"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

17 outubro 2014

Carta do futuro - escrita no ano 2070


Estamos no ano 2070 e acabo de completar os 50 anos, mas a minha aparência é de alguém de 85.

Tenho sérios problemas renais porque bebo pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas nesta sociedade.

Recordo quando tinha 5 anos.

Tudo era muito diferente. Havia muitas árvores nos parques, as casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por cerca de uma hora.

Agora usamos toalhas em azeite mineral para limpar a pele. Antes todas as mulheres mostravam a sua formosa cabeleira.

Agora devemos raspar a cabeça para mantê-la limpa sem água.

Antes o meu pai lavava o carro com a água que saía de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que a água se utilizava dessa forma.

Recordo que havia muitos anúncios que diziam CUIDE DA ÁGUA, só que ninguém lhes ligava; pensávamos que a água jamais podia terminar.

Agora, todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados. Antes a quantidade de água indicada como ideal para beber era oito copos por dia por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo.

A roupa é descartável, o que aumenta grandemente a quantidade de lixo; tivemos que voltar a usar os poços sépticos (fossas) como no século passado porque as redes de esgotos não se usam por falta de água.

A aparência da população é horrorosa; corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas, já que não temos a capa de ozônio que os filtrava na atmosfera.

Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados.

As infecções gastro-intestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.

A indústria está paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessalinizadoras são a principal fonte de emprego e pagam-te com água potável em vez de salário.

Os assaltos por um galão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética. Pela ressequidade da pele uma jovem de 20 anos parece como se tivesse 40.

Os cientistas investigam, mas não há solução possível. Não se pode fabricar água. O oxigênio também está degradado por falta de árvores o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.

Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos, como consequência há muitos meninos com insuficiências, mutações e deformações.

O governo já nos cobra pelo ar que respiramos: 137m3 por dia por habitante adulto. As pessoas que não pode pagar são retiradas das "zonas ventiladas", que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos que funcionam com energia solar, não são de boa qualidade mas pode-se respirar, a idade média é de 35 anos.

Em alguns países existem manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército.

A água é agora um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro ou os diamantes.

Aqui já não há árvores porque quase nunca chove, e quando chega a registrar-se uma precipitação, é de chuva ácida; as estações do ano tem sido severamente transformadas pelos testes atômicos e da industria contaminante do século XX.

Advertiam-se que havia que cuidar o meio ambiente e ninguém fez caso.

Quando a minha filha me pede que lhe fale de quando era jovem descrevo o bonito que eram os bosques, a chuva, as flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse, o quão saudável que as pessoas eram.

Ela pergunta-me: "Papai, porque acabou a água?" Então, sinto um nó na garganta; não posso deixar de sentir-me culpado, porque pertenço à geração que destruiu o meio ambiente ou simplesmente não tomamos em conta tantos avisos.

Agora os nossos filhos pagam um preço alto e sinceramente creio que a vida na Terra já não será possível dentro de muito pouco tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.

Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreendesse isto quando ainda podíamos fazer alguma coisa para salvar o nosso Planeta Terra!



(Extraído da revista biográfica "Crónicas de los Tiempos")



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"Por que existem dias e pessoas que a gente jamais esquece.”

(in "Dias eternos", de Junior Buffoni)


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13 outubro 2014

Dica de vídeo: "O Comando Asthar e sua missão na Terra" - Prof. Laércio Fonseca


Com uma linguagem simples e de fácil entendimento, o prof. Laércio Fonseca nos mostra quem na verdade é o grande comando planetário Asthar, para que possamos compreender melhor sua atuação junto à humanidade, junto ao projeto Terra e às trocas de comandos planetários a ser executada durante os períodos da transição planetária.


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Os Homens — estes, sim — deveriam lamber os seus cães


Para o meu cão, deixo o mundo: osso duro de roer. Para o mundo-cão, deixo um esqueleto no armário: resquícios do poeta que minguou em mim.

Para os grande cânions, deixo pequenas demonstrações de desespero: os meus latidos de inconformismo a ecoarem, a ribombarem contra as rochas e confundirem os ecos.

Para ondas e correntes, deixo as minhas braçadas rio acima.

Para o jardim de inverno, deixo os tais sonhos de uma noite de verão. Vocês verão — prezados lírios — que, de tão simplórios, até poderiam ser chamados delírios, ao invés de sonhos.

Para o pó da estrada, deixo mais que as pegadas. Deixo histórias para serem contadas sem muito entusiasmo, mas também sem histeria, pois de exageros já basta ter nascido.

Para a lua cheia, deixo a denúncia vazia de que São Jorge caiu do cavalo e não virá essa noite para o jantar, a fim de matar dragões. Por outro lado, aquele faminto séquito de poetas permanecerá sentado nos banco das praças desta cidade, colocando as suas vidas em risco (a violência urbana está mesmo de matar), ansiosos por inspirações incríveis dignas de uma noite enluarada.

Para os céticos convictos — parceiros de muito pragmatismo e solidão nas confraternizações familiares — deixo amuletos em prol da assepsia de demônios. Mas que não dêem a eles o menor crédito, nem mesmo a este testamento, que foi escrito sob a égide de uma profunda, lamentável condição humana.

Para as mulheres que amei, deixo tudo aí como está: gonococos, lábios que beijei, doces recordações e um ligeiro grau de indelicadeza ao dizer adeus.

Para os cães emocionados que lambem os seus donos como se não houvesse amanhã, deixo a minha admiração irrestrita. Os homens é que deveriam lambê-los.

Para os melhores amigos deixo meus piores defeitos. E vamos ver mesmo quem é que vai aguentar.

Para os meus desafetos, deixo uma distância segura que nos conservará diferentes e felizes.

Para o biógrafo decadente, deixo pistas falsificadas que o conduzirão a um ser humano probo e admirável que, certamente, não serei eu, mas um personagem fotogênico que merecerá tese, discurso, inclusive um busto na praça, e toda aquela gama de excrementos que um bando de pombos incontinentes possa evacuar.

Por sinal, deixo às pombas da paz as minhas ameaças de guerras interiores.

Para os soldados em campo, deixo as minas dos meus subterrâneos, uma explosão de sentimentos que fará aquela famosa Rosa de Hiroshima parecer uma reles erva daninha no canteiro.

Para o governo local, deixo os neurônios desgovernados que furtei de um poema.

Para os senhores da Receita, deixo os porcos, as pérolas, todas as minhas economias, inclusive os beijos e afagos que soneguei. Multem-me, arrestem os meus bens, mas — para o seu próprio bem — não repitam os meus equívocos!

Para os exorcistas, deixo as portas destrancadas. Não haverá resistência.

Para os homens de fé, deixo o crucifixo de bronze que usava para coçar as costas, e velas de sete dias para assar marshmallows.

Para doutores da alma, deixo picanhas no freezer.

Para Deus, o meu perdão.



(Por Eberth Vêncio, em COLUNISTAS)








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Aniversário


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui…
A que distância!…
(Nem o acho…)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes…
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio…

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos…
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim…
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!


(Fernando Pessoa)



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Casa Arrumada



Casa arrumada é assim:

Um lugar organizado, limpo, com espaço livre pra circulação e uma boa entrada de luz.

Mas casa, pra mim, tem que ser casa e não um centro cirúrgico, um cenário de novela.

Tem gente que gasta muito tempo limpando, esterilizando, ajeitando os móveis, afofando as almofadas…

Não, eu prefiro viver numa casa onde eu bato o olho e percebo logo:

Aqui tem vida…

Casa com vida, pra mim, é aquela em que os livros saem das prateleiras e os enfeites brincam de trocar de lugar.

Casa com vida tem fogão gasto pelo uso, pelo abuso das refeições fartas, que chamam todo mundo pra mesa da cozinha.

Sofá sem mancha?

Tapete sem fio puxado?

Mesa sem marca de copo?

Tá na cara que é casa sem festa.

E se o piso não tem arranhão, é porque ali ninguém dança.

Casa com vida, pra mim, tem banheiro com vapor perfumado no meio da tarde.

Tem gaveta de entulho, daquelas que a gente guarda barbante, passaporte e vela de aniversário, tudo junto…

Casa com vida é aquela em que a gente entra e se sente bem-vinda.

A que está sempre pronta pros amigos, filhos…
Netos, vizinhos…

E nos quartos, se possível, tem lençóis revirados por gente que brinca ou namora a qualquer hora do dia.

Casa com vida é aquela que a gente arruma pra ficar com a cara da gente.

Arrume a sua casa todos os dias…

Mas arrume de um jeito que lhe sobre tempo pra viver nela…

E reconhecer nela o seu lugar.



(Carlos Drummond de Andrade*)




*autoria não confirmada





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08 outubro 2014

Dica de vídeo: "Reação de uma criança ao sentir a chuva pela primeira vez"


Lindo........

Talvez a água que cai das nuvens seja como brasa quando toca a pele de uma pessoa sem sonhos e imaginação.
Só isso explica o amor das crianças pelos banhos de chuva, e o amor dos adultos pelos guarda-chuvas.


(Luiz Gustavo Retzlaff)


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É preciso voltar


É preciso voltar. E a gente sempre volta.
Volta das férias, volta das batalhas, volta no tempo ao sentir um perfume, volta a ser criança com as crianças, volta a ser racional quando a loucura pensa que é dona da casa...
A gente volta, porque voltar não é retroceder, é se reencontrar nas partidas para se descobrir em novos caminhos...

(Mara Holzner)



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Dica de vídeo: "A História da LEGO"


Vale a pena conferir!