"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

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08 outubro 2010

A onda espírita no cinema



 Se você tem a impressão de ouvir falar muitas vezes sobre espiritismo ultimamente, saiba que não é mera coincidência a frequência crescente das citações. Pode-se dizer que há um levante espírita em curso no entretenimento brasileiro, coroado agora pelo êxito comercial de Nosso Lar, filme brasileiro que estabeleceu o recorde de levar mais de 3 milhões de espectadores aos cinemas em apenas três semanas e acumula quase 1,7 milhão de bilhetes vendidos nos primeiros dez dias em cartaz, desde a estreia em 3 de setembro.

O caminho tem sido pavimentado nessa direção desde pelo menos 2008, quando Bezerra de Menezes – O Diário de um Espírito levou mais de 500 mil espectadores aos cinemas, a partir de um orçamento modesto de R$ 2 milhões (Nosso Lar custou dez vezes mais), levantado pela produtora cearense independente Estação da Luz Filmes.


A Globo Filmes detectou o movimento mais ou menos subterrâneo e se associou à Estação da Luz na produção de Chico Xavier, que estreou em abril deste ano, demorou oito dias para vender 1 milhão de ingressos e levou ao cinema até hoje 3,4 milhões de espectadores. O espiritismo avançou também na tela da TV Globo,através da novela das 18h, Escrito nas Estrelas.

O médium mineiro Chico Xavier (1910-2002) é referência presente nos três filmes, principalmente na dramatização homônima dirigida por Daniel Filho e protagonizada por Nelson Xavier e Ângelo Antônio. Um dos espíritos que ele afirmava guiá-lo era o do médico e político cearense Bezerra de Menezes (1831-1900), que se tornaria um militante espírita do século XIX. Xavier aparece em pessoa ao final de Bezerra de Menezes, recebendo mensagens do mentor morto. E Nosso Lar é baseado em livro homônimo atribuído ao espírito André Luiz, mas lançado por Chico Xavier – o médium escreveu 412 livros baseados na psicografia, ou seja, na transcrição de mensagens enviadas pelos mortos.

 O êxito acumulado dos três filmes prenuncia uma avalanche de produções de temática parecida. O diretor de Nosso Lar, Wagner de Assis, fala de adaptar Os Mensageiros, também psicografado por Xavier. Um dos produtores de Chico Xavier, Tomislav Blazic, trabalha na adaptação cinematográfica de Ninguém É de Ninguém, da escritora espírita Zíbia Gasparetto. E a Estação da Luz já tem mais duas produções filmadas, As Mães de Chico Xavier e Área Q, que devem estrear em 2011.

Ponta-de-lança da voga espírita no cinema, essa produtora é braço cinematográfico da Associação Estação Luz. Essa ONG, fundada em 2004 no município cearense de Eusébio, esteve envolvida em controvérsia há um ano, ao captar recursos do Fundo Nacional de Cultura, do Ministério da Cultura (o MinC), que acabaram utilizados na realização da 3a Marcha Nacional da Cidadania pela Vida, na prática uma manifestação contra o aborto. Quando o caso foi revelado pela Folha de S.Paulo, o MinC determinou a devolução dos recursos pela Estação da Luz.

Dirigido por Glauber Filho (que foi presidente da TV Ceará, rede pública local) e Joe Pimentel (da produtora Trio Filmes), Bezerra de Menezes não trata de aborto, mas é explícito quanto ao tema em seu desfecho, quando um letreiro avisa: “Este filme é dedicado às milhares de vítimas de aborto provocado”. No mais, narra a trajetória do personagem interpretado por Carlos Vereza de modo sisudo, privilegiando os embates do espiritismo com a Igreja Católica e a intelectualidade. O tabu do suicídio também é referido de passagem, como “aquele que é considerado o crime mais afrontoso ao Criador”.

A repulsa ao suicídio, por sinal, é um dos fios condutores centrais de Nosso Lar. Desregrado e despreocupado com a própria saúde, o médico André Luiz (Renato Prieto) morre e é conduzido ao purgatório (chamado no filme de “umbral”), um pântano escuro e povoado por homens e mulheres maltrapilhos e dilacerados, em cenas que evocam vagamente o videoclipe "Thriller", de Michael Jackson. André sofre todo tipo de privação no umbral, antes de ser resgatado para o paraíso, batizado de “nosso lar”. Ali, descobrirá que passou pelo purgatório por ser um suicida, ainda que inconscientemente. Ao assimilar o proselitismo pelo trabalho incansável e ininterrupto e pela dedicação ilimitada aos outros espíritos, ele completará sua admissão ao “nosso lar”, até futura reencarnação.

O purgatório e o céu materializados na tela grande pelo diretor Wagner de Assis dá a Nosso Lar tom mais fantasioso em comparação aos outros filmes. O espírito de André passa primeiro por um ambiente hospitalar, depois por um campo verde entre nuvens (o purgatório escuro fica na periferia do paraíso), enfim pelo lar definitivo. Trata-se de uma cidade feita de gramados, casas tipo condomínio norte-americano, prédios à moda de Oscar Niemeyer e veículos futuristas de transporte – em diversas cenas, faz lembrar o parque Ibirapuera, ou o plano-piloto de Brasília. Os espíritos mais devotados são promovidos e comandam grandes ministérios, em simbologia análoga à dos governos políticos cá da Terra.

Nosso Lar não cita o catolicismo ou outras religiões, nem as relações entre o espiritismo e a mídia expostas por Daniel Filho em Chico Xavier. Prefere se deter exclusivamente na doutrina espírita, sob trilha sonora etérea composta especialmente pelo norte-americano Philip Glass (na cinebiografia de Daniel Filho, o compositor Egberto Gismonti foi o encarregado da trilha). De certo modo, pode-se perceber uma escalada na sequência formada por Bezerra de Menezes (a luta pela aceitação do espiritismo), Chico Xavier (a conquista de notoriedade) e Nosso Lar (o espiritismo em si).

Além do evidente interesse comercial e de nutrir espectadores sedentos pelo tema, a atual onda espírita vem trazer holofote àquelas práticas religiosas para além dos circuitos habituais, muitas vezes subterrâneos para o resto da sociedade. De quebra, provoca algo como uma saída do armário da crença e de alguns de seus praticantes. Dos diretores em questão, apenas Daniel Filho não se assume como espírita. Alguns dos atores envolvidos dão depoimentos públicos sobre suas devoções, casos de Carlos Vereza, Ana Rosa (presente nos três filmes) e Paulo Goulart (que interpreta um ministro em Nosso Lar e o entrevistador do programa Pinga-Fogo em Chico Xavier).

A presença de membros da família Goulart nas três produções remete a outra época do cinema nacional, quando foi lançado o bem mais modesto Joelma, 23º Andar (1979), de Clery Cunha. O filme dramatizava o incêndio do edifício Joelma, ocorrido em São Paulo, em 1974, sob o ponto de vista de uma jovem médium que morria no acidente e vinha tranquilizar sua família após a morte.


Lucimar era interpretada pela então adolescente Beth Goulart, que décadas depois, nos extras do DVD de Joelma, se pronuncia espírita e fala da concordância da família da Lucimar verdadeira com o filme. A história de Joelma, 23º Andar se baseava no livro Somos Seis, mais uma psicografia do onipresente Chico Xavier, e na época esteve longe de reanimar o cinema nacional.
(Fonte: www.ultimosegundo.ig.com.br)

18 setembro 2010

Filmes espiritualistas


O que “Nosso lar”, com seus mais de um milhão de espectadores em menos de uma semana, e “Chico Xavier”, que levou mais de 3 milhões de pessoas ao cinema, têm em comum, além de serem sucessos de público?
Acertou quem disse uma temática espírita, que mostra um contato entre o mundo dos vivos e o dos mortos, através de um médium.
Para mostrar que os filmes além da vida sempre fizeram sucesso, selecionamos dez que, de um modo ou de outro, mostram espíritos tentando se comunicar com os vivos.
Às vezes, eles usam o modo tradicional, como em “Ghost - Do outro lado da vida”, mas há casos em que a tecnologia é o caminho escolhido, como em “Ringu”.
Há histórias de amor, suspenses, terror, cinebiografias e até adaptações de outras obras de Chico Xavier. Não é a intenção acabar com as propostas, mas incentivar a discussão.


'Ghost' 

"Ghost - Do outro lado da vida" (1990)

Sam Wheat (Patrick Swayze) e Molly Jensen (Demmy Moore) são o típico casal perfeito. Até que Sam é morto em um assalto e Molly fica desolada. Com saudade do amado, ela procura ajuda de uma médium picareta (Whoopi Goldberg, que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante pelo papel) que, inexplicavelmente, começa a realmente falar com o “outro lado da vida”. É inesquecível a cena em que Sam, incorporado na médium, dança com Molly.


'Sexto sentido'

"Sexto sentido" (1999)

“Eu vejo gente morta.” A frase imortalizada pelo então menino Haley Joel Osment, na pele do atormentado Cole Sear, saiu do filme para entrar no cotidiano. No filme que projetou a carreira do diretor M. Night Shyamalan, Bruce Willis é um psicólogo que tenta ajudar pessoas que passaram por traumas e que encontra o garoto, arredio porque ninguém acredita nele. O filme ficou famoso pela construção cuidadosa do suspense num ambiente assustador, levando o espectador a não saber o que vai acontecer em seguida. Muito menos no final.


'Bezerra de Menezes'

"Bezerra de Menezes – O diário de um espírito" (2008)

O pequeno filme cearense que começou a onda espiritual no cinema brasileiro fez mais de 300 mil espectadores, mesmo tendo poucas cópias para rodar o circuito. No longa, a história do médico cearense, que, tendo vivido a infância e a adolescência no sertão, migrou para o Rio de Janeiro, se elegendo até vereador e deputado. Mas seu trabalho mais famoso foi em prol dos desfavorecidos, além da propagação da doutrina espírita pelo país.



'Além da eternidade'

 "Além da eternidade" (1989)

Neste filme de Steven Spielberg, Pete Sandich, vivido pelo sumido Richard Dreysfuss, é o melhor piloto-bombeiro que há no grupo, abusando da capacidade e da sorte com manobras desnecessárias que assustam a namorada, interpretada por Holly Hunter, e os companheiros. Em uma de suas missões, após salvar seu melhor amigo (o também sumido John Goodman), seu avião pega fogo e explode. Morto, ele encontra um anjo (vivido por Audrey Hepburn, em seu último papel no cinema), que explica que a sua função agora é exatamente ajudar outros pilotos quando eles mais precisarem, como uma espécie de anjo da guarda. Claro que o piloto “apadrinhado” é tão irresponsável quanto ele e se apaixona pela sua ex-namorada. Mas, como anjo, ele só tem a ajudar, nunca atrapalhar.



Detalhe do cartaz de 'Ringu'

 "Ringu" (1998)


Primeiro de uma série de filmes sobre o assunto, que rendeu remakes até americanos, o filme do japonês Hideo Nakata é um terror sobrenatural, em que a tecnologia faz o contato entre o mundo dos vivos e dos mortos. Uma jornalista investiga uma série de mortes envolvendo uma lenda em que quem assistir a uma determinada fita de VHS a uma hora específica vai receber um telefonema e, em uma semana, morrerá. De assustar até os mais incrédulos.



Javier Bardem em cena no longa 

"Biutiful" (2010)


No filme o espanhol Javier Bardem é um médium que ajuda parentes pobres dos mortos a receber as últimas mensagens dos que partiram. Pai de duas crianças e sofrendo com a separação da ex-mulher, ele é obrigado a repensar a vida quando recebe a notícia de que está com um câncer em estágio terminal e só tem mais alguns meses pela frente. Por conta do seu papel, Bardem ganhou o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes esse ano.



'O mistério da libélula'


"O mistério da libélula"(2002)


Kevin Costner é Joe Darrow, um médico de luto por causa da morte da esposa, Emily (Susana Thompson), em um acidente de ônibus na Venezuela. Exausto de trabalhar para tentar esquecer a mulher, Joe começa a acreditar que recebe mensagens do além, através dos desenhos dos ex-pacientes da esposa e em casa, por meio de imagens de libélulas, a marca de nascença de Emily. Acossado por essas aparições, ele decide visitar o lugar onde a mulher morreu e lá tem uma grande surpresa.



'Um olhar do Paraíso'


"Um Olhar do Paraíso" (2009)


Esta adaptação do livro homônimo de Alice Sebold narra a vida de uma família após o brutal assassinato de sua filha adolescente pelas mãos de um vizinho. Por causa do trágico incidente, a garota passa a observar seus parentes, em profunda dor, a partir de seu particular limbo, pois se nega a aceitar sua morte e a dar o passo definitivo ao além. Seu espírito consegue se conectar com seu pai, que sente ter fracassado no momento de proteger a filha. A partir daí, decide começar a investigar os vizinhos para descobrir a verdade e dar à menina o descanso eterno.



'Amor além da vida', imagem da capa do DVD


"Amor além da vida" (1998)


Aqui, Chris Nielsen (Robin Williams) e Annie Nielsen (Annabella Sciorra) também têm uma família perfeita. Mas, aos poucos ela vai se despedaçando, após a morte dos filhos e, anos depois de Chris. Annie, que já tinha sentido a morte dos filhos, fica completamente perdida com a morte do marido, e decide cometer suicídio. Chris, então, sai do paraíso, para onde tinha ido, para buscar a amada no inferno. O curioso desse filme é que os mundos além da vida são retratados como se fossem as pinturas de Annie.



'Joelma, 23º andar', detalhe da capa do DVD 
"Joelma, 23º andar" (1980)

Considerado o primeiro filme espírita brasileiro, este longa foi baseado em outra obra do médium Chico Xavier: “Somos seis”. A trama fala sobre a tragédia do edifício que dá nome ao filme, onde, em 1974, houve um incêndio causando a morte de 179 pessoas e deixando mais de 300 feridos. Lucimar (Beth Goulart) trabalhava no prédio e morreu no acidente. Sua mãe entra em depressão com a partida da filha e é aconselhada a procurar o famoso médium para saber se sua filha está bem.
  (fonte: G1)