"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

14 março 2013

Se eu morrer...

 

Se eu morrer, sobrevive a mim com tamanha força
que acordarás as fúrias do pálido e do frio,
de sul a sul, ergue teus olhos indeléveis,
de sol a sol sonha através de tua boca cantante.
Não quero que tua risada ou teus passos hesitem.
Não quero que minha herança de alegria morra.
Não me chames. Estou ausente.
Vive em minha ausência como em uma casa.
A ausência é uma casa tão rápida
que dentro passarás pelas paredes
e pendurarás quadros no ar.
A ausência é uma casa tão transparente
que eu, morto, te verei, vivendo,
e se sofreres, meu amor, eu morrerei novamente.

(Pablo Neruda)


*  *  *

Castro Alves do Brasil



Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para a flor cantaste? Para a água
cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos para o perfil recortado
da que então amaste? Para a primavera?

Sim, mas aquela pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por detrás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.

- Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como um cacho escuro da árvore da ira,
viajaram, e no porto se dessangrou o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.

- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado de tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.

- Cada rosa tinha um morto nas raízes.
A luz, a noite, o céu, cobriam-se de pranto,
os olhos apartavam-se das mãos feridas
e era a minha voz a única que enchia o silêncio.

- Eu quis que do homem nos salvássemos,
eu cria que a rota passasse pelo homem,
e que daí tinha de sair o destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz bateu em portas até então fechadas
Para que, combatendo, a liberdade entrasse.

Castro Alves do Brasil, hoje que teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixam-me a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.


(Pablo Neruda)


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Se fosse



Perante alguém a condenar alguém,

Destacando algum mal que aconteceu,

Se te inclinas ao fogo da censura,

Dize contigo assim: “Se fosse eu...”


Passa a criança entregue à noite e ao vento,

Amargura, nudez, olhar sem brilho...

Se vais recriminá-la, indaga simplesmente:

“E se fosse meu filho?...”


Desditoso detento em não longe...

Vozes clamam: “Prendei!...Apedrejai!...”

Ao ver-lhe a humilhação, interroga a ti mesmo: “E se fosse meu pai?...”


Diante do acusado escarnecido,

Atento ao cerco de infeliz reclamo,

Fita-lhe a dor e pensa: “E se este pobre

Estivesse entre aqueles que mais amo...?


Quanta lágrima nunca surgiria,

Quanta força da treva, agindo em vão,

Se em cada coração, à luz da vida,

Houvesse mais amor e compaixão!...


Nosso irmão delinquente!... Junto dele,

Reflete antes de erguer a própria voz:

“Como seria tudo diferente,

Se ele fosse um de nós!...”


(Manoel Monteiro in “Senda para Deus”, de Francisco Cândido Xavier – Autores diversos)


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Alguma coisa



Quando observares o incêndio lavrando na vizinhança, não é preciso te candidates ao título de herói, procurando as tarefas de integral remoção do perigo.

Faze alguma coisa, para que o fogo se reduza ou se extinga e terás agido com a fraternidade no coração.

Se a penúria visita a paisagem social em que respiras, não é necessário te convertas em salvador apressado.

Traze a quem sofre alguma gota de remédio ou a côdea de pão que te sobra na mesa farta e terás cumprido o dever da solidariedade humana.

Se o desastre feriu aqueles que te seguem de perto, não é imperioso te transformes em pessoa milagrosa.

Coopera, de algum modo, com os teus braços amigos, para que os problemas sejam solucionados e revelar-te-ás em bom caminho.

Se a maledicência amontoa espinheiros em torno da alheia reputação, ninguém espera sejas o advogado palavroso dos ausentes.

Basta que faças algum silêncio ou que pronuncies uma frase caridosa e marcharás na senda de elevação.

O Céu não reclama dos homens a santidade improvisada e nem exige que a criatura abandone hábitos seculares de um dia para outro.

Aguarda, sim, a nossa migalha de boa vontade na redução dos variados enigmas da luta humana.

Em verdade, grande é a dor que martiriza os corações vinculados à Terra...

Realmente, a aflição é hoje problema generalizado, em todas as latitudes do Globo, mas, quando coração fizer alguma coisa, cada dia, pela vitória do bem, estaremos alcançando para o mundo inteiro a conquista da felicidade imortal.

(Emannuel)


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12 março 2013

Livros...por que amo ler?



Por que são os livros que alimentam a minha alma quando ela não quer mais viver uma vida cinza...
São os livros que curam as feridas da minha luta diária, e me fazem, já não tão criança, sonhar com lugares que dificilmente verei...
E são os livros que me fazem acreditar na bondade humana, através das atitudes dos personagens que encontro em minhas leituras, porque mesmo aos que não são tão bons e elevados, dou sempre uma segunda chance.

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11 março 2013

Fado Saramago - Ivan Lins & Antonio Zambujo





Um pouco de Rubem Alves...



Um único  momento de beleza e amor justifica a vida inteira.

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Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe.

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Eu quero desaprender para aprender de novo. Raspar as tintas com que me pintaram. Desencaixotar emoções, recuperar sentidos.

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Faz tempo que, para pensar sobre Deus não leio os teólogos, leio os poetas.

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Quem sabe que o tempo está fugindo descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será…

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Não sabia que era precisamente esse fracasso que me levaria ao lugar que desejava. As correntes do rio profundo foram mais generosas que o meu remar contra elas. Não cheguei aonde planejei ir. Cheguei, sem querer, aonde meu coração queria chegar, sem que eu o soubesse.

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Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.

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Todo mundo gostaria de se mudar para um lugar mágico. Mas são poucos os que têm coragem de tentar.

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A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que perdeu.

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Aquilo que o coração ama fica eterno.

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O tempo pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração.

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Não havíamos marcado hora, não havíamos marcado lugar. E, na infinita possibilidade de lugares, na infinita possibilidade de tempos, nossos tempos e nossos lugares coincidiram. E deu-se o encontro.

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Amor é estado de graça e com amor não se paga. Nada mais falso do que o ditado popular que afirma que 'amor com amor se paga'. O amor não é regido pela lógica das trocas comerciais. Nada te devo. Nada me deves. Como a rosa que floresce porque floresce, eu te amo porque te amo.

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E é preciso saber falar. Há certas falas que são um estupro. Somente sabem falar os que sabem fazer silêncio e ouvir. E, sobretudo, os que se dedicam à difícil arte de adivinhar: adivinhar os mundos adormecidos que habitam os vazios do outro.

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O segredo do amor é a androgenia: somos todos, homens e mulheres, masculinos e femininos ao mesmo tempo. É preciso saber ouvir. Acolher. Deixar que o outro entre dentro da gente. Ouvir em silêncio. Sem expulsá-lo por meio de argumentos e contra-razões.

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O ouvido é feminino, vazio que espera e acolhe, que permite ser penetrado. A fala é masculina, algo que cresce e penetra nos vazios da alma.
O amor vive neste sutil fio de conversação, balançando-se entre a boca e o ouvido.

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Uma pessoa é bela, não pela beleza dela, mas pela beleza nossa que se reflete nela...

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Aquilo que está escrito no coração não necessita de agendas porque a gente não esquece. O que a memória ama fica eterno.

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Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem... O ato de ver não é coisa natural. Precisa ser aprendido!

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10 março 2013

Tempo de partir



Hoje foi tempo de partir.
Deixar para trás as raízes que foram crescendo
e, com elas, deixar bocados de ser e de sentir.
Deixar para trás o que não importa.
Ter de deixar o que importa, também...

Hoje foi tempo de partir.
E foi tempo para guardar cada passo dos caminhos velhos, bem conhecidos do nosso andar.
De relembrar cada rua, cada cara, cada cheiro, tantas conversas e sorrisos...
Foi tempo de juntar cada pedacinho das memórias.
E de respirar tudo como se fosse a última vez... Será?

E agora, que o tempo de partir chegou,
resta tentar que a novidade de cada dia equilibre o peso das saudades...
Porque hoje foi tempo de partir.
E já está partido o coração...

Será que o tempo o reconstituirá de novo?

...

Será?


(Marina)




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Ide  tranqüilamente entre o tumulto e a pressa 
e lembrai-vos da paz que pode existir no silêncio.

Sem alienação, vivei tanto quanto possível em bons termos com todas as pessoas.

Dizei calma e claramente vossa verdade, e ouvi os outros, mesmo o pobre de espírito e o ignorante; eles também têm sua história.

Evitai os indivíduos barulhentos e agressivos, eles são um insulto para o espírito.

Não vos compareis com ninguém: correríeis o risco de vos tornar vaidosos.  Sempre há alguém maior e menor que vós...

Desfrutai vossos projetos assim como vossas realizações, sede sempre interessados em vossa carreira, por mais modesta que seja: é uma verdadeira posse nas prosperidades mutáveis do tempo.

Sede prudentes em vossos negócios, porque o mundo está cheio de malícias.

Mas não sejais cegos no que concerne à virtude que existe: vários indivíduos buscam os grandes ideais e em toda parte a vida é repleta de heroísmo.

Sede vós mesmos.

Sobretudo não simuleis a amizade!

Tampouco sede cínicos no amor, porque em face de qualquer esterilidade e de qualquer desencanto ele é tão eterno quanto a relva...

Aceitai com bondade o conselho dos anos renunciando com graça a vossa juventude.

Fortalecei a prudência de espírito para vos proteger em caso de infortúnio repentino.

Mas não vos aborreçais com quimeras! Numerosos temores nascem da fadiga e da solidão...

Para lá de uma disciplina sadia, sede ternos convosco mesmos.

Sois filhos do universo, tanto quanto as árvores e as estrelas: tendes o direito de estar aqui...

E, percebais ou não, o universo se desenrola sem dúvida como deveria.

Estai em paz com Deus, qualquer que seja vossa concepção dele e, quaisquer que sejam vossas obras e vossos sonhos, guardai no desconcerto ruidoso da vida a paz em vossa alma.

Com todas as suas perfídias, as suas tarefas fastidiosas e os seus sonhos desfeitos, o mundo é belo!

Prestai atenção...

Tratai de ser felizes.


(Autor desconhecido - texto encontrado em uma velha igreja de Baltimore em 1692. )


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Um pouco de Victor Hugo...



O espírito se enriquece com aquilo que recebe; o coração, com aquilo que dá.

(Victor M. Hugo)

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