"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

27 março 2013

Os outros e nós



1 - Tereza estava feliz no aniversário de Verinha e jamais imaginou que ali estava mudando seu destino. 
Foi apresentada à Norberto Xavier, moço simpático, falante que logo começa a seduzi-la.
Desse dia em diante os encontros se multiplicaram e Tereza confessa estar perdidamente apaixonada.
Seis meses depois cheia de planos começa a se organizar para morar com Norberto. 
A família analisa com ela a gravidade da decisão sem conseguirem que a moça mude sua decisão. Norberto tem emprego sólido, é sincero, atencioso com ela e com todos da família.
Quinze dias antes da mudança vem a notícia. Norberto desiste dos compromissos com Tereza. O mundo caiu, Tereza perdeu o chão, hoje permanece internada em clínica psiquiátrica da região para se reabilitar.


2 – Dona Geralda ficou viúva aos 68 anos após enfarte fulminante que levou subitamente o seu querido esposo, professor de matemática.
O dinheiro da aposentadoria é pouco e Dona Geralda continua ajuntando uns trocados na costura de camisas para uma fábrica vizinha.
Ha seis meses o sobrinho Diego foi lhe pedir dinheiro emprestado. Não custava nada a tia Geralda tirar seus cinco mil da poupança para que ele instalasse sua banca de jornais. 
Hoje, Dona Geralda recebeu a visita da cunhada, mãe de Diego. Era tudo uma farsa, Diego usou o dinheiro para gastos supérfluos e viajou para o Rio de Janeiro.
O cardiologista de Dona Geralda teve de aumentar toda medicação para controlar a pressão, respiração e urina da paciente fragilizada.



3 – Seu Carlos começa a assustar a esposa com seus esquecimentos. Não se lembra dos óculos, dos recados e do nome de parentes. Depois, passa a dormir o dia todo e queixar de leve dor de cabeça.
Foi levado a um médico que faz exames e dá um diagnóstico aterrador – existe um tumor maligno e seu Carlos terá muito pouco tempo de vida – a cirurgia não trará nenhum benefício e se a família aceitar a sugestão é melhor ir para casa e aguardar seu final.
Todos se desesperam sem rumo. As lágrimas escorrem num choro contido e soluçante.
Nisso, alguém faz um comentário – é melhor ouvir outra opinião – Dr. Arnaldo, médico mais velho e paciencioso, atende com calma e examina com cuidado os exames. Pede para repetir um deles e, na semana seguinte muda completamente o veredicto – é apenas uma inflamação e a cortisona vai produzir a cura.



4 – Seu João e Dona Zenaide vão até a imobiliária terminar os papéis de compra da casa. Um sonho que pretende concretizar com o dinheirinho que consegui guardar no trabalho árduo de pedreiro.
Mãos calejadas, cicatrizes nos braços, coluna arqueada pelo peso das latas de concreto. 
A felicidade de arranjar um lar que será seu é enorme. 
Tudo assinado, Seu Carlos faz o pagamento, assina as duplicatas e passa a aguardar a entrega das chaves.
Um ano depois chega a informação da Prefeitura, a casa é uma construção irregular, seu Carlos foi maldosamente enganado pelo corretor.
Terá de deixar para outra oportunidade seu antigo sonho. Ele na verdade não é proprietário de casa nenhuma.
Zenaide e Seu João estão hoje no postinho de saúde do município marcando consulta para controlar o diabete e a pressão.


Lição de casa:
Norberto Xavier destrambelhou os melhores sentimentos de Tereza.
Diego traiu a confiança da tia Geralda surrupiando a poupança da costura.
Um médico inescrupuloso quase arrebenta com o futuro de Seu Carlos.
Seu João e Dona Zenaide perdem todas economias que um corretor desbaratou com documentos falsos.
Maiores ou menores infrações que podem passar inconsequentes pela justiça humana – mas, as Leis Maiores exigirão de cada um o acerto de contas no momento certo.

(Nubor Orlando Facure)


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