora Y (a médium) para fazer com que escreva, o que te digo. Veja minha escrita. 
(A escrita era, com efeito, a da sua filha.)

A mãe:  - Tu dizes: minha mão; tens, pois, um corpo?

Julie:  - Não tenho mais esse corpo que me fazia sofrer; mas tenho dele a aparência. Não estás contente, que eu não sofra mais, uma vez que posso conversar contigo?

A mãe:   - Se eu te visse, pois, te reconheceria?

Julie:  - Sim, sem dúvida, e tu já me tens visto, freqüentemente em teus sonhos.

A mãe:  - Eu te revi, com efeito, em meus sonhos, mas, acreditei que era um efeito da minha imaginação, uma lembrança.

Julie:  - Não; sou eu que estou sempre contigo, e que procura te consolar; fui eu quem te inspirou a idéia de me evocar. Tenho muitas coisas a dizer-te. Desconfie do senhor F, ele não é franco. 
(Esse senhor, só conhecido de minha mãe, e assim nomeado espontaneamente, era uma nova prova da identidade do Espírito que se manifestava.)

A mãe:  - Que pode, pois, fazer contra mim o senhor F?

Julie:  - Não posso dizer-te; isso me é proibido. Não posso mais que advertir-te para dele desconfiar.

A mãe:  - Estás entre os anjos!

Julie:  - Oh! não ainda; não sou bastante perfeita.

A mãe:  - Não te reconheço, no entanto, nenhum defeito; tu eras boa, doce, amorosa e benevolente para todo o mundo; será que isso não basta?

Julie:  - Para ti, mãe querida, eu não tinha nenhum defeito; eu acreditava nisso; tu me dizias, muito freqüentemente! Mas, no presente, vejo o que me falta para ser perfeita.

A mãe:  - Como adquirires as qualidades que te faltam?

Julie:  - Em novas existências, que serão mais e mais felizes.

A mãe:  - Será na Terra que terás essas novas existências?

Julie:  - Disso não sei nada.

A mãe:  - Uma vez que não havias feito mal durante tua vida, porque tanto sofreste?

Julie:  - Prova! Prova! Eu a suportei com paciência, pela minha confiança em Deus; por isso, sou bem feliz hoje. Até breve, mãe querida!


Em presença de semelhantes fatos, quem ousaria falar do nada do túmulo, quando a vida futura se nos revela, por assim dizer, palpável?  

Essa mãe, minada pelo desgosto, goza, hoje, de uma felicidade inefável por poder conversar com sua criança; não há mais, entre elas, separação; suas almas se confundem e se expandem, no seio uma da outra, pela permuta dos seus pensamentos.

Malgrado o véu do qual cercamos essa relação, não nos permitiríamos publicá-la, se para isso não estivéssemos formalmente autorizados. 

Pudessem, disse-nos essa mãe, todos aqueles que perderam suas afeições na Terra, experimentar a minha mesma consolação!

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Comunicação Espiritual - Evocações Particulares
Autor: Allan Kardec
Revista Espírita, janeiro de 1858





08 julho 2012

Dica de livro: “Menina Nina – duas razões para não chorar” , de Ziraldo


Um livro comovente e poético.

E que com uma linguagem simples, facilmente compreendida pelas crianças, fala sobre a perda de alguém querido e como lidar com isso.

O cartunista Ziraldo viveu um momento doloroso em sua vida quando sua esposa Vilma, com quem estivera casado por 42 anos, morreu durante o sono em decorrência de um infarto. Para lidar com a perda, Ziraldo escreveu um livro infantil em homenagem a ela.

“Menina Nina – duas razões para não chorar” fala sobre a convivência da garotinha homônima, neta do autor, com sua avó Vivi – a própria Vilma.  

Com enorme delicadeza, Ziraldo procura ensinar às crianças que, por mais duro que seja encarar a morte de uma pessoa querida, a vida continua.

Leitura recomendadíssima!

Editora Melhoramentos.

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07 julho 2012

O livreiro


Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro.

Embora sua mercadoria seja a base da civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem à nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido.– O pão diz ao homem: ou me compras ou morres de fome; – O batom diz à mulher: ou me compras ou te acharão feia. E ambos são ouvidos.

Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama. E, pois o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.

Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele sabe-o e heroicamente permanece livreiro.

E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde.

Suprima-se o livreiro e estará morto o livro – e com a morte do livro retrocederemos à idade da pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre.

A civilização vê no livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpétua, a tremula chamazinha da cultura.


(Monteiro Lobato)

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Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.

(Carl Jung)

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Meio pão e um livro


Discurso do poeta Federico García Lorca na inauguração da biblioteca de sua cidade natal "Fuente Vaqueros" em Granada, Espanha em setembro de 1931.

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'Medio pan y un libro’ (Meio pão e um livro)

Quando alguém vai ao teatro, a um concerto ou mesmo a uma festa de qualquer índole que seja, se a festa é de seu agrado, imediatamente lembra e lamenta que as pessoas que ele ama não se encontrem ali. «Minha irmã e meu pai gostariam de estar aqui», pensa, e não desfruta mais do espetáculo, a não ser através de uma leve melancolia. 

Esta é a melancolia que eu sinto, não pela gente de minha casa, o que seria pequeno e ruim, mas por todas as criaturas que por falta de meios e por desgraça não desfrutam do supremo bem da beleza que é vida e bondade, serenidade e paixão.

Por isso nunca tenho um livro, porque presenteio todos que compro, que são numerosos, e por isso estou aqui honrado e contente em inaugurar esta biblioteca da cidadezinha, a primeira seguramente de toda a província de Granada.

Não só de pão vive o homem. 

Eu se tivesse fome e estivesse à míngua na rua não pediria um pão; pediria meio pão e um livro. 

E daqui eu ataco violentamente aos que somente falam de reivindicações econômicas sem jamais apontar as reivindicações culturais que é o que os povos pedem aos gritos. 

Bem está que todos os homens comam, porém que todos os homens saibam. 

Que desfrutem de todos os frutos do espírito humano porque o contrário seria convertê-los em máquinas a serviço do Estado, seria convertê-los em escravos de uma terrível organização social.

Eu tenho muito mais pena de um homem que quer saber e não pode, do que de um faminto. Porque um faminto pode acalmar sua fome facilmente com um pedaço de pão ou com umas frutas, porém um homem que tem ânsia de saber e não possui os meios, sofre uma terrível agonia porque são livros, livros, muitos livros o que necessita e onde estão estes livros?

Livros! Livros! Aqui está uma palavra mágica que equivale a dizer: «amor, amor», e que deveriam pedir os povos como pedem pão ou como desejam a chuva para suas colheitas. 

Quando o insigne escritor russo Fedor Dostoievski, pai da revolução russa muito mais que Lênin, estava prisioneiro na Sibéria, afastado do mundo, entre quatro paredes e cercado por desoladas planícies de neve infinita; e pedia socorro em carta a sua família distante, somente dizia: «Envia-me livros, livros, muitos livros para que minha alma não morra!»

Tinha frio e não pedia fogo, tinha uma sede terrível e não pedia água: pedia livros, ou seja, horizontes, escadas para subir a montanha do espírito e do coração. 

Porque a agonia física, biológica, natural, de um corpo por fome, sede ou frio, dura pouco, muito pouco, mas a agonia da alma insatisfeita dura a vida inteira.

Já disse o grande Menéndez Pidal, um dos sábios mais verdadeiros da Europa, que o lema da República deve ser: «Cultura». Cultura porque somente através dela se pode resolver os problemas que hoje debate o povo, cheio de fé, porém falto de luz.

Setembro de 1931

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Saudade é uma dor que fere nos dois mundos...

(Chico Xavier)

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A dor que dói mais


Trancar o dedo numa porta dói. Bater com o queixo no chão dói. Torcer o tornozelo dói. Um tapa, um soco, um pontapé, doem. 

Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no rim.

Mas o que mais dói é saudade.

Saudade de um irmão que mora longe. Saudade de uma cachoeira da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais. 

Saudade do pai que já morreu.

Saudade de um amigo imaginário que nunca existiu. 

Saudade de uma cidade. 

Saudade da gente mesmo, quando se tinha mais audácia e menos cabelos brancos.

Doem essas saudades todas.

Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.

Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.

Saudade da presença, e até da ausência consentida.

Você podia ficar na sala e ele no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá. Você podia ir para o aeroporto e ele para o dentista, mas sabiam-se onde. Você podia ficar o dia sem vê-lo, ele o dia sem vê-la, mas sabiam-se amanhã.

Mas quando o amor de um acaba, ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é não saber.

Não saber mais se ele continua se gripando no inverno. Não saber mais se ela continua clareando o cabelo. Não saber se ele ainda usa a camisa que você deu. Não saber se ela foi na consulta com o dermatologista como prometeu.

Não saber se ele tem comido frango de padaria, se ela tem assistido as aulas de inglês, se ele aprendeu a entrar na Internet, se ela aprendeu a estacionar entre dois carros, se ele continua fumando Carlton, se ela continua preferindo Pepsi, se ele continua sorrindo, se ela continua dançando, se ele continua pescando, se ela continua lhe amando.

Saudade é não saber.

Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como frear as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela.

Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer.


(Martha Medeiros)

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Dica de livro: “O poder dos quietos” - Susan Cain


O que Albert Einstein, Barack Obama, Chopin, Steven Spielberg, J. K. Rowling e Bill Gates têm em comum?
A resposta é o sucesso...e a introversão.

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Em um mundo que exalta o Ideal da Extroversão, a timidez é vista como algo entre a decepção e a patologia. 

Pessoas quietas são subestimadas a todo instante e sentem que precisam ser mais comunicativas.

Mas  “O poder dos quietos” marca o fim desse dogma da sociedade. Com uma pesquisa minuciosa e diversos casos de introspecção bem sucedida, Susan Cain mostra por que a introversão e a timidez podem ser o combustível – e não o obstáculo – para os mais variados êxitos.

“Cometemos um erro grave ao abraçar o Ideal da Extroversão tão inconsequentemente. Algumas das nossas maiores ideias, a arte, as invenções — desde a teoria da evolução até os girassóis de Van Gogh e os computadores pessoais — vieram de pessoas quietas e cerebrais que sabiam como se comunicar com seu mundo interior e os tesouros que lá seriam encontrados.

Sem introvertidos, o mundo não teria: A teoria da gravidade; A teoria da relatividade; ‘O segundo advento’, de W.B. Yeats; Os noturnos de Chopin; Em busca do tempo perdido, de Proust; Peter Pan; 1984 e A revolução dos bichos, de George Orwell; ‘O Gato do Chapéu’, do Dr. Seuss; Charlie Brown; A lista de Schindler, E.T. e Contatos imediatos de terceiro grau, de Steven Spielberg; O Google; Harry Potter.”

Editora  Agir.

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06 julho 2012

Ao Médium Psicógrafo



Sob o clima da prece, arreda da mente qualquer preocupação.

Sustente o lápis, confiando.

Procure "ouvir" os pensamentos que ecoam nos seus...

Assim como o bom grão deve ser separado do joio, busque discernir o que seja útil daquilo que não trará benefício algum para você e para os que possam ler o que grafa no papel, impulsionado pela inspiração.

Não ofereça resistência, porque a dúvida não tem nenhuma razão de ser, quando apenas o Bem é a nossa preocupação primeira.

Se você indagar demasiadamente sobre a origem das idéias que fluem da sua mente, provavelmente elas passarão sem que consiga retê-las.

Não espere que o Espírito Amigo tome o seu braço por inteiro como se houvesse semelhante necessidade para que o intercâmbio se concretize.

Não raras vezes, preferimos atuar no campo das emoções e dos pensamentos, deixando a você a responsabilidade de vestir com os próprios recursos gramaticais o resultado da combinação de nossos esforços.

Ao erguer o lápis, pense em Jesus, procurando senti-lo no intimo da alma, porque assim se isolará das "formas pensamento" que vagueiam em busca de sintonia ...

Se algum espírito se aproximar de você solicitando auxilio para endereçar algumas frases de consolo a um ente querido, coloque o escrúpulo de lado, nem receie a incompreensão de terceiros ou coisa que o valha, porque o seu compromisso não é com o mundo e, sim com a Verdade.

No exercício da psicografia, como em qualquer campo da mediunidade, o importante é a perseverança.

Certamente que você ainda não é um médium perfeito e talvez nem seja por agora o médium ideal, mas, com absoluta certeza, é o companheiro de que necessitamos para que possamos nos manifestar na exaltação da imortalidade.

Para nós, você é muito importante.

Quanto possível, estude, alargando os horizontes da imaginação, porque assim os obstáculos entre nós diminuirão...

Nós também nos preparamos para trabalhar na mediunidade, porque, se cabe ao médium assimilar as nossas idéias, cabe a nós refletir com precisão o pensamento das Esferas Superiores, de onde emana toda a luz.

Meu irmão médium psicógrafo, a inconsciência tem o seu lado positivo, sem dúvida; no entanto é muito maior o saldo negativo, porquanto preferimos tê-lo como um instrumento ansioso por colaborar do que um "autômato" que nos cabe comandar...

Medite nisto.

E quando o lápis principiar a deslizar no papel, tenha a convicção de que estamos tutelando-lhe a tarefa, porque o Senhor determina que, onde uma voz se erga para, exaltar o Bem ou uma mão se movimente para colocá-lo em ação, aí estejamos em Seu nome.

Com o tempo, você acabará por observar que a renúncia e a abnegação, a disciplina e a dor, valeram a pena, porque você se transformou em pedra importante no edifício que ora se constrói na Terra, que é o Reino Celestial.


Odilon Fernandes


(Oferta de: LUZ Valquíria)







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Minha eternidade


Desde aquele dia, o mundo para mim parecia estar mergulhado na escuridão.

Por certo eu estava morto... E ao mesmo tempo me sentia muito vivo!

Mas onde estariam as pessoas? Onde aqueles que se foram antes de mim? Sempre quis rever minha esposa querida e sempre acreditei que iria revê-la na eternidade.

Mas a eternidade para mim, ao menos o que me parecia, seria a de um condenado a pegar pena sempre por seus pecados.

O fato de ter relegado muito a religião o segundo plano agora me atormentava e me fazia crer que eu não merecia o perdão de Deus.

E continuava a vagar cada vez mais enlouquecido, em meio a trevas e a criaturas estranhas, me arrastando pelos umbrais.

Na verdade, não sabia que era prisioneiro da minha própria consciência. Meus pensamentos negativos me atormentavam e se repetiam sucessivamente, como num filme que não tem fim.

Não posso precisar quanto tempo passei assim, até que um dia, tão escuro quanto aos outros, tropecei e caí, batendo com força o rosto numa pedra.

Chorei, chorei muito de dor, de amargura e por fim de arrependimento e com sincera vontade de redimir meus pecados.

Foi então que senti o toque conhecido de uma mão num ombro. Era minha querida esposa que finalmente tinha vindo em meu socorro e me levou dali, para onde pude não só recuperar aprender a trabalhar por mim e pelo próximo.

Juvenal


(Psicografado por: Cleber P. Campos)




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