"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

11 maio 2011

A velhice do tempo



Novos tempos transcorrem.

Esperados por místicos, religiosos de todas as correntes, esotéricos e mesmo presumidos agnósticos, materialistas e ateus.

O tempo, tido como apenas um conceito pela maioria, e como uma dimensão pela minoria que reflete um pouco mais, passa,
carregando consigo o novo e deixando para trás o que envelheceu. Ficou para trás também o século mais violento e tumultuado da história humana na Terra.

Muita coisa deverá mudar nos próximos anos em função da mobilização crescente das massas, cada vez mais conscientes de sua força transformadora - lembremo-nos da queda do muro de Berlim - e pela própria natureza das coisas.

Nada é estático, o dinamismo faz parte da estrutura do Universo físico e extrafísico, e só há uma coisa permanente no mundo: a mudança, como ensinava Heráclito, o filósofo grego na Antigüidade.

Apesar de tudo, ainda temos muito a aprender e mais ainda a fazer nesta fase de metamorfose planetária, quando a Terra deixa a categoria de um planeta de evolução primária (expiação e provas, como ensina a Doutrina Espírita) e eleva-se à condição de um mundo melhor, embora ainda muito imperfeito.

Um mundo de regeneração, segundo o Espiritismo.

Isso implica uma necessária separação das diversas categorias de Espíritos que vêm evoluindo neste planeta. Não será mais possível a convivência daqueles que aproveitaram melhor as oportunidades de aprendizado aqui, com os retardatários do progresso individual e coletivo que, de uma forma ou de outra, encarnados ou não, prejudicam, atrapalham ou mesmo impedem, a evolução pacífica dos demais.

Da Espiritualidade superior nos chegam notícias de que somente os seres melhorados continuarão reencarnando aqui. Os demais serão encaminhados para mundos compatíveis com sua condição moral-intelectual, de modo a serem úteis lá, já que aqui representariam atraso e entraves à caminhada da maioria, que já se cansou de tantas guerras, doenças e sofrimentos de todo o tipo, como forma de progredir.

Muitos já compreendem que podemos progredir sem os arrancos da dor, apesar de que ela estará presente ainda por muito tempo.

O século passado foi o mais violento da história conhecida.

Nele predominou, sem dúvida, o mal sob várias formas: tiranias, guerras, doenças, fome, miséria, ódios de classe, raça e crença.

Mas houve também um grande progresso nas diversas áreas tecnológicas e científicas, embora sem o correspondente e indispensável progresso ético-moral.

Um progresso excludente, criando condições de melhoria da vida material, mas somente para os que podem pagar por ela.

Um século paradoxal, típico dos períodos de transição. Nem sempre a desordem e o caos significam o colapso irreversível de uma civilização.

Sabemos que significam mudança iminente de modelo de vida, cada vez mais com ingredientes novos, como maior participação popular nas grandes decisões nacionais, o fim do nacionalismo exacerbado, das inúteis fronteiras políticas (permanecerão as econômicas?), a reincorporação de princípios éticos ao dia-a-dia das pessoas, a preocupação com o meio ambiente, a amenização ou cura de doenças com a utilização de recursos terapêuticos alternativos para fugir da atual medicina mercantilista e industrializada, que foge ao poder aquisitivo da maioria, e muitas coisas mais, fazendo com que acreditemos no futuro da vida e na perfectibilidade do homem.

Tem havido progresso na Terra - sem dúvida - apesar dos reveses, dos avanços e retrocessos e esporádicos períodos de relativa estagnação.

Na verdade, o homem, recém-saído da fase animal, ainda não sabe ser completamente homem e prefere brincar de deus (um exemplo é o caso dos transgênicos).

Isso nos tem levado a desastres econômicos, políticos e socioculturais, sempre de algum modo pedagógicos para nossa espécie.

Realmente, como ensina o Espiritismo, são os maus que ainda se sobrepõem, prevalecendo de sua ousadia e força, muitas vezes apenas pela fraqueza dos bons, que confundem mansidão com subserviência, humildade com servilismo, opção pela paz com omissão.

Os tempos novos são - por si mesmos - uma convocação geral para o trabalho de construção de uma vida melhor.

Não esperar mais a ação de governos e governantes porque, afinal, é fato que a administração pública de um modo geral faliu. Pelo menos dentro do modelo tradicional. Cada um pode e deve fazer uma pequena coisa em favor do próximo e do meio em que vive.

A sociedade e a mãe-Terra esperam a ação dos homens de boa vontade, em auxílio às leis que regem o Universo, num trabalho de co-criação e manutenção da vida em boas condições onde existir, e a criação dessas boas condições nas áreas onde elas ainda não chegaram, seja na favela, na aldeia indígena, nos guetos urbanos e rurais...

O momento psicológico é favorável e, portanto, não pode ser perdido. Os espíritas e espiritualistas em geral, podem e devem agir para tornar a era do espírito hegemônica, possibilitando a substituição dos modelos desgastados, esclerosados ou que não corresponderam ao que deles se esperava.

É preciso criar e ousar para que haja mudanças. O medo conduz à estagnação produzindo a dor que gera movimento.

Cada um certamente pode fazer alguma coisa. Alguns na atividade intelectual, sem cair na condição de teóricos de gabinete, outros na atuação prática, sem tornarem-se avessos ao estudo, ao planejamento, caindo no emocionalismo doentio.

Teoria e prática são os dois lados de uma mesma moeda. Um não existe sem o outro, apesar do que dizem alguns e do que pensam outros. Quem pensa age, pois o pensamento é energia construtora do bem ou do mal; quem age cria e materializa o pensamento. Vamos, pois, ao "bom combate".

(Paulo R. Santos)


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