"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

01 maio 2013

A Torre - W.B. Yeats



William Butler Yeats - muitas vezes apenas designado por W.B. Yeats, foi um poeta, dramaturgo e místico irlandês.

Nasceu em 13 de junho de 1865, em Dublin, Irlanda, onde se desenvolveu em um meio culto e criativo. 
Poeta e autor teatral, Prêmio Nobel (1923) de Literatura. 
Foi o representante máximo do Renascimento irlandês e um dos escritores mais destacados do século XX.
Yeats teve, ao longo de toda a sua vida, um interesse enorme pelo misticismo e pelo espiritualismo.

Deixo trechos de um de seus belos poemas para nossa reflexão...


*  



 "A Torre" 

[...]

Antes de chegar essa ruína, durante séculos,
Rudes guerreiros, com jarreteiras nos joelhos
Ou de ferro calçados, subiam as escadas estreitas,
E havia guerreiros cujas imagens
Na Grande Memória guardadas,
Chegavam aos gritos e ofegantes
Perturbando o sono daquele que dormia
Enquanto os seus grandes dados de madeira batiam no tabuleiro.

[...]

É tempo de fazer o meu testamento;
Escolho os homens que se erguem
Esses que sobem as correntes até
Às próprias fontes, e pela aurora
Lançam o anzol à berra
Da pedra que brota; declaro
Que herdem o meu orgulho,
O orgulho de quem
Nunca foi prisioneiro de Causa nem Estado,
Mas não aos escravos humilhados
Nem aos tiranos que humilham;
Sim às gentes de Burke e de Grattan
Que deram, podendo recusar —
Orgulho idêntico ao do amanhecer,
Quando se solta a temerária luz,
Ou o orgulho do corno fabuloso,
Ou do súbito aguaceiro
Quando secas estão todas as correntes,
Ou o orgulho dessa hora
Em que o cisne fixa o olhar
Num esplendor que se apaga,
Flutua num longo e derradeiro
Esforço pelas águas cintilantes
E canta a sua última canção.
E declaro a minha fé:
Rio-me do pensamento de Plotino
E grito na cara de Platão,
A morte e a vida não existiam
Até o homem tudo inventar,
Tudo conceber,
Tudo fazer com a sua alma amargurada,
Sim, e o sol e a lua e as estrelas; tudo,
E também a convicção de que,
Mortos, nos levantamos,
Sonhamos e assim criamos
Translunar Paraíso.
Fiz as pazes
Com sábias coisas italianas
E altivas pedras gregas,
Imaginação de poeta
E lembranças de amor,
Lembranças de palavras femininas,
Todas essas coisas de que
Um homem faz um sobre-humano
Sonho semelhante a um espelho.

[...]

Fé e orgulho deixo
Aos jovens que se erguem
E sobem a montanha,
Para ao romper do dia
Lançar o seu anzol;
Desse metal fui feito
Antes de o quebrar
Este ofício sedentário.

Agora edificarei a minha alma,
Exigindo-lhe estudo
Numa escola sábia
Até a ruína do corpo,
A lenta decadência do sangue,
Colérico delírio
Ou torpe decrepitude,
Ou os piores males que venham —
A morte dos amigos, ou a morte
Do brilho dos olhos
Que cortava a respiração —
Parecerem nuvens no céu
Quando o horizonte se desvanece;
Ou o sonolento grito de uma ave
Entre as sombras que se afundam.


William Butler Yeats 


(trad. José Agostinho Baptista. Para o livro: W.B.Yeats - Uma Antologia. Editora Assírio & Alvim - Lisboa, Portugal.)


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