O mito do herói, da pessoa que tem coragem para vencer todas as adversidades e superar todos os medos, que consegue penetrar em esferas até então desconhecidas para adquirir novos conhecimentos, que põe em risco a própria vida para salvar mesmo que seja uma única pessoa, sempre fascinou os homens de todas as culturas e de todas as épocas.
Quer nas antigas lendas, sagas e contos de fadas, quer na literatura e nos filmes atuais, assim como na religião, nas artes plásticas, na história, na política e na ciência, o ser humano que se arrisca no novo, no desconhecido e no extraordinário sempre desperta o maior interesse e a mais irrestrita simpatia.
E o herói nos fascina tanto porque resume em si todos os desejos e a figura ideal de cada ser humano.
Neste livro, Lutz Muller revela o verdadeiro caminho do herói — o caminho da individuação e da vida criativa; o caminho da mudança que, através da morte, leva a uma nova vida.
E, ao convidar o leitor a refletir sobre a história do seu herói preferido, mostra que esse caminho não está reservado a uns poucos escolhidos, mas que todos nós — homem ou mulher — nascemos para ser heróis.
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Abaixo um trecho do livro.
Recomendo a leitura!
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Há pouco vi na rua um jovem herói "cavalgando".
Um jovem de uns 10 anos caçava com as mãos livres, montado na sua bicicleta, ao longo do passeio, e fazia movimentos de montaria sobre o selim.
Na mão esquerda segurava um escudo imaginário e com a direita enfiava exasperado uma espada imaginária num adversário também imaginário — provavelmente, tratava-se de uma daquelas maravilhosas espadas mágicas que o tomava invencível.
Para isso ele produzia os respectivos sons de combate, imitando o tinir das espadas, os gemidos de força e os gritos de dor.
Estava tão envolvido na sua luta heróica que nem percebia as outras pessoas à sua volta.
Quando o vi, tive de rir.
Ele me lembrou minhas brincadeiras e fantasias de batalhas heróicas, nas quais na minha infância e adolescência — e, ainda hoje, de forma sublimada — abria caminho com a espada em punho: como eu sempre aparecia no último minuto no local da luta, envolto pelos toques da fanfarra e por uma luz brilhante, graças às minhas forças e habilidades em tudo dominar, mudava as coisas para melhor, e o júbilo das pessoas não conhecia fronteiras.
Sei também o quanto tinha necessidade dessa luta heróica, o quanto precisava dela para superar meus medos, suportar e compensar minhas mágoas e humilhações e conter a minha raiva.
Se já não existisse a imagem do herói vencedor, eu a teria inventado.
O herói representa, portanto, o modelo do homem criativo, que tem coragem para ser fiel a si mesmo, aos seus desejos, fantasias e às suas próprias concepções de valor.
Ele se atreve a viver a vida, em vez de fugir dela.
Ele supera o profundo medo diante do estranho, do desconhecido e do novo.
Trilha caminhos que, por um lado, tememos, mas que, por outro, percorreríamos prazerosamente em segredo: caminhos em esferas ocultas e proibidas do ser de difícil acesso; trata-se aí de países estrangeiros ou galáxias distantes, de fenômenos naturais incompreensíveis ou da escuridão da nossa alma.
A medida que ele não se deixa desviar do seu propósito pelas advertências de outros homens, nem pelos seus próprios medos e sentimentos de culpa, mantendo-se aberto e disposto a aprender, capaz de suportar conflitos, frustrações, solidão e rejeição, ele adquire novos conhecimentos e realiza ações que possuem uma força transformadora, não apenas em relação a ele, mas também à sociedade.
Ele representa características fundamentais de que precisamos para o domínio da vida e o embate criativo com a nossa existência.
Seu caminho é o caminho da auto realização. […]
Se não quisermos esperar mais tempo por novos heróis, que nos tragam a libertação dos nossos problemas individuais e coletivos, então podemos tentar nos dedicar a alguns dos nossos heróis interiores e a eles confiar a nossa orientação de vida.
Os antigos mitos podem servir primeiro como diretriz para descobrir e concretizar o herói para o qual nascemos.
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