"Nós não somos seres humanos tendo uma experiência espiritual. Somos seres espirituais tendo uma experiência humana"

(Teillard de Chardin)

18 maio 2013

Dica de livro: A Arte de Falar da Morte para Crianças, de Lucélia Elizabeth Paiva


                 
Como falar da morte com as crianças? 

Trata-se, sem dúvida, de um assunto delicado, mas que pode ser trabalhado de maneira muito didática por meio da literatura infantil. 

A autora propõe a utilização desse recurso como instrumento auxiliar para uma abordagem mais branda da vida e da morte, buscando o acalanto necessário no acolhimento às dores e aos sofrimentos humanos. 

Fruto da tese de doutorado defendida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), a obra é também um ótimo material de apoio para profissionais das áreas da saúde e da educação, assim como para os demais interessados no tema.


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Abaixo um pequeno trecho do livro:


Atualmente, a morte é colocada do lado de fora da vida, entretanto, ela está muito próxima.

Basta nos depararmos com a violência que encontramos nas metrópoles, envolvendo assaltos,
sequestros, acidentes e o anonimato.

Observamos também o medo aterrorizador das guerras e dos ataques terroristas em outros países divulgados diariamente pelos meios de comunicação.

Se olharmos com atenção a questão da saúde, notaremos mudanças que ocorreram com os avanços da Medicina.

Hoje, os idosos têm uma sobrevida maior; os pacientes acometidos por algum tipo de doença crônica, como o câncer, por exemplo, têm uma chance de cura e/ou de viver por mais tempo.

Além disso, indivíduos soropositivos para o HIV , que antes eram vistos como condenados, hoje passam a ter uma vida muito mais próxima do normal, por um tempo considerável, inclusive com chances de constituir família.

Por outro lado, temos como consequência muitos jovens e crianças que já perderam algum parente próximo ou até mesmo os pais vítimas do câncer ou da AIDS.

Perguntamo-nos: Como a morte é trabalhada com essas crianças e com esses jovens?

No caso da AIDS, há muitas crianças e jovens cujos pais são soropositivos, e em muitos casos eles próprios são soropositivos para a doença e têm que viver com essa condição, embora
ainda não estejam preparados para enfrentá-la.

Muitas crianças e jovens vivem e convivem com a doença, tendo sempre a morte como uma possibilidade muito presente, além de terem que lidar com o luto de pais, amigos e parentes
nessas condições.

Penso nas crianças que sofrem o estigma de conviver com essa “tarja preta” da orfandade da AIDS. 

Como constroem seu percurso e como lidam com a perda do(s) pai(s) por causa de uma doença que, socialmente, é vista como resultado de uma vida promíscua?

Comecei a refletir sobre a formação do indivíduo e, então, a percorrer a seguinte linha de pensamento: seria interessante que as várias mortes com as quais a criança se depara em seu
dia a dia pudessem ser trabalhadas, para que ela fosse preparada desde cedo a enfrentar esse tema.

Nesse contexto, o termo morte adquire um conceito bem mais amplo, abrangendo não só a morte física como também as mortes simbólicas, envolvendo perdas, dores e frustrações.

Ao longo da infância, a criança, muitas vezes, se depara não só com a morte de seu bichinho de estimação ou de uma pessoa importante, mas também com a separação dos pais (morte de
uma família constituída), a dor da diferença (sofrimento decorrente do fato de ser diferente) ou a impossibilidade de conseguir algo.

Tais frustrações, dores, perdas e mortes provocam sofrimento e dores psíquicas e, algumas vezes, levam a mudanças e reformulações na vida da criança.

Portanto, parto da premissa de que, com adultos que saibam compreender essas várias mortes, provavelmente a criança estaria mais bem preparada para enfrentar perdas.

Além disso, poderia elaborar o processo de luto com mais facilidade e, provavelmente, também conseguiria se relacionar melhor com as situações inevitáveis, sendo capaz de encarar a morte como algo que faz parte do processo do viver.


Editora: Idéias & Letras

Boa leitura!


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