"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

12 julho 2014

Dica de livro: “Vozes Esquecidas da Primeira Guerra Mundial” - Max Arthur


Uma nova história contada por homens e mulheres que vivenciaram o primeiro grande conflito do século XX A Primeira Guerra Mundial é um dos episódios mais marcantes na história da Humanidade.

Imagine esse conflito narrado não por um estudioso, mas pelas pessoas que o vivenciaram e sofreram durante muitos anos.

Tais relatos estão contidos em Vozes Esquecidas da Primeira Guerra Mundial, de Max Arthur, em associação com o Museu Imperial de Guerra britânico.

A idéia do livro surgiu em 1972, quando acadêmicos e arquivistas do museu começaram a procurar homens e mulheres que tinham sobrevivido à Primeira Guerra Mundial.

Vozes Esquecidas traz depoimentos dessas pessoas e de veteranos que lutaram por seus países.

O livro, com introdução de Sir Martin Gilbert, apresenta depoimentos de todos os tipos de cidadãos: soldados, costureiras, estudantes, políticos, dentre outros, e muitas fotos. Os capítulos estão divididos pelos anos da guerra (1914-1918).

É curioso e angustiante notar a diferença dos relatos do começo e do fim do livro: antes, esperança e certeza de um conflito rápido; depois, medo e incerteza quanto à sua duração.

Ed. Bertrand Brasil.


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Eis alguns trechos do livro:


Os ratos costumavam roer nossa ração à noite. Furavam qualquer coisa em que a acondicionássemos, a menos que fosse em um recipiente de metal. Mas os ataques de gás acabaram com eles. Certa vez, vimos dúzias e dúzias se arrastando de barriga pelo chão. Enfiávamos a ponta do pé embaixo deles e os jogávamos para dentro da vala. Apesar do gás, dois cisnes viviam na vala e subiram no parapeito sem aparentar nenhuma seqüela.

(artilheiro Leonard Ounsworth, 124ª. Bateria de Campanha Pesada)

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Os franceses tiravam as camisetas à noite e passavam a bainha perto da chama da vela que tínhamos nos abrigos, o que produzia uma série de estalidos. Matavam os piolhos assim e os tiravam da camisa. Achamos muito divertido vê-los fazer isso; estávamos livres de pragas a essa altura e não sabíamos o que eram piolhos. Na manhã seguinte, porém, estávamos cheios deles. Ficamos infestados de piolhos e passamos a ter a mesma distração dos franceses em seu problema com essa praga.

(soldado Murray, da 2ª. Divisão americana)


Estávamos recebendo novos recrutas de Londres, e certo dia nos enviaram dois jovens, entre 16 e 17 anos. Fazia apenas duas semanas que estavam conosco quando, de repente, tivemos de fazer um ataque.

Os dois jovens, quando souberam que faríamos esse ataque, caíram literalmente em choro convulsivo. (...) Quando nos lançamos ao ataque, nós os perdemos de vista, mas o fato é que eles já haviam debandado e foram pegos pela polícia militar a cerca de 4 ou 5 quilômetros de onde os combates estavam sendo travados.

Os dois jovens foram trazidos e postos bem no fim da formação, perto do oficial. Seus quepes foram tirados, e todas as insígnias do regimento foram arrancadas. (...)

Como os dois jovens haviam sido do meu pelotão, decidimos fazer um sorteio. Aqueles que fossem sorteados –quatro deles—sabiam o que teriam de fazer às 8h da manhã seguinte.

Na manhã seguinte, os dois jovens foram levados para um pátio vendados. Cada um dos quatro homens do meu pelotão que iriam fuzilá-los recebeu suas balas. Divididos em dois pares, disseram-lhes que cada qual deveria atirar em um dos rapazes. Um teria de atirar na cabeça, outro no coração. Portanto, tudo indicava que seriam mortos instantaneamente, como de fato foram.

(soldado William Holmes, 12º. Batalhão, Regimento de Londres)



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